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SÃO PAULO – O mercado está perto de completar o primeiro aniversário de um evento cujas proporções até hoje são comentadas e debatidas. A falência da Lehman Brothers marca a fase aguda da crise financeira. Se é inesquecível para quem não participou diretamente dos acontecimentos que precederam a quebra, como deve ser para quem participou do último suspiro do banco norte-americano?
Winston Fritsch era diretor executivo da Lehman Brothers. Chefiava o escritório da instituição no Brasil. “Foi uma grande surpresa ver que não havia comprador para os ativos da empresa como um todo”, lembra em entrevista à InfoMoney. A serenidade para descrever momentos finais da organização denota sua experiência.
PhD em economia pela Universidade de Cambridge, o economista teve um papel relevante no Plano Real e exerceu a presidência do alemão Dresdner Bank. Durante aquele final de semana, o banco dos EUA informava via conferência as últimas decisões. Primeiro, houve uma visão positiva sobre a possibilidade de uma compra pelo Barclays. Ou até mesmo pelo Bank of America.
Mas este último depois anunciou que estava comprando a Merrill Lynch, “que até então não era uma companhia em crise. Problema todo mundo tinha”. Dormiu assim no sábado. Acordou com a notícia que, de fato, o Barclays só iria comprar o lado norte-americano do negócio. Ao final do domingo, o pedido de falência.
Compreensões
“Havia uma preocupação crescente com o mercado de hipoteca nos EUA, especialmente com derivativos associados a hipotecas. Todos tinham exposição grande, mas a Lehman tinha uma exposição bastante grande”, admite o agora diretor da Orienta Investimentos. “Mas a ideia era que as coisas iam andar bem, o banco nunca tinha tido um prejuízo trimestral na história”.
O ex-secretário de política econômica do Ministério da Fazenda no governo de Fernando Henrique Cardoso também reconhece “algumas perdas de oportunidade”. Segundo ele, houve resistência, principalmente por parte da alta direção da Lehman Brothers, em capitalizar a instituição, através de aumento de capital. “Houve várias ofertas e não fizeram”.
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Além disso, avalia que havia uma compreensão errada sobre a reação do governo norte-americano ante a possibilidade de falência da Lehman. Quanto à crise, “bem ou mal, com estatizações europeias e semi-estatizações norte-americanas, o sistema sobreviveu. O Fed aumentou muito a liquidez e as economias não entraram numa recessão tão profunda como em 1929, conforme alguns previam”.
Mas Fritsch considera o fato de não ser apoiada a compra do banco como uma medida de alto risco que criou uma situação de enorme estresse. “Que o mercado iria abrir na segunda-feira em absoluto pânico isso era mais ou menos óbvio. O que ocorreu com os mercados no dia seguinte é algo que modelo nenhum explica”, conclui.
Histórico
Sem conseguir levantar capital, o banco de investimentos Lehman Brothers entrou com pedido de falência. Seus possíveis compradores – Barclays e Bank of America – não conseguiram garantias governamentais suficientes para correr o risco e adquirir o gigantesco passivo da instituição.
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Ao contrário do que ocorreu com o banco Bear Stearns, as autoridades norte-americanas negaram-se a conceder maiores facilidades para os compradores. Segundo dados divulgados à época, a companhia possuía passivos no valor de US$ 639 bilhões.
Os papéis do banco de investimentos norte-americano, que no início do ano valiam US$ 65,44, fecharam cotados a US$ 0,21 no dia 15 de setembro de 2008. Somente em relação ao fechamento de sexta-feira, a retração foi de 94,25%.