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A Eletrobras (ELET3;ELET6) e a Neoenergia (NEOE3) anunciaram na sexta-feira (16) uma troca de ativos sem transferência de caixa, no valor total de R$ 787,8 milhões.
A Eletrobras receberá participação acionária de 51,5% nas usinas hidrelétricas (UHEs) Teles Pires (avaliada em R$ 333,8 milhões) e 51% da Baguari em troca de sua participação em outros quatro ativos: 49% da UHE Dardanelos (avaliada em R$ 784,5 milhões) e 0,04% nas unidades Coelba Distribuidora, Cosern Distribuidora e Afluente T (avaliada em R$ 2,6 milhões, R$ 604 mil e R$ 113 mil, respectivamente).
Com a operação, a Eletrobras disse que irá consolidar 872 megawatt (MW) de capacidade instalada, R$ 2,6 bilhões em dívida líquida e deve obter aumento anual de R$ 397 milhões na geração de caixa operacional medida pelo lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês).
Já a Neoenergia vê “impacto positivo em resultado com a consolidação de Dardanelos e melhora da alavancagem com maior recebimento de dividendos”, segundo apresentação.
A Eletrobras disse ainda que as transações estão alinhadas a seu objetivo estratégico de racionalização de participações, e resultarão em otimização societária. O fechamento das transações está sujeito à obtenção de anuências, como regulatórias, de credores e do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE).
No início deste ano, a Neoenergia mencionou a rotação de portfólio como uma opção para sua estratégia operacional, mas analistas do Credit Suisse esperavam que a empresa vendesse ativos (participações inteiras) para levantar caixa para novas oportunidades. Além disso, também aguardavam que a Eletrobras alienasse algumas unidades e se concentrasse em novos empreendimentos (renováveis, comercialização). Consequentemente, a transação é diferente das expectativas do banco.
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De qualquer forma, na avaliação do banco suíço, a troca de ativos parece razoável considerando as diferentes estratégias das empresas. Analistas acreditam que a Eletrobras pode operar e incorporar sinergias com grandes ativos hidrelétricos em seu portfólio. Eles também destacam os próximos movimentos estratégicos da Neoenergia, visando desalavancar a empresa e criar um portfólio mais renovável, embora observando a estabilidade do fluxo de caixa que a TermoP proporciona à empresa.
Sendo assim, Credit Suisse pondera que essa troca esteja mais relacionada ao uso de balanço e capacidades operacionais, já que para a Neoenergia as unidades de distribuição são ativos de valor central e Dardanelos é uma usina de margem mais alta e altamente contratada.
Já para a Eletrobras, segundo analistas, a Teles Pires é um ativo maior, com maior perfil de alavancagem e maior risco de preço (mais contratos no mercado livre, com níveis potencialmente menores); como consequência, a valorização nesta transação pode ser considerada atrativa (R$ 2 milhões por megawatt, MW, instalado). A avaliação implícita para os ativos de distribuição é melhor do que a incluída no modelos do banco; As avaliações de Dardanelos e Baguari estão praticamente em linha com as estimativas do Credit, enquanto estão abaixo para Telles Pires.
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Para o Morgan Stanley, a transação é positiva para otimização da estrutura empresarial da Eletrobras, embora a troca de ativos seja relativamente pequena.
O banco americano enxerga duas implicações principais para a Eletrobras: i) implicações aproximadamente neutras do ponto de vista de avaliação, já que os valores totais de troca foram relativamente semelhantes aos estimados pelo banco; ii) em termos de portfólio, dado o alto nível de contratação dos novos ativos adquiridos, o portfólio de energia consolidado da Eletrobras será um pouco mais contratado, o que é bem-vindo nas atuais perspectivas pessimistas para os preços de energia.
Para a Neoenergia, a transação deve ajudar a aumentar o Ebitda consolidado e o lucro líquido em aproximadamente R$ 130 milhões e R$ 30 milhões por ano, respectivamente , o que ajudar a reduzir a dívida líquida em R$ 100 milhões (ou -0,05 vez a relação entre dívida líquida/Ebitda), principalmente devido aos maiores dividendos da UHE Dardanelos.
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De acordo com a administração da Neoenergia, a transação está alinhada com a estratégia da empresa de otimização de portfólio e fortalecimento do balanço, que também foca na venda de participações minoritárias em ativos não controlados, no desinvestimento de suas usinas termelétricas e na busca de parceiros financeiros para seus ativos de transmissão.
Morgan Stanley permanece overweight em Eletrobras
Analistas do Morgan enxergam três drivers relevantes para o potencial de criação de valor da Eletrobras: i) Potencial turnaround operacional, que foi iniciado com o plano de aposentadoria voluntária; ii) Diminuição do risco, impulsionado por possíveis acordos sobre disputas legais que poderiam reduzir passivos contingentes em 15%; iii) Estratégia de comercialização de energia.
O banco americano mantém avaliação overweight (equivalente à compra), pois vê um potencial de valorização atrativo em relação ao preço-alvo de R$ 62 para as ações ordinárias da Eletrobras (ELET3), impulsionado pelos fatores mencionados acima.