Eleições no Congresso podem impulsionar risco fiscal e curva de juros, com analistas monitorando força do governo

Para alguns especialistas, contudo, estrangeiros estão pouco interessados nas dinâmicas políticas brasileiras, amortecendo assim o impacto do pleito

Vitor Azevedo

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Nesta quarta-feira (1), senadores e deputados eleitos decidirão, em Brasília, quem ocupará  os cargos de presidentes das duas casas legislativas – Senado e Câmara dos Deputados – pelos próximos dois anos. Apesar de os nomes estarem praticamente definidos, investidores locais monitoram de perto os resultados, que podem impactar os ativos brasileiros.

A questão principal, de acordo com os especialistas, é que ambos os favoritos são apoiados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas o número de votos pode influenciar diretamente na força que governo terá para aprovar suas propostas no futuro.

Na Câmara dos Deputados, a reeleição de Arthur Lira (Progressistas) não tem grandes ameaças e é dada como certa. No Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), também atual presidente, é o grande favorito, mas enfrenta um perigo maior, com o ex-ministro Rogério Marinho, apoiado por Jair Bolsonaro, trazendo alguma intimidação.

“Na Câmara, Arthur Lira recebeu apoio do governo em uma disputa sem adversários. A composição feita evita desarranjos maiores, mas o governo ainda precisará ajustar pontos de atrito com a base que formou, principalmente em partidos como o União Brasil”, explica Paulo Gama, analista de política da XP Investimentos. “No Senado, o grupo de Marinho almeja, se não a vitória, conseguir uma votação acima de 35 votos, o que seria um sinal de que o governo precisará de esforço extra para avançar em suas pautas prioritárias, principalmente no caso da reforma tributária, que depende de quórum constitucional para a aprovação”.

Nas duas casas, porém, os placares das votações devem sinalizar a força que o governo petista, historicamente pouco responsável fiscalmente, terá.

Votações definirão força do Governo

Matheus Spiess, analista da Empiricus, vai na mesma linha. Para ele, Rodrigo Pacheco deve ganhar a corrida pela principal cadeira do Senado, mas uma votação apertada sinalizará fraqueza do governo petista e maior força da oposição.

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“Rodrigo Pacheco é favorito e a discussão é quão apertada a eleição dele será, por tem um concorrente da oposição. Em 2020 ele teve quase 60 votos, mas agora ele não deve ter essa mesma quantidade. Se ele tiver pouco mais do que o mínimo necessário, será uma indicação de que o governo terá dificuldades de realizar mudanças constitucionais. Caso Marinho eventualmente ganhe, daí, então, teremos um ambiente muito difícil”, debate o especialista da casa de research.

Nas duas casas, a dinâmica da relação entre a força governista e a quantidade de votos dos candidatos, no entanto, parece ser diferente.

Para a Câmara dos Deputados, a interpretação do analista é que Lira, apesar de ter o apoio do Governo, pode apresentar certa ameaça à Lula caso saia da eleição muito fortalecido.

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“Tudo indica que Lira pode ser eleito com mais de 400 votos, ante 302 na sua última eleição. Quanto mais votos ele tiver, mais força terá frente ao Executivo, seja para conseguir espaço nos ministérios ou para aprovar pautas de seu interesse”, comenta Spiess.

A análise é que, nos dois casos, o cenário mais positivo, mercadologicamente falando, seriam votações equilibradas, com os presidentes das duas casas “nem tão fortes nem tão fracos”.

“O ideal para o governo é que a vitória na Câmara não seja tão expressiva. Isso, talvez, traga um caminho melhor para o desempenho do mercado, com boa divisão das comissões, das mesas diretoras, e sem uma presença muito forte de partidos que são, historicamente, expansionistas no âmbito fiscal”, debate o especialista da Empiricus. “Algo no meio do caminho talvez seja o melhor dos mundos, pois não traça uma esterilidade política gigantesca do governo, equilibra os poderes entre base governista e oposição e dá viabilidade às aprovações de alguns temas importantes”.

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Ele relembra, por exemplo, que a PEC de Transição proposta pela equipe do presidente Lula foi minguada no Congresso – o que diminuiu a pressão na curva de juros e, decorrentemente, beneficiou a Bolsa brasileira.

Por o governo ser mais à esquerda, e menos responsável fiscalmente, forças contrárias mais fortes, representadas por Arthur Lira fortalecido na Câmara ou por alguma expressividade de Marinho no Senado, podem traçar que Lula não conseguirá avançar com pautas mais polêmicas.

“Um executivo fortalecido pode vir a questionar a independência do Banco Central a Lei das Estatais, caso a atuação desagrade. Isso seria negativo. Mas o mercado deve monitorar também se o PT conseguirá alcançar o consenso em discussões da Reforma Tributária e na nova Âncora Fiscal e, nesses casos, uma oposição exageradamente forte acaba inibindo uma discussão que pode ser boa”, defende.

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Todos esses assuntos, já atacados pelo petista, impactaram nos últimos meses o Ibovespa, o real e a curva de juros brasileira.

Ruído de curto prazo?

Enrico Cozzolino, sócio e head de análise da Levante, tem uma visão um pouco mais cética quanto ao impacto das eleições no Ibovespa.

“Independentemente das eleições, da definição de um ou de outro, não traz uma alteração estrutural daquilo que sempre vimos, historicamente, no Brasil. O debate político, as incertezas, a falta de insegurança jurídica”, debate. “Temos tentado olhar o Brasil muito mais pela ótica de investidores estrangeiros”.

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Em janeiro, apesar de todo o burburinho fiscal e da alta da curva de juros, o Ibovespa conseguiu avançar, impulsionado, principalmente pelo fluxo de capital internacional para as companhias de commodities, com investidores estrangeiros buscando exposição à reabertura chinesa.

“O gringo olha os fatores macro e, nesse ponto, nós ainda temos a maior taxa de juros real, uma relação de 74% entre dívida e PIB e ainda temos ativos descontados. Por fim, há a máxima dos exportadores de commodities”, comenta. “Sobre a ótica gringa, a decisão de hoje, por incrível que pareça, não é tão relevante”.