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O dólar não para de subir. Na última terça-feira (29), a divisa americana ganhou terreno durante a tarde e encerrou o dia a R$ 5,7616 no segmento à vista, maior valor de fechamento desde 30 de março de 2021, quando fechou a R$ 5,7619, e com o real tendo o pior desempenho entre as principais moedas emergentes. A força da divisa americana continua, com a divisa se aproximando dos R$ 5,80 nesta quarta (30).
Os motivos para tanto foram velhos conhecidos do mercado e que já fazem com que a divisa avance quase 6% no mês e 19% no ano: fiscal, eleições nos EUA, expectativa sobre os cortes na taxa de juros americana e, mais recentemente, fraqueza no preço das commodities.
Na véspera, houve relatos de fluxo de saída e frustração de operadores pela ausência de medidas para corte de gastos do governo, prometidas para depois das eleições municipais. Mais precisamente para esta semana, o mercado também busca proteção antes de uma agenda carregada: relatório de emprego dos Estados Unidos (payroll) na sexta-feira, eleição americana na terça-feira e decisão do Federal Reserve (Fed, BC norte-americano) na quinta-feira que vem, enquanto as commodities na terça não ajudaram a animar o mercado.
Veja os fatores que têm impacto o mercado e levado à divisa americana aos maiores patamares desde 2021:
1 – Preocupação com fiscal
Em meados de outubro, o governo havia sinalizado corte de gastos a ser anunciado após o segundo turno, no fim do mês, o que chegou a animar o mercado – mas por pouco tempo.
A falta de detalhes sobre a medida de contenção de gastos e a visão de que medidas estruturais não serão anunciadas foram desanimando o mercado nos dias subsequentes, fazendo com que o dólar voltasse a ganhar força.
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O diretor de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, destaca a falta de anúncios do governo em relação ao fiscal como um fator de força para o dólar. “Era prometido para logo após as eleições municipais, já houve reunião ontem entre o ministro Fernando Haddad e o presidente Lula, mas ainda nada de concreto”, disse.
Segundo o Broadcast, Fernando Haddad, ministro da Fazenda, está fazendo movimentos para blindar seus planos de corte de gastos. A ideia é evitar que o projeto seja alvo de ataques dentro do próprio governo, o que poderia começar a desidratá-lo ainda antes do início das discussões formais.
Após o dólar acelerar alta na véspera, Haddad disse no meio da tarde que as conversas em torno da agenda de corte de gastos estão avançando e reiterou que não há veto de Lula às medidas. Porém, o ministro não deu nenhuma data para lançamento do plano.
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Na rápida entrevista coletiva, Haddad rechaçou números que foram divulgados dando conta de uma economia entre R$ 30 bilhões e R$ 50 bilhões com as medidas elaboradas.
A economista-chefe da Armor Capital, Andréa Damico, afirma que talvez o mercado tenha se conscientizado que talvez as medidas demorem um pouco mais para serem anunciadas do que se imaginava anteriormente. “Acho que o Haddad deixou muito claro que não existe ainda nada de concreto em relação a números”, afirma.
2 – EUA: por dois motivos
A sensibilidade do mercado também é dada pelo cenário externo, segundo o superintendente da mesa de derivativos do BS2, Ricardo Chiumento. “Estamos perto de grandes eventos internacionais: semana que vem vai ser pesada, em termos de agenda, com a eleição dos Estados Unidos e a reunião do Federal Reserve, e já temos payroll dos Estados Unidos nesta sexta-feira. Então o mercado já está bem sensível não só por fatores locais, mas também em geral”, avalia.
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Na última segunda-feira, o rendimento do Treasury (Título do Tesouro dos EUA) de 10 anos atingiu seu maior valor em três meses, uma vez que operadores projetam uma economia norte-americana forte e um afrouxamento monetário mais gradual pelo Federal Reserve. O aumento das apostas na vitória de Donald Trump na disputa pela Casa Branca em 5 de novembro também contribuiu para o movimento.
