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SÃO PAULO – Em uma semana de tensões com a gigante chinesa do setor imobiliário Evergrande, de repercussão das decisões do Banco Central dos Estados Unidos e de uma nova elevação das taxas de juros aqui no Brasil, um assunto passou praticamente despercebido pelo radar de uma boa parte dos investidores, mexendo pouco com os índices do mercado de ações: as eleições na Alemanha. Neste domingo (26), os alemães vão às urnas escolher os novos congressistas que vão compor o parlamento do país, o Bundestag.
“Acho que se nós tivéssemos um movimento externo um pouco mais calmo e um cenário interno mais linear, os investidores aqui no Brasil até poderiam ter olhado para as eleições alemãs. Mas hoje tem muitas outras coisas acontecendo e muitos outros ruídos”, afirma Rodrigo Franchini, sócio da Monte Bravo.
Esse é um evento importante para ser monitorado. Afinal, depois de 16 anos, Angela Merkel vai deixar o cargo de chanceler, sendo que a votação do domingo será o primeiro passo para que seu sucessor (ou sucessora) seja definido.
A princípio, o fim da era Merkel não deve representar uma grande ruptura a ponto de mexer com os mercados, mas algumas mudanças pontuais estão no radar dos investidores globais quando o assunto é a eleição do domingo.
À frente das pesquisas está Olaf Scholz, atual vice-chanceler e ministro da Economia, o que representaria, teoricamente, uma continuidade ao governo Merkel caso fosse escolhido primeiro-ministro. Contudo, Scholz é considerado candidato de oposição por ser o representante do SPD (social-democrata), partido de centro-esquerda.
“O SPD na liderança implicaria em uma tendência mais expansionista na pauta fiscal alemã, principalmente depois da pandemia”, afirma Sol Azcune, analista política da XP. Dentre as propostas do partido de Olaf, estão o aumento do salário mínimo, elevação de impostos para os mais ricos e redução de carga tributária para famílias de média e baixa renda, além de regulações ambientais mais extensas.
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No partido de Merkel, o CDU (democrata-cristão), o candidato à sucessão é Armin Laschet, que aparece em segundo lugar nas pesquisas com uma diferença bem pequena em relação ao primeiro colocado. Suas propostas de campanha são mais conservadoras e austeras e têm mais a ver com a gestão que Merkel faz atualmente. Laschet é a favor da cautela fiscal em vez de elevar gastos públicos.
Novos partidos podem ganhar poder
Não é o resultado das urnas neste domingo que vai definir o novo chanceler. O voto popular escolhe somente os congressistas que vão ocupar assento no Bundestag e o número de cadeiras por partido. É improvável que uma só legenda consiga mais de 50% dos assentos, logo, os parlamentares precisam costurar alianças para indicar o novo primeiro-ministro.
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Em 12 dos 16 anos do governo Merkel, o partido da chanceler governou em coalização com o SPD. Porém, desgastes na relação entre os partidos, prometem um novo tipo de aliança este ano e que pode incluir o Partido Vede, da candidata Annalena Baerbock, terceira colocada nas pesquisas. Segundo Sol Azcune, isso implicaria em uma tendência levemente mais expansionista na seara fiscal e de consolidação da integração econômica e política com a Europa, além de maior peso para a agenda ambiental na região.
“Apesar das oscilações nas pesquisas eleitorais, as coalizões são certas e, no que depender do Verde, as políticas mais expansionista também, uma vez que os partidos que tomam frente parecem bem alinhados quanto a isso”, afirma Rodrigo Reis, diretor-executivo do Instituto Global Attitude e especialista em Relações Internacionais.
Na visão do Credit Suisse, a depender da aliança costurada entre os partidos, é provável que o fundo de 750 bilhões de euros para recuperar a economia europeia da pandemia de Covid-19 passe a ser permanente. “Um governo contendo tanto o SPD quanto os Verdes caminharia no sentido de uma política fiscal mais frouxa. E ambos os partidos são a favor de fazer o Fundo de Recuperação da União Europeia um mecanismo fiscal permanente”, diz o relatório.
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Sem polarização, investidores têm mais previsibilidade
Como o favoritismo de três partidos se mostra acirrado nas pesquisas, a eleição na Alemanha não é vista como uma disputa polarizada. “Os poderes estão mais divididos, são três partidos liderando as pesquisas com margens bem próximas, então nenhum deles deve ter algum tipo de controle máximo”, afirma Guilherme Zanin, estrategista-chefe da Avenue Securities.
Ele acredita que a eleição alemã não está fazendo preço nos mercados justamente por não haver uma perspectiva de mudança radical, o que dá mais previsibilidade aos investidores. Porém, lembra do papel chave do país para a comunidade europeia. “É a principal região em termos econômicos e uma mudança drástica de opiniões levaria todo o bloco europeu a ter a mesma atitude”, diz Zanin.
Ainda que o resultado da votação de domingo possa ser ofuscado por outras notícias, os investidores vão ficar atentos aos próximos passos para a escolha do novo chanceler. “Qualquer coalizão que não inclua um partido de extrema esquerda ou extrema direita indica políticas amplamente inalteradas. No entanto, é improvável que uma coalizão que inclua um partido mais extremado agrade os mercados, pelo menos no curto prazo”, diz relatório da gestora Julius Baer.
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