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O dólar fechou o primeiro semestre de 2023 a R$ 4,789 na compra e R$ 4,79 na venda, com uma queda expressiva de 9,27%.
Vários fatores levaram a esse movimento: melhores dados na nossa balança comercial, principalmente ligado ao agro, e principalmente em relação a retirada de incertezas por parte dos investidores, em relação ao risco fiscal no Brasil, levaram a uma valorização da moeda com a entrada de capital por aqui.
“O mercado, que estava cético com o governo atual, acabou se surpreendendo principalmente em relação ao trabalho do ministro da Fazenda – Fernando Haddad – que se saiu como uma voz conciliadora entre governo e o BC”, avaliou Andre Fernandes, head de renda variável e sócio da A7 Capital, em análise para o InfoMoney, destacando também o avanço do arcabouço fiscal no Congresso.
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Além disso, mesmo com a projeção de corte de juros por aqui em breve, o diferencial significativo entre os juros por aqui e o dos principais países desenvolvidos manteve o apelo por operações de carry trade no primeiro semestre.
O carry trade é uma prática comum quando o Brasil tem taxas de juros elevadas em relação a economias desenvolvidas (que é o caso atualmente). Um fluxo comum é a de entrada de recursos estrangeiros para aproveitar essa diferença. Ou seja, investidores que estão em países com taxas mais baixas que as nossas podem pegar seus recursos, converter esse dinheiro da moeda origem para o real e, a partir disso, investir o dinheiro em ativos brasileiros com remuneração superior à taxa vigente do país de origem. Assim, a diferença entre as taxas será um fator positivo na remuneração desse investimento no carry trade.
Contudo, sobre o tema, há um ponto de atenção: ainda que o carry trade continue atrativo, analistas apontam que, se houver um corte repentino nos juros pelo Banco Central por aqui, o dólar pode voltar a superar os R$ 5.
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Em meio a tantos fatores podendo movimentar o mercado após o forte desempenho do real na primeira metade do ano, o que esperar para 2023? O InfoMoney compilou as projeções de casas de análise para o câmbio e no que se atentar nos próximos meses.
Ainda que muitos não vejam tanto espaço para novas quedas do dólar, analistas, em sua maioria, não veem o dólar superando os R$ 5 ainda este ano. Confira:
1. UBS Wealth Management – R$ 4,60 no 3º tri, R$ 4,80 no fim do ano
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O UBS Wealth Management reduziu a sua projeção para o dólar de R$ 4,85 no terceiro trimestre deste ano para R$ 4,60. Já para o fim de 2023, a expectativa era de R$ 5,00 e passou para R$ 4,80. No primeiro trimestre do ano que vem, a projeção da moeda americana se manteve em R$ 5 e a do segundo trimestre de 2024 foi de R$ 5,25 para R$ 5,00.
De acordo com Ronaldo Patah e Alejo Czerwonko, que assinam o relatório, há uma combinação de fatores que leva a essa nova projeção, como o novo regime de metas para a inflação e a aproximação do ciclo de corte de juros no Brasil podendo reduzir a pressão sobre o câmbio. ”
A decisão do CMN, aliada à redução da inflação, deve abrir espaço para o Banco Central do Brasil iniciar um ciclo de flexibilização em agosto, quando as expectativas de inflação para 2024 devem ficar mais próximas da meta”, apontam os especialistas, referindo-se à decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) da semana passada de manter a meta de inflação em 3% para 2024, 2025 e 2026, mas alterar o regime de ano-calendário para contínuo a partir de 2025.
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O banco também vê a reforma tributária ganhando força e a balança comercial como fatores para impulsionar a moeda doméstica. Isso mesmo diante do cenário externo, com chances dos bancos centrais de países desenvolvidos elevarem suas taxas de juros (com destaque para o Federal Reserve).
2. Credit Suisse – R$ 4,70 no 3º trimestre
O Credit Suisse reduziu recentemente sua projeção para o dólar para o terceiro trimestre de R$ 5 para R$ 4,70 (com um intervalo entre R$ 4,58 e R$ 5,15).
O banco destacou que segue vendo o real como atrativo por seu alto carry trade (mesmo com a queda de juros, o diferencial entre as taxas seguirá alto) e contas externas saudáveis. Contudo, pelo fato da moeda ser vista como uma “compra consensual”, existe um risco de correção no curto prazo, com operadores embolsando lucros.
