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Dólar cai a R$ 5,40: Será que o pior já passou?

Sinalização de controle dos gastos públicos, diminuição das falas mais "agressivas" ao BC e melhora no exterior ajudam moeda brasileira a se fortalecer

Vitor Azevedo

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Após quase tocar os R$ 5,70 no começo do mês, o dólar já é negociado nesta quarta-feira (10) a menos de R$ 5,40 – na mínima, bateu nos R$ 5,37. A desvalorização da moeda americana — e o fortalecimento do real — traz, agora, o seguinte questionamento: “o pior já passou?”.

Aparentemente, a resposta é “sim”. Mas, claro, quando se fala de câmbio, é impossível se cravar a dinâmica da moeda. Afinal, se há algo que se existe para derrubar projeções de economistas, esta variável econômica é o dólar.

Entretanto, dentro do atual cenário de pressão e temperatura, interna e externa, especialistas apostariam numa melhor performance do real em relação ao dólar.

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Tanto que as projeções para a moeda norte-americana ao final de 2024 encontram-se em R$ 5,20, conforme último boletim Focus. Contudo, há um mês, a projeção era menor, de R$ 5,05 – ou seja, o recente estresse do mercado elevou as projeções.

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Riscos internos diminuindo

“Quando o dólar atingiu R$ 5,70, mencionamos que a cotação estava elevada devido a riscos políticos e fiscais locais, sem uma deterioração significativa nos cenários macroeconômicos internos e externos. Com o ajuste desses fatores e a normalização da cena política, a cotação do dólar voltou a cair, alcançando níveis abaixo de R$ 5,40”, diz Diego Costa, head de câmbio para o norte e nordeste da B&T Câmbio. 

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“As preocupações com a saúde fiscal do Brasil foram intensificadas pelas críticas de Luiz Inácio Lula da Silva à política monetária do Banco Central e pela falta de medidas concretas para conter os gastos públicos. Isso aumentou a incerteza sobre a estabilidade econômica do país, elevando as expectativas de inflação e pressionando o dólar para cima”, contextualiza Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank.

Após o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) passar junho esticando a corda, criticando o mercado financeiro, sinalizando uma menor responsabilidade fiscal e atacando o Banco Central (BC), em julho o tom passou a ser mais moderado.

O executivo federal sinalizou que o arcabouço fiscal será mantido, falando até em cortes de gastos, e parte das falas mais duras, principalmente quanto ao BC, cessaram. 

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Entenda:

Fiscal

A promessa de que o fiscal será respeitado beneficia o real por duas frentes. Na primeira, menos dinheiro circulando acaba diminuindo a pressão de alta dos preços pelo lado da demanda.

Uma inflação menor leva o juro real (pago pelos títulos públicos brasileiros, por exemplo) a ser maior, o que traz fluxo de dinheiro para o país, fortalecendo a moeda. Fora isso, contas públicas mais saudáveis também diminuem a visão de risco, tornando os aportes também mais atraentes pelo olhar da relação risco/retorno. 

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Pelo lado do Banco Central, havia o temor de que o governo, na sua indicação à presidência da instituição (com o mandato do atual presidente, Roberto Campos Neto, acabando no final do ano), colocaria alguém mais heterodoxo, baixando os juros na “canetada” e sendo menos imprudente com a inflação. Isso tornaria os títulos brasileiros menos interessantes tanto pelas taxas menores quanto pelo provável avanço dos preços, reduzindo o juro real. 

Mas já começaram a surgir as primeiras informações de que quem deve ser indicado à presidência do BC é Gabriel Galípolo, o que poderia sugerir uma transição sem tantas surpresas. O nome dele poderia ser confirmado em agosto, inclusive, segundo trouxe O Globo.

Quanto antes essa transição ocorrer melhor, pois se retiram incertezas. Mesmo sendo indicação do governo Lula, Galípolo é próximo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e mostrou certa independência, na última reunião do Copom, quando votou alinhado com o colegiado – evitando divergências, sobre o início do ciclo de fim de cortes da Selic.

Inflação mais baixa

Outro fator ajuda: a inflação mais baixa. Nesta quarta, o real se valoriza ajudado também por conta da publicação do IPCA de junho, que desacelerou e veio aquém do esperado.

“Ainda hoje, os dados favoráveis do IPCA se somam à retomada da confiança dos investidores com o compromisso do governo no ajuste das contas públicas, o que vem permitindo uma série de ganhos do real desde a semana passada”, diz Bazzo, do transferbank. 

Exterior também melhora

Por fim, nos últimos dias, o exterior também vem ajudando o real, com o dólar caindo mundialmente. De 105,60 pontos no começo de julho, o DXY, índice que mede a força da moeda americana frente às outras de países desenvolvidos, hoje está mais próximo dos 105. 

Dados macroeconômicos mais fracos nos Estados Unidos passaram a alimentar a visão de que, por lá, o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) poderá começar a cortar juros em breve. Na última semana, por exemplo, o relatório Payroll trouxe revisões para baixo na geração de vagas nos meses anteriores, alta no desemprego e desaceleração salarial — e confirmou um maior equilíbrio no mercado de trabalho, para economistas, que viram uma “chance maior de corte de juros em setembro”.

“À medida em que vermos uma redução a taxa de juros lá fora, o mercado brasileiro se tornará mais atrativo. Quando a rentabilidade americana cair, usualmente vemos os investidores estrangeiros trazendo dinheiro para a bolsa e títulos brasileiros. E com essa entrada, o dólar se desvaloriza perante o real”, menciona Thiago Avallone, especialista em câmbio da Manchester Investimentos. 

Ontem, no Senado dos EUA, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse enxergar que a inflação está “caminhando para a meta”, apesar de ter evitado sinais sobre as futuras decisões

“Se continuarmos nessa pegada, com dados lá fora melhorando e fazendo o nosso dever de casa, com certeza devemos ver o dólar recuar mais. Certeza nunca é, mas há uma tendência de que o dólar venha se desvalorizar perante o real”, fala Avallone.