El-Erian: mercado “se apaixonou” e está mais “agressivo” que eu com juros no Brasil

Para ex-CEO da gestora PIMCO, BC brasileiro tem sido "incrivelmente responsável" desde a pandemia e, por isso, desenvolveu reputação de ser muito "hawkish", ou inclinado ao aperto monetário

Mariana Segala

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Em três semanas, o mercado testemunhará mais uma Super Quarta – quando coincidem, num mesmo dia, as reuniões de política monetária do Banco Central (BC) brasileiro e do Federal Reserve (Fed, banco central americano). E dessa vez, as autoridades prometem seguir caminhos distintos. Enquanto se espera que o Fed finalmente começará a cortar juros nos Estados Unidos, os agentes econômicos precificam que, por aqui, o BC voltará a elevar a taxa Selic – hoje em 10,5% ao ano – em até meio ponto percentual. Essa expectativa faz sentido?

Para Mohamed El-Erian, presidente do Queens’ College e Conselheiro Econômico Chefe da Allianz, o Banco Central brasileiro tem sido “incrivelmente responsável” na condução da política monetária desde a pandemia de Covid, agindo muito antes de qualquer outro para combater a inflação – longamente considerada um evento “transitório” nas economias desenvolvidas.

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“O BC não esperou, não cometeu o erro que o BCE ou o Fed cometeram”, disse o economista, ex-CEO da gestora PIMCO, em entrevista ao InfoMoney. “Por isso, desenvolveu essa reputação de ser muito agressivo [hawkish, ou inclinado ao aperto monetário]”.

Esse contexto, conjugado a uma inflação ainda acima da meta de 3% ano e a falas de dirigentes do BC indicando que todas as opções de política monetária estão na mesa, ajudam a explicar porque o mercado “se apaixonou” pela ideia de que os juros subirão já em setembro. “Mas acho que o mercado está mais agressivo do que eu estaria”, disse El-Erian.

Juros americanos em queda

Já nos Estados Unidos, El-Erian enxerga que o mercado parece esperar muito das próximas reuniões de política monetária do Fed – até demais. “Acho que o Fed vai cortar os juros em 25 pontos-base, ou um quarto de ponto percentual”, disse. “Nenhum banco central gosta de começar um ciclo de corte com 50 pontos-base”.

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Mas o que acontece depois envolve um grau muito maior de incerteza. “O mercado está confiante agora que eles vão cortar um ponto percentual neste ano e mais um ponto percentual no primeiro semestre do ano que vem, totalizando dois pontos percentuais ou 200 pontos-base. Mas acho isso excessivo”.

A visão do economista é de que os EUA provavelmente verão uma queda de 75 pontos base neste ano e outros 75 no começo do próximo – a taxa básica americana atualmente está na faixa entre 5,25% e 5,50% ao ano.

Para El-Erian, a autoridade monetária americana percebeu que o equilíbrio de risco envolve não apenas inflação alta, mas desemprego subindo também. “O Fed percebeu que o ambiente em que opera está mudando”.

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O economista afirma que estava entre os que encorajaram o Fed a dar início ao ciclo de cortes de juros ainda em julho – e não apenas agora em setembro. De todo modo, a diferença entre julho e setembro não é grande, e o Fed “tem sorte de que a economia continua forte”.

Ao mesmo tempo, a autoridade não quer repetir o erro de se manter “atrás da curva” como fez em 2020 e 2021 – quando demorou demais para começar a elevar as taxas por considerar a inflação um evento transitório.

“Transitória é uma palavra muito perigosa. Quando você diz a alguém que algo é transitório, quer dizer que é temporário e reversível, ou ‘não se preocupe com isso, esqueça isso’. Demorou para Powell aposentar essa palavra.”

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Para El-Erian, nos últimos quatro anos houve erros não apenas na implementação de políticas, mas também de previsão, de comunicação e de responsabilização. “Esse erro, o Fed não quer repetir. E tem trabalhado arduamente para restaurar a sua credibilidade”.

Expert XP 2024

A Expert XP acontece hoje e amanhã com cobertura especial do InfoMoney, que trará os destaques das 105 horas de conteúdo e das participações de 250 palestrantes.

Neste primeiro dia, as atenções se voltam, principalmente, para a participação do presidente do Banco Central do Brasil, Roberto Campos Neto, além do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (veja a programação do 1º dia).

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A programação inteira do festival, que chega a sua 14ª edição, ocupará cinco pavilhões no São Paulo Expo, totalizando cerca de 54 mil m², e terá apoio de cerca de 200 colaboradores de diversos setores, especialmente do mercado financeiro.

Mariana Segala

Diretora de Redação do InfoMoney