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SÃO PAULO – O saldo de 2018 para o mercado editorial e de livrarias brasileiro não é nada promissor: a Fnac, controlada pela livraria Cultura, teve todas suas lojas fechadas; a livraria Saraiva, outra gigante, fechou 20 unidades em todo o país; e ambas as redes hoje passam por recuperação judicial.
Embora possa parecer um estrago “repentino”, uma pesquisa realizada pela CNC (Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo), aponta que esse cenário vem sendo desenhado há quase uma década: nos últimos 10 anos, o Brasil perdeu 21 mil livrarias, número que representa um encolhimento de 29% do mercado.
Em 2007 eram 73,7 mil estabelecimentos abertos em todo o país e, em 2017, esse número era de 52,6 mil. A maioria dos fechamentos aconteceu a partir de 2013 – deste ano para cá, o número de papelarias e livrarias encolheu 22%.
As mais prejudicadas nos últimos anos surpreendentemente não foram as grandes redes, mas sim pequenos estabelecimentos livreiros, segundo a pesquisa. Ela aponta que das 21.083 lojas fechadas, 20.912 eram empresas com até nove empregados – ou seja, as livrarias pequenas.
Hoje, a situação parece ter se invertido: enquanto as gigantes passam por recuperação judicial, elas pensam em expandir seus negócios. A Livraria da Travessa, por exemplo, anunciou na última semana que pretende inaugurar duas novas unidades em março do ano que vem, além de estar “alterando seu mix de produtos” para atender à crescente demanda por itens de papelaria.
O motivo
A causa dos problemas das grandes livrarias é também o que permite às redes menores crescer: a gestão. Nos últimos anos, a Cultura e Saraiva investiram pesado na abertura das megastores e na inclusão de eletrônicos entre os produtos vendidos, mas não tiveram o retorno esperado. Não à toa, no período em que essa expansão era feita, as redes chegaram a apresentar crescimento.
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A estratégia de oferecer grandes descontos – de até 20% – em livros recém-lançados e best-sellers para confrontar a Amazon no mercado de livros, somada ao encolhimento da receita com a venda de livros (entre 2015 e 2017, de 20%) impossibilitaram que as contas fechassem no azul.
É errado dizer, entretanto, que o mercado editorial está “ameaçado” no Brasil. Isso porque no 1º semestre deste ano, o setor apresentou crescimento de 10% no faturamento, resultado do aumento na venda de livros. No acumulado do ano, ele cresceu 5,7% e deve ter um “bom fechamento”, segundo dados do Snel (Sindicato Nacional das Editoras de Livros).
Fábio Bentes, economista da CNC que conduziu a pesquisa, comenta que o encolhimento do mercado de livrarias é reflexo de uma mudança de hábitos: “Não significa que o brasileiro está lendo mesmo, mas sim que mudou a forma como faz isso”, disse.
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Ele explica também que o setor num geral passa por uma mudança estrutural, que fez com que o consumidor passasse a consumir livros de uma maneira diferente. “O carro-chefe das livrarias, os livros, mudaram radicalmente nos últimos 10 anos e deixaram de ser físicos para serem também digitais. Isso pela própria evolução do mercado”, disse. A situação atual das livrarias, portanto, vem de uma dificuldade de se adaptar a essas mudanças e também de concorrer com outros players do mercado – varejistas como as Lojas Americanas, Submarino e Amazon, que conseguem praticar preços mais baixos.
Como se salvar
Uma solução “temporária” para essa crise é apostar em um mix de produtos que inclua livros de área técnica, cuja demanda é “fixa”, segundo o economista. “Esse é um nicho que não atrai as grandes varejistas e que tem grande potencial entre quem compra livros físicos. No longo prazo, entretanto, será importante que as livrarias mergulhem na onda dos livros digitais. Essa ainda não é, entretanto, uma prática que as grandes redes já adotaram.
A Saraiva anunciou junto com os resultados e fechamento de lojas, ela anunciou um corte de 700 funcionários e que deixará de vender eletrônicos, como smartphones e notebooks. Eles passarão a ser oferecidos em um “marketplace próprio”. A estratégia da empresa continua sendo de investir e focar na transformação digital da companhia, expandindo seu marketplace próprio, e também na venda omnicanal, integrando as vendas digitais e físicas.
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A Cultura, por sua vez, pretende se transformar em uma “companhia digital”. Em agosto, executivos da empresa comentaram sobre a criação de um centro de inovações que tem trabalhado no desenvolvimento de aplicativos, B.I. e mudanças para o marketplace; a expectativa é de que até 2020 80% da receita venha de canais digitais.
Junto das editoras, as livrarias agora pretendem limitar em 10% o desconto oferecido em lançamentos de livros durante seu primeiro ano de venda, tal como o faz mercado editorial francês. Um pleito das associações já está na Presidência. Dados os números recentes, entretanto, é necessário que os esforços sejam ainda maiores.