Eletrobras e Isa Cteep: o que muda para as empresas após venda de R$ 2,2 bi de TRPL4?

Eletrobras fez venda bilionária em ações da Isa Cteep, sendo mais um passo na direção da simplificação de ELET6; pressão pode seguir para TRPL4, mas com possíveis desdobramentos positivos depois

Felipe Moreira

Linhas de transmissão próximas a usina termelétrica. (Foto: REUTERS/Pavel Mikheyev)
Linhas de transmissão próximas a usina termelétrica. (Foto: REUTERS/Pavel Mikheyev)

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A Eletrobras (ELET3) anunciou a conclusão da venda de 93 milhões de ações que detinha na Isa Cteep (TRPL4), por um valor total de R$ 2,2 bilhões ou R$ 23,50 por ação.

Embora esse movimento não fosse inesperado, dada a intenção declarada da ex-estatal de vender participações em empresas listadas, o Goldman Sachs acredita que é um desenvolvimento positivo para a Eletrobras, pois representa mais um passo na direção da simplificação da estrutura corporativa e aumentará a liquidez da empresa, potencialmente justificando dividendos mais altos no futuro.

Para referência, a dívida líquida da Eletrobras era de R$ 43 bilhões e a alavancagem de 2,0 vezes no 1T24. O banco destaca que, após essa transação, a Eletrobras ainda detém cerca de 142 milhões de ações da Isa Cteep.

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Diante disso, o banco americano acredita que a empresa pode primeiro resolver algumas questões pendentes (possível antecipação da CDE, a Conta de Desenvolvimento Energético, e redução da participação de capacidade não contratada) antes de aumentar significativamente os dividendos.

Por outro lado, o banco listas os principais riscos negativos para a tese de investimento na Eletrobras, que incluem: i) alto nível de energia não contratada, atingindo uma média de 40% nos próximos cinco anos e 73% em 2029; ii) preços da energia, extensão dos benefícios para operadores de energia renovável e excesso de oferta de energia no curto e médio prazo; iii) atrasos na construção / capex maior do que o esperado para projetos de transmissão; iv) extensão do debate / novos cortes nos recebíveis do componente financeiro da RBSE; v) eventual construção da usina nuclear Angra 3, o que poderia levar a aumentos de capital na SPE Eletronuclear (a ELET possui cerca de 36% do capital votante e 68% do capital total); e vi) possível antecipação dos pagamentos da CDE da Eletrobras para o governo.

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O Goldman Sachs reitera recomendação de compra e preço-alvo de R$ 54 para ação ordinária (ELET3) e R$ 60 para ação preferencial (ELET6). O banco explica que o prêmio de 10% para ELET6 em relação a ELET3 é baseado na política de dividendos da empresa, que estabelece que o papel PN tem direito a um prêmio mínimo de 10% na distribuição de dividendos em relação à ELET3.

TRPL4: pressão no curto prazo, mas movimento positivo no longo?

Olhando para a TRPL4, os analistas do JPMorgan ressaltaram na semana passada (quando houve o anúncio da oferta de ações) que mantiveram a recomendação de venda e ainda veem pressão para os papéis, uma vez que a Eletrobras deve vender mais participações na transmissora no futuro.

Já nesta semana, a Nord Research apontou que, apesar da pressão em relação à operação da Eletrobras no curto prazo (não é possível determinar até quando será prolongada), tem uma visão construtiva para Isa Cteep no longo prazo.

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“A nossa recomendação é de compra para as ações TRPL4, até o preço-teto de R$ 27, patamar que ainda enxergamos boa assimetria para os acionistas obterem um bom rendimento via proventos (dividend yield aproximado de 8%). O papel, atualmente, é uma das principais posições do portfólio do Nord Dividendos”, apontou.

A Nord ressaltou que, com a confirmação da oferta, uma pressão de curto prazo nos papéis da transmissora já era esperada. Contudo, a saída da Eletrobras da base acionária da ISA Cteep tem um lado positivo, tendo em vista que o evento poderá melhorar a liquidez da companhia (mais da metade do free float estava com a ex-estatal atualmente).

“A ISA Cteep até poderia recomprar essas ações da Eletrobras, mas o movimento não estaria alinhado com seu plano de investimento, que prevê R$ 15 bilhões até 2028 para repor a ‘perda’ do RBSE (espécie de indenização paga pela Aneel) nos próximos anos”, aponta a Nord. A companhia tem sete principais projetos em construção, com capex total estimado em R$ 10 bilhões (os outros R$ 5 bilhões serão destinados a reforços e melhorias).