Dólar deveria estar abaixo de R$ 5, mas moeda americana deve seguir sobrevalorizada, aponta XP

Moeda brasileira teve uma das maiores quedas entre emergentes ao longo da pandemia; fragilidade fiscal piorou desempenho

Mitchel Diniz

Notas de real e dólar sendo trocadas (Shutterstock)
Notas de real e dólar sendo trocadas (Shutterstock)

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Com a queda de quase 5% do dólar no último mês de janeiro, com o real perdendo apenas do peso chileno entre as divisas que mais se valorizaram frente à moeda americana, a XP fez um estudo para entender o comportamento do câmbio para entender se há espaço para maiores altas.

O estudo aponta que, nos últimos dois anos, a moeda brasileira caiu mais do que deveria.  A análise foi feita pelo economista-chefe, Caio Megale, o economista Rodolfo Margato e o estrategista Alexandre Maluf.

Os autores do relatório lembram que, apesar da boa performance em sessões recentes, o real teve um dos piores desempenhos entre as moedas emergentes em dois anos de pandemia. Caiu 40% entre 2020 e 2021, em termos nominais, perdendo apenas para Argentina e Turquia no ranking de depreciação. O real também caiu 22% a mais que a inflação.

Avaliando o histórico da moeda brasileira, os números mostram que a taxa de câmbio efetiva do real ficou 15% abaixo da média histórica e 29% menor que a média desde o início do Plano Real. Essa diferença surgiu e se acentuou ao longo da pandemia da Covid-19.

Com base em estudos econométricos, considerando o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas, risco-país, preço de commodities e outras variáveis, a XP concluiu que a depreciação do real durante a pandemia foi além do que os fundamentos da moeda indicavam.

“Nosso modelo, utilizando variáveis domésticas e externas, sugerem que o câmbio deveria ter chegado ao final de 2021 com o dólar entre R$ 4,20 e R$ 4,75”, diz o relatório.

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A pandemia explicaria em parte o desalinhamento da moeda no período, mas a XP avalia que a posição fiscal do país é frágil e as perspectivas são turvas, com uma crescente demanda por gastos com programas sociais e de infraestrutura que o próximo governo deve enfrentar.

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Os analistas concluíram que os riscos fiscais e políticos devem continuar influenciando o comportamento dos ativos brasileiros até o desfecho das eleições e o real poderá permanecer descolado de seus fundamentos por um bom tempo.

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“Se por algum motivo houver um sinal de política fiscal mais responsável após as eleições, há possibilidade do real continuar se fortalecendo”, escreveram os economistas.

Por enquanto, a XP vê continuidade no desalinhamento da moeda brasileira, pelo menos até que as diretrizes do próximo governo sejam esclarecidas. “Nossas previsões oficiais ainda apontam para o dólar a R$ 5,70 no final deste ano e R$ 5,30 ao final de 2023”, diz o texto.

“A possibilidade de uma postura mais hawkish do Federal Reserve também poderá impedir o real de convergir para seu valor justo”, afirmam os economistas.

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Mitchel Diniz

Repórter de Mercados