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Os últimos dias não têm sido os melhores para a Bolsa brasileira, mas ainda que a aversão ao risco tenha falado mais alto neste começo de mês de abril, o Ibovespa continua acumulando alta de dois dígitos no ano. Até o fechamento de ontem (7), o índice havia avançado 13,39%. Mas não são todas as ações negociadas na Bolsa que passam por um momento de prosperidade.
O cenário continua favorável aos preços das commodities, beneficiando empresas do setor e exportadoras. Porém, não dá para dizer o mesmo das ações ligadas ao ambiente doméstico, como é o caso das varejistas. Conforme destaca a XP, até o final de março, enquanto os setores de commodities e bancos subiram cerca de 20% no acumulado do ano, os setores restantes subiram apenas 6,7%.
“O setor doméstico tem um fundamento muito deteriorado. A gente convive com a inflação de duplo digito que corrói a renda disponível para consumo. Isso não vai acabar tão cedo”, afirmou João Mamede, analista de renda variável na AZ Quest, durante o episódio 139 do Stock Pickers.
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Para Memede, ainda que já seja possível identificar níveis de valuation “bastante interessantes” em algumas dessas companhias, “com dinâmica de resultados não tão ruins”, ainda é preciso um pouco mais de confiança para apostar nesses setores.
Já não é mais novidade que o fluxo estrangeiro tem sido responsável por boa parte da cifra acumulado pelo Ibovespa em 2022 até agora. De acordo com dados atualizados da B3, atualizados no último dia 5 de abril e já de acordo com a nova metodologia, os gringos aportaram R$ 68,9 bilhões na Bolsa do começo do ano para cá. Mas o grupo de empresas que se beneficiam com esse movimento é restrito.
“O dinheiro do gringo quando começa a vir, está procurando exatamente a commodity ou vai comprar o ‘bancão’ que está lá em cima, porque ele é mais líquido. E se for um pouco mais ousado, vai tocar em algumas empresas de maior capitalização de mercado, mais óbvias, e não vai penetrar para baixo”, afirma Rodrigo Heilberg, sócio-fundador e CIO da HIX Capital.
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Ele acredita em duas realidades dentro de um mesmo universo de ações: uma Bolsa forte de commodity, ao mesmo tempo em que há uma Bolsa fraca, em mercado interno. “O que vemos são vendas, em geral. São fundos reduzindo volatilidade, vendendo ações, e tem comprador só em um extrato do mercado, que são empresas maiores, de commodities, os bancos. O resto está sofrendo”, afirma.
Empresas de bens discricionários e não discricionários estão sendo pressionadas, observa Heilberg. “Em small caps, nem se fala, é um show de horror. A porta de saída é pequena, entrou mais dinheiro do que devia, é um movimento cíclico que machuca bem quem pôs a mão ali”, disse. Porém, segundo ele, esse cenário é também um terreno fértil para histórias de empresas que sofreram, mas tem um fundamento bom.
Trabalho de stock picker
Para Jennie Li, estrategista de ações da XP, o mercado começou a ver que algumas quedas não se justificavam tanto e passou a ver oportunidades interessantes em nomes muito descontados entre as ações domésticas. “O mercado está começando a ver fundamentos, depois de muitos meses de descontos”, afirma. Mas ela acredita que o momento de fazer uma rotação ainda não chegou – ao menos, não uma rotação completa.
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“[A estratégia] É focar em empresas e não olhar para o setor como um todo. Entender quais estão bem posicionadas e resilientes. E pensar em uma rotação mais ampla quando as perspectivas macroeconômicas forem mais positivas”, diz Jennie.
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Ela acrescenta que, nesse cenário, as boas ações domésticas são aquelas com perspectiva de crescimento de receitas e lucros, ainda que por meio de fusões e aquisições. É importante avaliar se a companhia está em um segmento que passa por expansão. Também vale se a empresa não estiver crescendo tanto, mas paga bons dividendos.
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Desde o quarto trimestre do ano passado, com a crise no mercado imobiliário chinês, a Âmago Investimentos está posicionada em empresas de commodities e segue dando preferência a essas companhias. “A inflação vai continuar alta no curto prazo e é inevitável que isso tenha efeito em ações dos setores doméstico”, afirma Iram Siqueira, co-fundador da gestora.
Isso não significa que o portfólio da Âmago esteja zerado de ações domésticas. A gestora tem, por exemplo, papéis de Multiplan ([ativo=MULTI3]) e Lojas Renner (LREN3) na carteira, por serem empresas que, na avaliação de Siqueira, estão sendo capazes de repassar a inflação ao consumidor final, mantendo bons volumes.
