Dólar fica acima dos R$ 5,40 pela primeira vez em 18 meses com risco fiscal e Fed

Na máxima do dia, moeda chegou a R$ 5,429

Equipe InfoMoney

US dollar banknotes. Bloomberg
US dollar banknotes. Bloomberg

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O dólar subiu ante o real nesta quarta-feira (12) e fechou em R$ 5,40 pela primeira vez em praticamente 18 meses. O risco fiscal no Brasil e as sinalizações do Fed (Federal Reserve, o Banco Central americano) explicam o fortalecimento da divisa.

A moeda terminou o dia cotada a R$ 5,406 na compra e R$ 5,407 na venda, alta de 0,86%. Desde 4 de janeiro de 2024, quando fechou a R$ 5,452, o dólar não superava os R$ 5,40.

A cotação variou entre a mínima de R$ 5,337 e a máxima de R$ 5,429.

O Comitê do BC dos EUA sinalizou que será feito apenas um corte de juros neste ano e mostrou que não seria apropriado reduzir o intervalo da meta até que ganhe maior confiança de que a inflação está se movendo de forma sustentável em direção a 2%. Isso fez o dólar ganhar força em escala global, ainda que não chegando a subir frente as principais divisas.

Já no mercado doméstico, os investidores repercutiram a derrota do governo em seus esforços para compensar a desoneração da folha de pagamentos.

Segundo reportagem do G1, Fernando Haddad, ministro da Fazenda, sofre um ataque especulativo, a céu aberto, celebrado pela oposição, e gestado dentro do Palácio do Planalto.

Os Congressistas já recusaram três saídas apontadas pela Fazenda para reorganizar a arrecadação: a reoneração, a retomada de taxas sobre os municípios e, agora, uma nova formatação para o uso de créditos do Pis/Cofins.

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Diante disso, Haddad afirmou na véspera (11) que a equipe econômica do governo não tem alternativas para fazer frente à renúncia fiscal de R$ 25 bilhões com as iniciativas.

Ainda em destaque, segundo Leonel Mattos, analista de Inteligência de Mercado da StoneX, a alta do dólar também foi puxada pelo discurso durante a manhã do presidente Lula em um fórum que reúne representantes do Brasil e Arábia Saudita.

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Qual a cotação do dólar hoje?

O dólar à vista subiu 0,86%, a R$ 5,406 na compra e R$ 5,407 na venda. Já o contrato futuro de primeiro vencimento subia 0,75%, aos 5.420 pontos, por volta das 17h20.

Dólar comercial

Compra: R$ 5,406

Venda: R$ 5,407

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Dólar turismo

Compra: R$ 5,409

Venda: R$ 5,589

Leia mais: Tipos de dólar: conheça os principais e qual importância da moeda

O que acontece com a moeda?

Após as fortes altas dos últimos dias, o dólar chegou a oscilar no território negativo ante o real no início do dia, influenciado pela queda firme da moeda norte-americana no exterior após a divulgação de dados favoráveis da inflação dos EUA.

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O Departamento do Trabalho dos EUA informou que o índice de preços ao consumidor (CPI, na sigla em inglês) ficou inalterado em maio, após ter subido 0,3% em abril. Nos 12 meses até maio, o indicador avançou 3,3%, ante 3,4% em abril. Economistas consultados pela Reuters projetavam alta mensal de 0,1% e anual de 3,4%.

Os números foram bem-recebidos pelo mercado, que elevou as apostas naquele momento de que o Fed fará dois cortes de juros em 2024, com o primeiro ocorrendo até setembro. Isso tirou a força do dólar ante várias divisas globais. No Brasil, a moeda à vista marcou a cotação mínima de 5,3368 reais (-0,43%) às 10h04, já após o CPI.

Mas o cenário brasileiro mudou completamente antes das 11h, em meio ao desconforto do mercado com a situação fiscal. Na terça-feira, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), havia anunciado a decisão de devolver ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva trechos da Medida Provisória do PIS-Cofins que restringiram a compensação de créditos do tributo.

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A decisão de Pacheco foi vista como uma derrota para o governo e, em especial, para o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, que buscava com a MP cobrir perdas de arrecadação com a manutenção da desoneração da folha de pagamento. A expectativa era de que a MP fosse gerar aumento de 29 bilhões na arrecadação em 2024.

Nas mesas de operação, o mal-estar em torno da situação fiscal brasileira foi reforçado pela manhã por declarações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante evento no Rio de Janeiro.

Segundo ele, o aumento da arrecadação do governo federal e a queda na taxa de juros permitirão uma redução do déficit nas contas governamentais sem impactar os investimentos públicos.

“Estamos arrumando a casa e colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal. O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade de investimento público”, disse.

O fato de Lula vincular a redução do déficit ao aumento da arrecadação — e não a cortes de despesas – foi mal-recebido por parte do mercado. Além disso, circulava nas mesas avaliações de que Haddad, em função das derrotas políticas recentes, estaria enfraquecido.

Neste cenário, as taxas dos DIs (Depósitos Interfinanceiros) dispararam e o dólar à vista renovou máximas ante o real. No pico da sessão, às 10h57, a moeda foi cotada a 5,4303 reais (+1,32%). O movimento ocorreu a despeito de, no exterior, o dólar seguir em queda.

“O mercado esperava que os dados (de inflação nos EUA) melhorassem para ter um respiro por aqui e interromper a valorização do dólar. Mas a questão fiscal abafou os dados bons de inflação lá de fora”, comentou Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos.

“Quando surge essa oportunidade, com dados bons de inflação, acabamos errando na questão fiscal”, acrescentou.

No início da tarde, o dólar reduziu os ganhos no Brasil, retornando para abaixo dos 5,40 reais, mas a decisão do Fed deu novo impulso às cotações.

Apesar de ter mantido a taxa básica na faixa de 5,25% a 5,50%, como esperado, o Fed indicou que vê apenas um corte de juros em 2024 — e não dois cortes como vinha sendo precificado na curva norte-americana. Além disso, a instituição citou “avanços modestos” em direção à meta de inflação de 2%.

Em sua fala após a decisão, o chair do Federal Reserve, Jerome Powell, afirmou que os membros da instituição ainda não ganharam maior confiança na inflação que permitisse um corte.

Após a decisão do Fed e com os comentários de Powell, o dólar retomou parte da força ante uma cesta de moedas fortes no exterior, apesar de permanecer no negativo, e voltou a acelerar os ganhos ante o real.

Em comentário enviado a clientes, o analista da Nova Futura Investimentos Marcos Duarte afirmou que a oscilação do dólar entre a mínima e a máxima desta quarta-feira foi um movimento “extremamente amplo” para um único dia de negociação.

Segundo ele, em meio ao nervosismo dos investidores, principalmente o estrangeiro “continua vendendo o mercado de ações e realizando lucros e comprando dólar”.

(Com Reuters)