Eletrobras: desdobramentos negativos, mas acordo com governo ainda está na mesa?

Companhia também publicou seu balanço na noite passada

Felipe Moreira

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Nos últimos dias, o fluxo de notícias tem sido bastante negativo sobre o esperado acordo entre a Eletrobras (ELET3) e o governo federal para colocar um ponto final no litígio movido no Supremo Tribunal Federal (STF) contra o limite de 10% dos votos que se aplica a todos os acionistas, que teve o prazo para uma conciliação prorrogada por mais 45 dias.

Para o BBI, resolver essa questão é obviamente de grande importância, não apenas para os acionistas da Eletrobras, mas também para o governo, para colocar fim a uma batalha jurídica que não tem vencedores.

Na véspera, o governo federal fechou uma operação com bancos para antecipar 7,8 bilhões de reais em recebíveis da Eletrobras com o objetivo de baixar a conta de luz, disse o ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira.

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O BBI disse não acreditar que a securitização com os bancos seja um acordo fechado ainda. Na visão do banco, o governo provavelmente está negociando com os bancos e um acordo pode ser alcançado nos termos descritos nas notícias (R$ 7,8 bilhões com um custo total de CDI + 2,2%).

Além disso, dentro da meta de antecipar o pagamento do imposto do setor de CDE, o governo está certo em falar com os bancos como uma alternativa a lidar diretamente com a Eletrobras, pois isso o ajudaria, de forma transparente, a enquadrar o risco da transação e definir uma taxa de custo e desconto justa (no final das contas, se um acordo com a Eletrobras eventualmente avançar, este seria um parâmetro necessário).

No entanto, analistas concluem que o apetite de cinco grandes bancos está limitado a securitizar apenas R$ 7,8 bilhões do total de CDE devido pela companhia, ficando aquém da meta presumida pelo governo de desembolsar um montante maior de R$ 20 a 25 bilhões, que supostamente faz parte da negociação com a Eletrobras, que, a propósito, tem o balanço para pagar esse valor total adiantado.

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O BBI ainda comenta que o efeito pode até sair pela culatra, no momento mais indesejável, mais perto do ano eleitoral. Isso porque para manter o efeito de redução nas tarifas de eletricidade, o governo teria que, a cada ano, injetar pelo menos uma quantia equivalente de fundos para mitigar o fundo setorial da CDE no ano fiscal de 2025, ano fiscal de 2026 (o ano eleitoral) e além.

“Caso contrário, tudo o mais mantido igual, em qualquer ano em que esses fundos não forem injetados, as tarifas aumentariam pela inflação do IPCA + a redução de 2% a 10% obtida com a securitização de R$ 7,8 bilhões”, explica o banco.

Nesse sentido, o BBI disse que conseguir uma injeção inicial maior do imposto setorial da CDE devido pela Eletrobras seria a solução, o que leva o banco a crer que, mesmo que o acordo com os bancos aconteça, o governo ainda terá incentivo para negociar com a Eletrobras.

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Já o o Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que o acordo com a companhia elétrica, incluindo uma troca de ações na qual o governo assumiria o controle total dos ativos de energia nuclear, não é atraente e, portanto, não apoiaria sua assinatura.

Por outro lado, o BBI disse que assumindo o valor justo dos ativos, a troca de ações não seria um acordo negativo para o governo.

Segundo o banco, o desafio seria determinar o valor justo dos ativos nucleares em si, mas o valor contábil do patrimônio de 100% da Eletronuclear é de cerca de R$ 11 bilhões, quanto a participação do governo na Eletrobras equivale a R$ 7,5 bilhões, o que pode servir como uma indicação.

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Resultados da Eletrobras

Nesta semana, a Eletrobras também divulgou seus resultados, com lucro líquido ajustado de R$ 615 milhões no segundo trimestre deste ano, queda de 25,8% em relação ao mesmo período de 2023. Sem ajustes, o lucro da empresa foi de R$ 1,743 bilhão, alta de 7,6%.

O Goldman Sachs comenta que os resultados operacionais vieram em linha com as expectativas, com o Ebitda regulatório ajustado (excluindo efeitos do IFRS e resultado de equivalência patrimonial) atingindo R$ 5,380 bilhões. O destaque operacional foi o despesas com Pessoal, Material, Serviços e Outros (PMSO), que continuou sua tendência de queda e agora está em R$ 6,3 bilhões anualizados (ajustado pelo IFRS), em linha com a meta da empresa de atingir cerca de R$ 5,5 bilhões nominais até 2026.

O banco americano mantém recomendação de compra e preço-alvo de R$ 54 para ação ordinária e de R$ 60 para papel PN.

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Já a XP Investimentos tem uma avaliação neutra dos resultados do 2T24 da Eletrobras e mantém recomendação de compra.

O Ebitda ajustado ficou abaixo das estimativas da XP, principalmente devido às margens brutas abaixo do esperado. Por outro lado, os números das despesas (Opex) foram positivos.

“Em relação ao balanço energético, também houve boas notícias com a empresa explorando melhores condições de mercado no trimestre e reduzindo significativamente sua exposição”, diz a XP.

Em suma, apesar de os resultados operacionais terem ficado abaixo de suas previsões, a XP destaca que houve vários desenvolvimentos positivos, mostrando que a Eletrobras está no caminho certo.