Siqueira também acredita que as ações domésticas poderão se beneficiar, em um segundo momento, do bom desempenho das empresas de commodities. “Nos últimos ciclos fortes de commodities, parte da renda obtida por essas companhias acabou ficando no Brasil, aquecendo também empresas do mercado doméstico”, afirma.
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O Morgan Stanley, por sua vez, informou que reduziu sua exposição ao grupo de ações de commodities e rotacionou a carteira para papéis domésticos. O banco acredita que a Selic terminal alcance 12,75% já na próxima reunião do Copom e encontros do Morgan com autoridades brasileiras reforçaram a impressão dos analistas de que riscos de execução fiscal foram reduzidos em 2022.
Por outro lado, o Morgan Stanley acredita que empresas de commodities tendem a ser impactadas por uma destruição de demanda, caso os preços subam demais, e por um real mais forte, o que afeta o desempenho das exportadoras.
O risco de um aperto monetário mais agressivo do que o previsto pelo Banco Central americano poderia aumentar as chances de uma recessão nos Estados Unidos e no mundo, diz o banco. Porém, o Morgan Stanley pondera que se a inflação nos EUA arrefecer, esse risco diminui.
“O grupo de ações domésticas performou em linha com o setor financeiro desde meados de março e, na verdade, teve um desempenho 20% superior ao do grupo de ações de commodities“, calculou o banco.
O Morgan Stanley afirma ter preferência por nomes de “alta qualidade” nesse segmento, apontando para Iguatemi (IGTI11), XP (XPBR31), Equatorial (EQTL3), BTG Pactual ([ativo=BPAC11) e Localiza ([ativo=RENT3]).
Mudança de patamar
A piora do desempenho do Ibovespa nos últimos dias não surpreendeu Maria Cândida, sócia da HCI Invest. “Vai ser natural agora o Ibovespa dar uma realizada”, afirma. Ela explica que uma rotação de carteira vai depender do patamar em que o índice se acomodar daqui para frente. “Pode ser que caia até os 114.900 e, se parar nesse patamar, ainda dá para pensar numa rotação de setor”.
A analista, contudo, diz que a piora do noticiário aponta para uma inflação mais persistente, com novas sanções à Rússia elevando preços das commodities e um discurso mais duro do Banco Central dos Estados Unidos sobre a escalada de preços. “Enquanto a guerra continuar e tiver sanções, pode ser que a inflação aumente mais. Rotacionar, hoje, seria precipitado. O mais prudente é esperar o mercado realizar primeiro e de depois pensar em uma rotação de setor”, afirma.
Mauro Morelli, estrategista-chefe da Davos Investimentos, é ainda mais cauteloso em sua visão sobre investimentos em ações domésticas. O receio tem a ver com as previsões de crescimento para a economia em 2022 – ou melhor, de não crescimento. O Banco Mundial, em seu Relatório Semestral para Região da América Latina e do Caribe, revisou o PIB brasileiro deste ano de 1,4% para 0,7%.
“A alta da Bolsa brasileira está sendo amparada por fluxo de investidores internacionais, que buscam as ações de maior liquidez, já que fazem a gestão de bilhões de dólares. Caso houvesse crescimento de PIB, justificaria ir para outros setores. Fora que é um ano complicado, com eleições”, explica Morelli.
Em relatório, o Bank of America também afirma que vai manter alocações orientadas a ações de valor, ainda que observe que, nas últimas semanas, os papéis de crescimento tenham passado recentemente por um rali.
“As ações de crescimento se recuperaram nas duas últimas semanas, com empresas de e-commerce e fintechs ficando 30% acima das mínimas, com um declínio nas taxas de juros do curto prazo. Mas percebemos que o movimento foi global: as ações de tecnologia nos Estados Unidos subiram 13% nas duas últimas semanas, enquanto o S&P 500, excluindo as techs, subiu 7%”, diz a análise do BofA.
O banco diz ter preocupações com a inflação e os custos de financiamento dessas empresas de crescimento. Em sua revisão de carteira para a América Latina, o BofA incluiu a Arezzo (ARZZ3), por conta de sua história de qualidade e por ser do segmento de alta renda (mais resiliente), enquanto retirou Lojas Renner por conta do valuation e pressão de custos.
Confira abaixo o Stock Pickers que tratou sobre o tema:
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