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O dólar teve uma sessão de volatilidade nesta sexta-feira (14) e chegou a subir quase 1%, mas perdeu forças e fechou em queda pela quarta sessão seguida, registrando forte desvalorização semanal.
A divisa americana comercial fechou a sessão em queda de 0,23%, a R$ 4,915 na compra e na venda, renovando o menor fechamento desde junho de 2022. Nas últimas quatro sessões completas, o dólar acumulou baixa de 2,97% e, na semana, a queda foi de 2,82%. Em abril, a baixa acumulada é de 3,04% e, no ano, é de 6,9%.
Na véspera, o dólar à vista fechou o dia cotado a R$ 4,926 na compra e na venda, em baixa de cerca de 0,3%.
Ontem, mais um dado de inflação veio abaixo do esperado nos EUA e contribuiu para o cenário de queda da divisa. O Índice de Preços ao Produtor (PPI, na sigla em inglês) caiu 0,5% em março em dados dessazonalizados, ante queda de 0,1% em fevereiro. O consenso Refinitiv apontava para estabilidade no mês e alta de 3,0% no ano.
Também contribuindo para a queda da divisa, esteve o dado de pedidos de auxílio desemprego no país, que aumentou mais do que o esperado na semana passada, mais um sinal de que as condições do mercado de trabalho estão se afrouxando à medida que os custos de empréstimos mais altos afetam a demanda na economia. Os pedidos iniciais de auxílio-desemprego aumentaram em 11.000, para 239.000 em dado com ajuste sazonal na semana encerrada em 8 de abril. Economistas consultados pela Reuters previam 232.000 pedidos para a última semana.
Veja mais: Força do dólar em transações globais é questionada, mas substituição é considerada improvável
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Na quarta, o mercado de câmbio já havia refletido o resultado da inflação em março a partir da avaliação de que a desaceleração dos preços pode levar o Fed a antecipar o fim do ciclo de aperto monetário.
“O grande fator para a queda do dólar é certamente a mudança da perspectiva para a política monetária americana. A projeção para os FedFunds no fim do ano caiu recentemente de 5,60% para 4,38%. Isso teve grande impacto no valor do dólar frente a divisas emergentes”, afirmou o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira. “O resultado aumentou as apostas de que o Fed (o banco central americano) pode ser menos duro na alta de juros, o que foi positivo para moedas emergentes”, completou a economista Cristiane Quartaroli, do Banco Ourinvest.
Já nesta sexta, somando-se às leituras de índices de preços, dados mostraram que as vendas no varejo dos EUA caíram mais do que o esperado em março (-1%), sugerindo que a economia perdeu força no final do primeiro trimestre por causa das taxas de juros mais altas.
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A XP destaca que há uma melhora com a percepção de que o ajuste monetário está funcionando, ou seja, não será necessário manter o ciclo de aumento dos juros por mais tempo que o antecipado. Além disso, tem diminuído a probabilidade de um colapso gerado pelo sistema financeiro, o que também reduz a aversão ao risco.
O presidente do Fed de Atlanta, Raphael Bostic, disse nesta sexta que mais um aumento de 0,25 ponto percentual na taxa de juros pela autoridade monetária dos EUA pode permitir o encerramento do seu ciclo de aperto monetário com alguma confiança de que a inflação retornará firmemente à meta de 2%.
Neste contexto, cabe relembrar o conceito de carry trade, aponta a XP. Isso acontece quando o Brasil tem taxas de juros elevadas em relação a economias desenvolvidas (que é o caso atualmente), um fluxo comum é a de entrada de recursos estrangeiros para aproveitar essa diferença.
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Ou seja, investidores que estão em países com taxas mais baixas que as nossas podem pegar seus recursos, converter esse dinheiro da moeda origem para o real e, a partir disso, investir o dinheiro em ativos brasileiros com remuneração superior à taxa vigente do país de origem. Assim, a diferença entre as taxas será um fator positivo na remuneração desse investimento no carry trade. O diferencial de juros entre o Brasil e os países desenvolvidos tem favorecido essa operação, valorizando o real.
Operadores têm repetido que o nível da taxa Selic, atualmente em 13,75%, oferece uma rentabilidade interessante para investidores estrangeiros que tentam lucrar com estratégias de câmbio que se aproveitam de diferenciais de juros.
Pesa a favor também o fato de a China seguir apresentando dados fortes de atividade, o que mantém o preço de commodities elevado. O Brasil é exportador de petróleo, grãos, minério, por exemplo — produtos que tendem a apresentar altas nos preços quando a demanda chinesa está aquecida.
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Cabe destacar ainda os novos acordos que o presidente Lula está assinando na China, o que deve impulsionar exportações e beneficiar a entrada de moeda americana.
No panorama nacional, a perspectiva de apresentação do arcabouço fiscal com um limite de gastos (ainda que mais elevado que o anterior) e procurando receitas para financia-los também contribui para a melhora de sentimento, com redução de riscos, favorecendo a queda da moeda americana.
O que esperar?
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Para a XP, o câmbio em torno de R$ 5 é um câmbio compatível com esses fundamentos, tanto globais quanto internos, mas o valor de fechamento do ano dependerá tanto da evolução desses riscos políticos e fiscais quanto do cenário global.
De acordo com a visão da casa, dificilmente o dólar voltará aos níveis pré-pandemia (em torno de R$ 3,80 a R$ 4,00), mas também é improvável que o câmbio fique a R$ 5,50, ou mais do que isso, de forma sustentável.
No curto prazo, os analistas da XP veem riscos equilibrados para a taxa de câmbio, mas mantêm a previsão de taxa de câmbio a R$ 5,30 no final de 2023, com uma média anual de R$ 5,15.
A Rico, por sua vez, destaca que as incertezas sobre os fatores que levaram à valorização recente da moeda brasileira seguem altas, especialmente relacionadas aos riscos fiscais por aqui. Assim, esperam que o dólar encerre 2023 em R$ 5,30 e 2024 em R$ 5,40.
“Mas vale destacar que essa projeção não significa que esse será o valor da taxa de câmbio ao longo de todo o ano. Pelo contrário, esperamos que o ‘sobe e desce do dólar’ siga presente, especialmente diante do alto nível de incerteza nos cenários global e doméstico”, avalia.
Em relatório, o Bradesco BBI apontou que, em seu caso base, assume o dólar a R$ 5,20 em 2023 e a R$ 5,25 em 2024, mas reforça que os riscos parecem claramente enviesados para um real mais forte, o que pode ajudar a acelerar o processo de desinflação no país.
José Faria Jr., especialista em dólar e diretor da Wagner Investimentos, destacou haver uma redução recente da percepção de risco do Brasil, com os prêmios muito grandes aos poucos sendo “consumidos”.
No curtíssimo prazo, Faria Jr. aponta que o dólar respeitou os R$ 4,90 após ter registrado queda acelerada em poucos dias, fato que abre a oportunidade de fazer movimento de recuperação técnica para R$ 5,00 – R$ 5,10, região que seria mais propícia para vender neste momento.
Matheus Pizzani, economista da CM Capital, ressaltou à Reuters que “existe espaço para o dólar continuar abaixo de R$ 5. “Temos juros elevados, e, mesmo que o BC cortasse a Selic, ainda teríamos um juro real muito elevado”, disse. Cabe ressaltar que, na terça-feira, foi divulgado o IPCA, que mede a inflação oficial do Brasil, referente a março, com número abaixo do esperado e que elevou a expectativa por corte de juros pela autoridade monetária.
“Além disso, a gente está entrando num período muito positivo para nossa balança comercial”, completou ele, citando otimismo em relação às safras de soja.