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A última semana de novembro marcou um novo recorde nominal para o dólar, que ultrapassou a barreira dos R$ 6 com o mercado reagindo negativamente ao tão esperado pacote fiscal para economia de R$ 70 bilhões em 2 anos, uma vez que veio acompanhado da proposta de isenção de Imposto de Renda (IR) para salários até R$ 5 mil mensais. Na sexta, a divisa americana chegou a superar R$ 6,10, amenizou a alta após falas do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP-AL) e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que indicaram compromisso com o fiscal, mas ainda assim fechou acima de R$ 6 pela primeira vez na história.
Neste cenário, analistas avaliam se o câmbio deve permanecer acima dos R$ 6 e se, mesmo se ficar abaixo desse patamar, continuará pressionado.
Para Marcio Riauba, head da Mesa de Operações da StoneX Banco de Câmbio, é necessário mais gatilhos para que a taxa de câmbio se consolide acima de R$ 6.
“A curto prazo, avalio que sim [deva se manter acima desse patamar], até saber ao certo a dinâmica da curva de juros e atração de investimento estrangeiro face a taxa Selic alta”, mas que há espaço para volta para casa dos R$ 5,80.
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Cabe ressaltar que algumas casas têm revisado fortemente para cima a expectativa de alta da Selic após o pacote, o que poderia favorecer a estratégia de carry trade, em que o investidor toma dinheiro emprestado barato em moeda forte e depois investe em outra com rendimentos mais elevados. Esse movimento poderia favorecer o real.
Roberto Padovani, economista chefe do BV, ressalta que o pacote anunciado não permite desenhar um cenário de estabilidade dívida e, portanto, o risco fiscal no Brasil segue em alta. Assim, “a combinação de ambiente global cauteloso, com preocupação fiscal aqui dentro, faz com que se veja uma mudança de patamar no nível do câmbio”, avalia. Para o economista, antes do anúncio feito por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, na última semana, a visão era de que, caso se tivesse tido um choque de credibilidade e de confiança, o dólar poderia recuar aqui no mercado local para um patamar mais próximo a R$ 5,5, R$ 5,60, mas não foi o caso, pressionando assim o câmbio.
Christian Iarussi, sócio da The Hill Capital, também ressalta, além do ambiente doméstico de aversão a risco que puxa o dólar para cima e eleva as taxas de juros futuras, o cenário exterior também mais desafiador, com a força do dólar global e a queda de preços de commodities, como minério de ferro, pressionando ainda mais o real.
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“Em um mundo onde a inflação nos EUA continua a ser uma preocupação e tensões geopolíticas persistem, é difícil imaginar um cenário em que o dólar perca força tão cedo. O real pode continuar sofrendo até que o mercado sinta uma confiança renovada nas finanças públicas do Brasil. A recuperação do real parece um caminho cheio de obstáculos”, avalia Iarussi.
O dólar acima dos R$ 6 reforça a percepção de que muitos investidores buscam proteger seu capital em mercados mais estáveis, como os Estados Unidos e a Europa, diante de um cenário doméstico de desequilíbrio fiscal e medidas que desincentivam o capital de longo prazo, aponta Jefferson Laatus, chefe-estrategista do Grupo Laatus.
“Para 2025, a trajetória do dólar vai depender de como o governo brasileiro endereçará as questões fiscais e reconquistará a confiança do mercado. Caso isso não ocorra, a pressão sobre o câmbio deve continuar, e o dólar seguirá sendo um porto seguro para investidores que buscam estabilidade em momentos de incerteza”, avalia.
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“A combinação de um cenário doméstico de incerteza fiscal e um panorama internacional volátil tem pressionado a moeda brasileira para baixo, apesar das políticas monetárias do Banco Central, que tenta controlar a inflação com taxas de juros ainda elevadas. A expectativa é que o dólar continue a apresentar uma volatilidade elevada até que o governo consiga demonstrar mais clareza em relação a suas políticas fiscais e econômicas. O mercado deve continuar cauteloso, monitorando as movimentações políticas e fiscais no país, já que a percepção de um desajuste fiscal, que pode gerar novos déficits, impacta diretamente a confiança do investidor no real”, aponta Luiz Felipe Bazzo, CEO do transferbank.
João Kepler, CEO da Equity Fund Group, avalia que a alta do dólar reflete um cenário global de incertezas e o impacto das decisões de política monetária nos Estados Unidos. Para 2025, espera um movimento de estabilização, desde que haja uma convergência da inflação no Brasil e nos mercados internacionais, além de sinais mais claros de recuperação econômica global.
Para as empresas brasileiras, Kepler vê que o câmbio elevado é um desafio e, ao mesmo tempo, uma oportunidade. “Exportadoras se beneficiam, enquanto importadoras enfrentam maior pressão nos custos. Investidores precisam avaliar o impacto dessa volatilidade nas margens de lucro das empresas e buscar setores resilientes, como commodities e tecnologia. O foco agora é construir portfólios equilibrados, atentos ao cenário global e à política econômica doméstica”, aponta.
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Para o economista André Galhardo, consultor da Remessa Online, a reação do mercado ao pacote de gastos “foi desproporcional”. Ele acredita que a volatilidade pode diminuir conforme as medidas anunciadas pelo governo sejam assimiladas.
“Em algum momento devemos observar um ajuste. A cotação deve ceder ou pelo menos voltar a ser menos volátil. Contudo, imaginar uma recuperação sólida da moeda brasileira ao longo dos próximos meses é um desafio”, afirma Galhardo, lembrando que há fatores externos, como o retorno de Donald Trump à Casa Branca, que devem limitar o fôlego do real.
Ao avaliar a possibilidade de o Banco Central intervir no mercado de câmbio, o economista-chefe do Banco Pine, Cristiano Oliveira, afirma que o retorno da cotação do dólar para níveis “desejados” entre R$ 5,70 e R$ 5,80, que prevaleciam antes da novela do anúncio do pacote de corte de gastos, virá apenas com a adoção de medidas mais amplas.
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“A intervenção no câmbio isoladamente não teria o impacto desejado. Teria mais efeito um combo, com venda de dólares, aumento significativo da taxa Selic e um complemento do ajuste fiscal com medidas mais robustas”, afirma Oliveira.
(com Estadão Conteúdo)
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