“É a calmaria antes da tempestade”, disse Subadra Rajappa, chefe de estratégia de taxas dos EUA no Société Générale. “Muitos investidores estão um pouco mais cautelosos em relação à eleição.”
Trump tem prometido adotar medidas consideradas inflacionárias, como o aumento das taxas de mercadorias chinesas, a redução de impostos e o bloqueio da mão de obra imigrante, o que pode atenuar o corte de juros pelos EUA.
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Cortes de juros mais atenuados nos EUA acabam fortalecendo o dólar ante o real em meio ao enfraquecimento do movimento de carry trade (em que o investidor toma dinheiro emprestado barato em moeda forte e depois investe em outra com rendimentos mais elevados), ainda que com um cenário de elevação da Selic no Brasil.
Em relação aos dados de emprego, furacões recentes podem afetar os números. “Dada toda a volatilidade em torno dos furacões, acho que será muito interessante ver qual será a reação do mercado aos dados”, disse Rajappa.
Espera-se que os empregadores tenham criado 123.000 postos de trabalho em outubro, enquanto a taxa de desemprego deve ter permanecido estável em 4,1%, de acordo com economistas consultados pela Reuters.
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Os mercados veem 75% de chance de cortes de 25 pontos-base nas reuniões de novembro e dezembro do Fed, de acordo com a ferramenta FedWatch da CME.
3 – Commodities
Ainda que com forte volatilidade entre o noticiário do Oriente Médio e as medidas de estímulo da China, o cenário incerto para o minério de ferro e para o petróleo tem afetado o real, uma vez que as commodities correspondem a uma grande participação na balança comercial brasileira.
Para o minério, a incerteza em torno dos planos de estímulo fiscal da China, maior consumidora, tem pesado sobre o mercado, enquanto uma perspectiva de oferta mais forte tem pressionado ainda mais os preços. No mês, o contrato futuro de minério mais negociado na Bolsa de Dalian já caiu 6%.
O sentimento do mercado está oscilando com as expectativas políticas, disse o site chinês de informações financeiras Hexun Futures. Há uma grande incerteza política, já que o Comitê Permanente do Congresso Nacional do Povo está programado para se reunir no início de novembro, coincidindo com a eleição presidencial dos EUA, disse o Hexun Futures.
No caso do petróleo, após uma baixa de 17% no terceiro trimestre em meio às preocupações sobre a demanda e uma recuperação parcial no mês por conta da tensão no Oriente Médio, as cotações voltarão a cair nas últimas sessões de outubro.
No último dia 28, os preços do petróleo caíram cerca de 6%, ou mais de US$ 4 o barril, na pior sessão em dois anos, depois que o ataque retaliatório de Israel contra as forças armadas do Irã no sábado contornou instalações de petróleo e nucleares, sem interromper o fornecimento de energia. Isso aliviou os temores de que Israel pudesse atacar as instalações nucleares ou a infraestrutura de petróleo do Irã.
Na sessão seguinte, na terça, relatos de que o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, realizará uma reunião para buscar uma solução diplomática para a guerra no Líbano também fizeram com que a commodity caísse. Ainda que as manchetes tenham gerado forte volatilidade – tanto para alta quanto para queda – para o petróleo, analistas têm revisado as projeções de preços para baixo.
O Citi reduziu sua meta de preço do Brent para os próximos três meses de US$ 74 para US$ 70 o barril, levando em conta um prêmio de risco menor no curto prazo, disseram os analistas liderados por Max Layton em uma nota.
“A retórica dos ministros da Opep+ nas próximas semanas em torno da redução das cotas será um fator determinante para os preços, com o adiamento dos aumentos de produção se tornando mais provável devido às perspectivas fundamentais brandas e aos altos preços de equilíbrio necessários para a maioria dos membros do cartel”, disse Ashley Kelty, analista do Panmure Liberum.
(com Reuters e Estadão Conteúdo)