Dólar a R$ 5,50: as ações para ter e as ações para evitar com a moeda nas alturas

Nas máximas em dois anos, divisa americana em alta preocupa - mas também pode gerar oportunidades no mercado de ações

Felipe Moreira Lara Rizério

Notas de dólar (Foto: Jorge Araujo/ Fotos Públicas)
Notas de dólar (Foto: Jorge Araujo/ Fotos Públicas)

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O dólar não para de subir. Ainda que uma ou outra sessão seja de maior alívio para o real em relação à divisa americana, ela tem constantemente superado os R$ 5,40 e chegou a R$ 5,45 nesta terça (25) e R$ 5,50 na quarta, acumulando ganhos de mais de 10% no ano e nos maiores patamares desde julho de 2022. Seja por fatores internos (temores sobre nova composição do Banco Central e fiscal deteriorado) quanto externos (incertezas sobre quando juros cairão nos EUA e tensões geopolíticas), o salto recente tem levado os investidores em Bolsa a uma busca por proteção ou até mesmo por ganhos no atual cenário.

Desta forma, bancos e casas de análise apontam quais ações para se ter (e algumas para evitar). Olhando para os setores, companhias exportadoras normalmente se beneficiam, já que grande parte de suas vendas é em dólares, o que é bom para mineradoras, petroleiras e empresas de papel e celulose. Empresas do agronegócio também ganham pois a maioria dos produtos que vendem é cotado em dólares, mas produzidos localmente. Por outro lado, companhias aéreas e algumas varejistas devem sofrer com a divisa americana nas alturas.

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Em relatório desta semana, o Itaú BBA apontou seis ativos para possuir nesse cenário, também de olho no valuation. São eles: i) PRIO (PRIO3): que negocia a 3 vezes o EV/Ebitda (valor da empresa/lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) e tem rendimento de fluxo de caixa de dois dígitos, ii) Suzano (SUZB3) (desconto de 20% em relação à média no EV/Ebitda), iii) JBS (JBSS3) (6 vezes EV/Ebitda e revisões de lucro positivas), iv) SLC (SLCE3) (player direto de agronegócio, 6 vezes EV/Ebitda ), v) Gerdau (GGBR4) (negocia abaixo de 4 vezes EV/Ebitda e tem revisões de lucro positivas) e vi) Embraer (EMBR3) (melhor performance no acumulado do ano no Ibovespa).

Com o objetivo de avaliar a exposição do balanço das empresas à divisa americana, os analistas do BBA comentam que os nomes relacionados a commodities se destacam com a maior exposição a custos mas, na maioria dos casos, isso é compensado por uma maior exposição nas vendas, o que faz com que as ações fiquem mais atrativas.

A XP também montou sua lista das ações mais bem posicionadas, apontando que BRF (BRFS3), dona da Sadia e Perdigão, e os ativos da petroleira estatal Petrobras ON (PETR3) e PN (PETR4) como as principais.

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Completam ainda a lista os ativos da empresa de serviços ambientais Ambipar (AMBP3), a de tecnologia Bemobi (BMOB3), a companhia de alumínio CBA (CBAV3), a de soluções para armazenagens agrícolas Kepler Weber (KEPL3), a da fabricante de carrocerias Marcopolo (POMO4) e a mineradora Vale (VALE3). Os estrategistas da casa, contudo, pontuam que a lista adota uma abordagem 100% quantitativa, focando nos efeitos cambiais do último ano. “Apesar de isolarmos os efeitos do mercado geral na análise, outros eventos macro e micro podem ter influenciado a dinâmica de preços”, avaliam.

O Santander também destaca como bons hedges as empresas de commodities, especialmente Metais e Mineração, Óleo, Gás e Petroquímicos, Papel e Celulose e Agronegócio. Além disso, segundo o banco, algumas empresas industriais também merecem atenção nesse cenário.

