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O dólar comercial encerrou a sexta-feira (30) com queda superior a 1% ante o real, em sintonia com o exterior, onde a moeda americana também cedia ante a maior parte das divisas, e em meio a uma percepção positiva sobre a economia brasileira, após o Conselho Monetário Nacional (CMN) ter mantido a meta de inflação em 3% para os próximos anos.
A divisa americana fechou o dia cotado a R$ 4,789 na compra e R$ 4,79 na venda, com baixa de 1,19%. Na semana, a moeda norte-americana acumulou alta de 0,23%, mas fechou o mês com queda de 5,60% no mês e o semestre com baixa de 9,27%.
Pela manhã, a moeda americana chegou a marcar a máxima de R$ 4,8859 (+0,80%) logo no início das negociações, com investidores comprados (posicionados na alta das cotações) tentando elevar a Ptax do dia. A Ptax é uma taxa de câmbio calculada pelo Banco Central com base nas cotações do mercado à vista e que serve de referência para a liquidação de contratos futuros. No fim de cada mês, agentes financeiros costumam tentar direcioná-la para níveis mais convenientes às suas posições, sejam elas compradas ou vendidas em dólar (no sentido de baixa das cotações).
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Ainda pela manhã, no entanto, ficou claro que o viés predominante seria de baixa para a moeda norte-americana, tanto em função do cenário externo quanto do interno.
Lá fora, dados da economia dos EUA colocaram o dólar em trajetória de baixa ante outras divisas. O núcleo do índice de preços PCE – que o Federal Reserve tem como referência para sua meta de inflação de 2% – subiu 0,3% em maio, após alta de 0,4% no mês anterior. Já os gastos do consumidor subiram 0,1% no mês passado, informou o Departamento de Comércio, após alta de 0,6% em abril.
Os dois números reforçaram as avaliações de que o Federal Reserve poderá ser menos duro em sua política monetária para conter a inflação, o que pesou sobre o dólar.
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No Brasil, o viés também era baixista. Isso porque no fim da tarde de quinta-feira o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou que a meta de inflação a ser perseguida pelo Banco Central seguiria em 3% em 2024 e 2025 e anunciou que o percentual também serviria de referência para o ano de 2026, o que foi bem visto pelo mercado financeiro.
O anúncio reduziu parte do risco ainda embutido nos ativos, incluindo os cambiais. Ao mesmo tempo, Haddad afirmou que a partir de 2025 o BC irá perseguir uma meta contínua, não limitada ao ano-calendário. Com isso, o governo busca suavizar a política monetária em momentos de crise econômica, dando ao BC mais tempo para atingir a meta.
A reação no mercado futuro de juros foi de queda firme das taxas, em meio à perspectiva de que a taxa básica Selic poderá atingir patamares menores. Juros mais baixos, em tese, tornam o Brasil menos atrativo aos investimentos estrangeiros, o que serviria de impulso ao dólar.
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A avaliação no mercado, no entanto, era de que ainda que o diferencial de juros entre o Brasil e o exterior diminua, o país seguirá atrativo ao capital estrangeiro, ainda mais em um ambiente de menos risco.
“Já precificam corte da Selic em agosto”, comentou José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos. “Hoje o país tem juro real em torno de 10%. Com o corte da Selic, pode ficar em torno de 8% ou 9%. Ainda assim é muito juro real”, avaliou.
Desempenho no semestre e o que esperar
Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, destaca que, olhando para o primeiro semestre, boa parte da desvalorização do dólar contra o real ocorreu por alguns fatores como melhores dados na nossa balança comercial, principalmente ligado ao agro, e principalmente em relação a retirada de incertezas por parte dos investidores, em relação ao risco fiscal no Brasil.
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“O mercado, que estava cético com o governo atual, acabou se surpreendendo principalmente em relação ao trabalho do ministro da Fazenda – Fernando Haddad – que se saiu como uma voz conciliadora entre governo e o BC”, avalia, destacando também o avanço do arcabouço fiscal no Congresso.
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Além disso, o investidor estrangeiro está mais otimista com o Brasil, principalmente porque as grandes economias de países desenvolvidos estão com risco de recessão e, portanto, os recursos desses investidores migram para locais onde veem algum potencial de crescimento.
“Entre os países emergentes, o Brasil está melhor posicionado, com incertezas fiscais sendo eliminadas, PIB surpreendendo positivamente, inflação arrefecendo e com horizonte de corte de juros a frente. Tudo isso provocou um forte fluxo de entrada do investidor estrangeiro no país, o que também ajudou muito o real a se valorizar contra a moeda americana”, avalia.
Fernandes espera que, para o segundo semestre, haja uma continuidade da valorização do real contra o dólar, principalmente por conta da reforma tributária, muito importante para o país, e que deve refletir positivamente na nossa economia por simplificar um sistema tributário atualmente muito complexo.
“Uma simplificação desse sistema pode atrair mais negócios para o país. Outro fator que pode ajudar o real a se valorizar ainda mais contra o dólar é uma retomada dos preços das commodities. A China frustrou as expectativas do mercado com uma retomada da economia de forma mais lenta, mas está se mexendo e divulgando novos estímulos para tentar retomar o crescimento de outrora, e isso pode vir a impactar em uma maior demanda nas commodities”, avalia.
Outro fator a ser monitorado, mas que nesse caso pode causar numa desvalorização da nossa moeda frente o dólar, é justamente a política monetária do Federal Reserve. “Caso a inflação por lá fique persistente por um tempo maior, e o Fed resolver dar continuidade na alta de juros por lá (que por enquanto foi pausada), nosso diferencial de juros entre Brasil e EUA tende a diminuir”, avalia.
Contudo, diversos analistas têm destacado projeções de que o dólar não deve voltar para o patamar acima de R$ 5 ainda este ano. Na véspera, o Credit Suisse cortou a projeção para o dólar de R$ 5 para R$ 4,70 no 3º trimestre, enquanto o BofA vê divisa a R$ 4,90 no fim do ano.
Para Faria Júnior, o dólar à vista tem espaço para voltar às mínimas vistas em 2022, com cotações em torno de R$ 4,65. Quando o Federal Reserve iniciar o processo de cortes de juros nos EUA – algo que deve acontecer apenas em 2024 – as cotações no Brasil podem cair ainda mais, avalia o consultor.
(com Reuters)