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Duas semanas após as eleições primárias na Argentina, que trouxeram uma liderança surpreendente do candidato libertário Javier Milei e causaram turbulência no mercado, analistas têm se debruçado sobre o que esperar para as próximas etapas do pleito.
Para traçar o panorama sobre a eleição e os possíveis impactos no mercado, o Bradesco BBI fez reuniões com os consultores políticos Ignacio Labaqui, professor de Política Latino-Americana na UCA, e James Bosworth, CEO da Consultoria Hxagon.
Ambos os analistas avaliam Javier Milei e Patricia Bullrich como os favoritos, enquanto o atual ministro da Economia Sergio Massa aparece atrás devido à atual deterioração econômica do país.
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Bosworth atribui 55% de probabilidade de Milei ser o próximo presidente da Argentina, 35% de que Bullrich vencerá a corrida e apenas 10% para Sergio Massa. No entanto, Bosworth vê apenas uma probabilidade de 20% de que um potencial governo Milei tenha um bom desempenho, com estabilidade política e macroeconômica.
Para os especialistas, é pouco provável que Milei mude a sua posição controversa e dura até uma eventual vitória; só a partir daí poderá estar aberto a uma coligação com o Juntos por el Cambio, bloco conservador encabeçado por Bullrich.
Além disso, mencionam que Milei é pragmático o suficiente para entender que suas reformas só podem ser implementadas com alto apoio no Congresso e de líderes/frentes sociais, apesar de seus comentários sobre a realização de plebiscitos não vinculativos em caso de resistência da oposição no Congresso.
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Já sobre os debates presidenciais (1º e 8 de outubro), Bullrich e Massa provavelmente adotarão estratégias de ataque um ao outro, mas Bullrich provavelmente não atacará Milei, segundo Labaqui.
Por outro lado, Massa provavelmente destacaria os potenciais cenários extremos e negativos dos planos de Milei, enquanto Milei manteria sua estratégia atual de criticar as elites políticas, ou mesmo de não participar de debates para evitar deslizes.
Os estrategistas também pontuam que a maioria das propostas de Milei precisaria da aprovação do Congresso (como a dolarização, privatizações e a eliminação do Banco Central).
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Uma forma de antecipar uma potencial moderação é analisar as opiniões dos conselheiros econômicos e dos aliados políticos de Milei, que já começaram a moderar.
“Existe um amplo consenso sobre as soluções para os desequilíbrios na Argentina, como o ajuste fiscal e a liberalização do mercado cambial. Porém, cada candidato difere na forma de realizar os ajustes”, afirmam os estrategistas.
Qualquer candidato que procure resolver esses problemas provavelmente necessitará de desvalorizar ainda mais o peso argentino, com fortes impactos na inflação. O próximo presidente precisará de ter elevada legitimidade entre o eleitorado para executar isso, bem como de apoio político.
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Para os estrategistas, se Milei ou Bullrich vencerem, os ajustes iniciais gerariam desvalorizações adicionais do câmbio e descontentamento social, se não inquietações sociais (num primeiro momento).
“Se o novo presidente for capaz de gerir a situação transmitindo um plano de transição crível e/ou tendo uma vitória retumbante, acreditamos que num segundo momento poderá consolidar uma dinâmica positiva de melhores expectativas na Argentina (em 2024-2025), apesar da elevado nível de incerteza que o primeiro movimento pós-eleição geraria entre a população do país”, apontam.
Em termos de mercado, o BBI acredita que o peso argentino seguirá sofrendo devido ao intenso ruído sobre a dolarização, enquanto os mercados acionários deverão permanecer “à margem” até às eleições (22 de outubro) à espera de uma melhor elaboração e explicação das propostas de Milei ou mesmo em reação a uma vitória menos provável de Bullrich.
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Calendário das eleições:
Data | Evento |
13 de agosto | eleições da PASO (primárias) |
1 de outubro | 1º debate presidencial |
8 de outubro | 2º debate presidencial |
22 de outubro | 1º turno das eleições gerais |
9 de novembro | 3º debate presidencial |
19 de novembro | 2º turno das eleições gerais |
O case YPF
Em outro estudo, analistas do BBI destacaram as visões de Milei sobre a política energética e os possíveis efeitos para a petroleira estatal YPF – o candidato presidencial defende a privatização da companhia.
Contudo, o banco destacou que não concentrará a análise no potencial de privatização da YPF por enquanto, pois considera como improvável, sendo que até mesmo a equipe de Milei admite que qualquer projeto de privatização precisaria ocorrer em conjunto com a “dolarização” da economia argentina, o que provavelmente levaria 2 anos.
Além disso, a privatização da YPF necessitaria da aprovação de 66% do Congresso, o que torna este evento altamente improvável nesta fase.
Assim, se concentram em outras medidas-chave a serem potencialmente introduzidas se Milei (ou mesmo Patricia Bullrich) vencer, listadas a seguir:
1) descongelamento imediato dos preços dos combustíveis na Argentina / levantamento do imposto de exportação de 8% sobre combustíveis (+US$ 2,2 bilhões em Ebitda, ou lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações, anual); 2) eliminação dos subsídios ao gás, permitindo preços de mercado (-US$ 420 milhões em Ebitda anual); 3) descongelamento dos preços do petróleo cru/ levantamento do imposto de 8% sobre as exportações (-US$ 500 milhões em Ebitda anual); 4) “dolarização” da Argentina; e 5) atração de mais investimentos privados para o midstream (o transporte, armazenamento e comercialização por atacado de produtos petrolíferos brutos ou refinado).
“Em suma, os impactos esperados seriam mistos no curto prazo, embora largamente positivos se as refinarias conseguirem convergir para os preços internacionais dos combustíveis”, avalia o banco.
A taxa anualizada atual para o Ebitda da YPF é de US$ 4 bilhões, dadas as recentes dificuldades em passar pela desvalorização do peso. Com todas as variáveis no radar, os analistas calcula que a empresa seria capaz de recuperar seu Ebitda para cerca de US$ 5 bilhões, que é praticamente o que o BBI estima para o próximo ano, um pouco acima da estimativa de consenso de US$ 4,5 bilhões.
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