O Credit destaca que o real superou as expectativas no segundo trimestre, visto que houve uma redução das preocupações com o risco político, especialmente em torno de possíveis mudanças na meta de inflação, permitindo que os mercados se concentrassem no carry trade atraente e na balança de pagamentos sólida. “Dito isso, mesmo em um cenário de corte de juros mais rápido, o colchão de carry trade permaneceria substancial e atraente, e eventuais ralis do dólar em relação ao real provavelmente serão de duração curta”, avalia.
3. BofA – R$ 4,90 no fim do ano
O Bank of America apontou as suas projeções para a moeda brasileira para até o fim de 2023, com uma visão “neutra” para a moeda brasileira, projetando o dólar a R$ 4,90 até o fim de 2023.
Na frente de política monetária, a inflação tem ficado abaixo do esperado, o que reforça o case de cortes de juros já em agosto, na visão do BofA. Para os estrategistas do banco, este pode ser um fator para a queda do real por diminuir a atratividade do carry trade, mas no curto prazo alguns outros fatores que reduzam a incerteza podem ajudar a superar esses riscos.
4. Goldman Sachs – R$ 4,40 no fim do ano
Em relatório de meados de junho, a equipe do Goldman Sachs, liderada por Kamakshya Trivedi, revisou as projeções para o dólar para os próximos três, seis e 12 meses para R$ 4,60, R$ 4,40 e R$ 4,40, respectivamente, ante projeções anteriores de R$ 4,90, R$ 4,85 e R$ 4,80.
“Dado o ponto de partida elevado para as taxas reais e o progresso contínuo (na redução) da inflação, esperamos que os diferenciais de juros reais continuem favoráveis ao câmbio mesmo quando a normalização da política monetária começar, e acreditamos que os fluxos de renda fixa continuam sendo um importante vento favorável para o real”, apontou na ocasião.
“Embora uma pequena retração após um forte rali (do real) seja certamente possível, achamos que o dólar spot ainda tem espaço para uma tendência de baixa”, completou o banco no documento.
5. Bradesco BBI – R$ 4,80 no fim de 2023
Logo após a decisão do CMN da semana passada, o Bradesco BBI revisou as suas projeções para o dólar. O banco espera que o dólar termine 2023 a R$ 4,80 (ante visão anterior de R$ 5,20) e para R$ 4,90 em 2024 (ante visão anterior de R$ 5,25). Além disso, revisou sua projeção para o IPCA de 2023 de 5,8% para 5,2% e para 2024 de 4,1% para 3,9%.
“Pensamos que os riscos estão enviesados para um cenário mais construtivo para o Brasil”, avalia o banco, que monitora os desdobramentos da reforma tributária, cenário de atividade doméstica e mais medidas para aumentar as receitas como os próximos eventos para ficar de olho.
6. Robin Brooks, do Instituto de Finanças Internacionais (IIF, na sigla em inglês) – valor justo de R$ 4,50
O economista-chefe do IIF sinalizou que enxerga o valor “justo” do real – condizente com os fundamentos do Brasil – como R$ 4,50.
“Não há precedentes para a transformação da balança comercial do Brasil em superavitária. Também não é o caso de essa mudança ser devida a uma colheita ‘sortuda’. Afinal, isso esteve em andamento pela última década. O real se tornará a moeda âncora para a América Latina”, disse em postagem no Twitter no mês passado.
7. José Faria Júnior, diretor da consultoria Wagner Investimentos – R$ 4,65 no curto prazo
Para Faria Júnior, o dólar à vista tem espaço para voltar às mínimas vistas em 2022, com cotações em torno de R$ 4,65. Quando o Federal Reserve iniciar o processo de cortes de juros nos EUA – algo que deve acontecer apenas em 2024 – as cotações no Brasil podem cair ainda mais, avalia o consultor.
8. Santander Brasil – destoante projeção dólar a R$ 5,40 no fim do ano
Destoando de boa parte do maior otimismo com o real, o Santander projeta o dólar cotado em R$ 5,40 ao fim de 2023 e vá a R$ 5,50 em 2024.
“Apesar da solidez das contas externas, seguimos antevendo espaço limitado para o real se valorizar à frente em função de i) uma perspectiva de condições monetárias ainda apertadas no exterior; e ii) riscos de implementação associados ao novo arcabouço fiscal. Assim, mantivemos nossa visão de que os déficits em transações correntes flutuarão entre 2,5-3,0% do PIB entre 2023 e 2025″, apontam Ana Paula Vescovi, economista-chefe do Santander Brasil, e a equipe de Macroeconomia do banco em relatório.