Dólar tem leve alta na sessão, mas fecha abril em queda de 1,60% e abaixo dos R$ 5

Na semana, a divisa dos EUA acumulou queda de 1,40% e já tem baixa de 5,5% em 2023

Equipe InfoMoney

(Getty Images)
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O dólar passou por um mês volátil, acompanhando principalmente o noticiário político e os dados econômicos dos EUA.

Na sessão desta sexta-feira (28), a divisa americana fechou em leve alta ante o real, sustentado pela manhã por investidores comprados no mercado futuro e influenciado pelo exterior, onde a divisa dos EUA também subia ante outras moedas de países emergentes.

Porém, no mês, o dólar teve queda de 1,60%, com a moeda fechando abaixo da barreira psicológica dos R$ 5, a R$ 4,987 na compra e na venda. Na semana, a divisa dos EUA acumulou queda de 1,40%. Já em 2023, a baixa acumulada é de 5,5%.

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Mais cedo nesta sexta, a disputa entre comprados (investidores posicionados na alta do dólar) e vendidos (posicionados na baixa) deu o tom dos negócios, com os participantes do mercado tentando influenciar a determinação da Ptax. A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar.

Com a Ptax definida no início da tarde, o dólar ficou mais livre para oscilar, o que fez as cotações se afastarem das máximas do dia.

“O dólar está subindo contra emergentes hoje (sexta-feira), marginalmente. De certa forma, (o câmbio no Brasil) está alinhado”, comentou durante a tarde Cleber Alessie Machado, gerente da mesa de Derivativos Financeiros da Commcor DTVM.

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No fim da sessão, o dólar também sustentava ganhos ante uma cesta de moedas no exterior, após dados mostrarem alta de preços nos EUA em março, apesar do ritmo mais lento.

Já favorecendo a divisa brasileira, estiveram dados positivos da economia doméstica, como avanço de 3,32% do Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br) em fevereiro, ao mostrar perspectivas melhores para atividade e possível manutenção da taxa Selic em 13,75% por longo período. De outro lado, pesam dúvidas ainda sobre o controle das contas públicas. Após impacto positivo ontem da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) favorável ao governo na questão tributária na véspera, houve certo desconforto com a definição da nova política de reajuste do salário mínimo.

Operador ouvido pela Reuters lembrou que, como segunda-feira é feriado no Brasil (Dia do Trabalho), mas não é nos Estados Unidos, o dólar teve certo suporte por parte de investidores que preferem se manter posicionados na moeda americana até terça-feira, por segurança. Pela manhã, o Banco Central vendeu todos os 16.000 contratos de swap cambial tradicional ofertados na rolagem dos vencimentos de junho.

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Já olhando para o movimento mensal, o economista-chefe da Western Asset, Adauto Lima, aponta que a safra recente de indicadores domésticos (serviços, varejo e mercado de trabalho) mostra que a economia não está desacelerando no ritmo em que se previa. Assim, não há espaço para que o Banco Central inicie um processo de corte de juros ainda no primeiro semestre, como esperado por uma ala dos investidores.

“Os dados de atividade consolidam a visão de que o BC vai demorar a reduzir juros. Outro fator importante no curto prazo é que a balança comercial continua bastante positiva, com a parte agrícola. Isso tudo ajuda na dinâmica do câmbio”, afirma Lima. “Se o país conseguir fazer a coisa certa na questão fiscal, o real pode se apreciar mais, porque a moeda não está valorizada”.

A visão de que os juros vão continuar altos por aqui, ainda com um bom diferencial em relação aos países desenvolvidos, mesmo que o Federal Reserve suba os juros, favorece as operações de carry trade, termo que ganhou destaque para explicar os movimentos do câmbio no último mês.

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O carry trade acontece quando o Brasil tem taxas de juros elevadas em relação a economias desenvolvidas (que é o caso atualmente), um fluxo comum é a de entrada de recursos estrangeiros para aproveitar essa diferença.

Ou seja, investidores que estão em países com taxas mais baixas que as nossas podem pegar seus recursos, converter esse dinheiro da moeda origem para o real e, a partir disso, investir o dinheiro em ativos brasileiros com remuneração superior à taxa vigente do país de origem. Assim, a diferença entre as taxas será um fator positivo na remuneração desse investimento no carry trade. O diferencial de juros entre o Brasil e os países desenvolvidos tem favorecido essa operação, valorizando o real.

Operadores têm repetido que o nível da taxa Selic, atualmente em 13,75%, oferece uma rentabilidade interessante para investidores estrangeiros que tentam lucrar com estratégias de câmbio que se aproveitam desses diferenciais de juros.

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Olhando para frente, o Citi disse em relatório nesta semana que mantém “um viés positivo sobre os nomes de alto rendimento do mercado de câmbio emergente, uma vez que a volatilidade deve permanecer contida nos trechos finais do ciclo do Fed, embora o posicionamento esticado possa exigir um período de consolidação”.

José Faria Jr., especialista em dólar e diretor da Wagner Investimentos, aponta que a agenda dos próximos dias é bem pesada e eventos mais favoráveis devem fazer o real manter o patamar abaixo de R$ 5,00. Na próxima semana, haverá decisão de política monetária no Brasil (Copom) e nos EUA (Fomc), além de relatório de emprego (payroll) e dados de inflação (CPI) americanos.

“Acredito que o CPI continuará mostrando sinais de desinflação e isso deve ser favorável para dólar mais fraco. Em todo caso, comprar dólares para curto prazo nos níveis atuais é recomendável. Para avançar nas compras, talvez o melhor seja esperar um retorno para R$ 4,90 ou menos”, avalia o especialista.

Já em relatórios recentes, analistas destacaram ver o dólar acima de R$ 5 até o fim do ano, ainda que abaixo desse patamar no curto prazo.

Para a XP, o câmbio em torno de R$ 5 é um câmbio compatível com esses fundamentos, tanto globais quanto internos, mas o valor de fechamento do ano dependerá tanto da evolução desses riscos políticos e fiscais quanto do cenário global.

De acordo com a visão da casa, dificilmente o dólar voltará aos níveis pré-pandemia (em torno de R$ 3,80 a R$ 4,00), mas também é improvável que o câmbio fique a R$ 5,50, ou mais do que isso, de forma sustentável.

No curto prazo, os analistas da XP veem riscos equilibrados para a taxa de câmbio, mas mantêm a previsão de taxa de câmbio a R$  5,30 no final de 2023, com uma média anual de R$ 5,15.

A Rico, por sua vez, destaca que as incertezas sobre os fatores que levaram à valorização recente da moeda brasileira seguem altas, especialmente relacionadas aos riscos fiscais por aqui. Assim, esperam que o dólar encerre 2023 em R$ 5,30 e 2024 em R$ 5,40.

“Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o ‘sobe e desce do dólar’ siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico”, avalia.

Em relatório, o Bradesco BBI apontou que, em seu caso base, assume o dólar a R$ 5,20 em 2023 e a R$ 5,25 em 2024, mas reforça que os riscos parecem claramente enviesados para um real mais forte, o que pode ajudar a acelerar o processo de desinflação no país.

(com Reuters e Estadão Conteúdo)