Também na avaliação do Santander e levando em conta o contexto geral da empresa, a Vale é uma empresa que merece atenção, não apenas por sua correlação positiva com o câmbio, mas também porque alguns fatores pendentes podem ser resolvidos no segundo semestre de 2024, como o acordo sobre Mariana e a renovação da concessão ferroviária. Além disso, segundos os analistas do banco, o dólar mais forte beneficia as receitas de todas as empresas do setor de Óleo e Gás, mas a relação Ebitda/fluxo de caixa da PetroReconcavo (RECV3) e da 3R (RRRP3) deve se beneficiar mais, dado suas estruturas de custos denominados em real no onshore (produção em terra).

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Outro segmento que se beneficia de um dólar mais forte é o de Bens de Capital. Nesse setor, o Santander prefere WEG (WEGE3) e Randoncorp (RAPT4), empresas para as quais recentemente aumentou as recomendações para outperform (equivalente à compra).

Além disso, apesar do forte desempenho da Embraer no acumulado do ano, o analistas do Santander ainda enxergam espaço para a ação manter seu impulso no futuro próximo.

Do setor de Papel e Celulose, o Santander também destaca a Suzano com base em sua maior exposição à receita em dólar e a Klabin (KLBN11) porque está bem posicionada para encarar esse cenário. Além disso, a Klabin tem exposição ao cenário de melhoria para o mercado de embalagens brasileiro.

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As empresas de alimentos também têm uma proporção relevante de suas receitas na divisa americana, beneficiando-se, portanto, de um dólar mais forte, dada sua exposição às exportações. No agronegócio, o banco prefere a 3tentos (TTEN3), pois acredita que a empresa poderá repassar custos mais altos em dólar.

Já a lista de preferidas do BTG Pactual é formada por Embraer, Klabin, PRIO, JBS e SLC, enquanto Vale, Gerdau e Petrobras aparecem como outras opções interessantes.

Ações para evitar

É praticamente unânime que as aéreas preocupam por possuírem uma quantidade significativa de sua dívida em dólar, mas quase nenhuma exposição nas vendas, conforme ressalta o Itaú BBA.

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O BTG Pactual também ressalta que as aéreas Gol (GOLL4) e Azul (AZUL4) estão entre as mais afetadas por um real mais fraco, com cerca de 80% de suas vendas em reais, enquanto cerca de 50% de seus custos caixa (principalmente combustível) são em dólares americanos. Contudo, cabe ressaltar, o Bradesco BBI destacou que a Azul precifica, no atual patamar das ações, um dólar a R$ 6,50 (ou seja, patamares bem acima dos atuais), mantendo assim compra para os ativos.

Entre outros setores, na visão do BTG, a M. Dias Branco (MDIA3) também deverá sofrer, pois vende quase todos os seus produtos localmente, mas tem 60% dos custos caixa (principalmente trigo) em dólares americanos. Alguns varejistas de vestuário, como Renner (LREN3), C&A (CEAB3) e Hering (do Grupo Soma, SOMA3), têm parte de seus custos em dólares americanos (cerca de 30%) e suas margens podem ser prejudicadas.

O Santander aponta que, no varejo, a Natura&Co (NTCO3) tem uma proporção próxima de receitas e custos em dólar, sendo mais defensiva nesse ambiente macroeconômico. Por outro lado, Vivara (VIVA3), Grupo SBF (SBFG3), Renner, Guararapes (GUAR3), C&A e Vulcabras (VULC3) são as empresas do setor varejista com maior exposição ao dólar em seus custos de produtos vendidos (COGS, em inglês). O banco pondera que, embora algumas empresas em sua cobertura tenham exposição ao dólar em sua dívida, todas têm instrumentos de hedge para se proteger da volatilidade cambial.

O Santander vê ainda que um aumento da moeda americana pode afetar negativamente algumas empresas em que a maioria dos custos ou dívidas estão vinculados ao dólar, ainda que as receitas têm alguma correlação com a moeda. Esse poderia ser o caso da Usiminas (USIM5). O banco tem classificação neutra para a siderúrgica. Embora reconheça a transformação positiva da empresa nos últimos trimestres, em termos de operações e execução de projetos, mantém visão cautelosa sobre os preços domésticos do aço.