Por que “notícias ruins” deixaram de ser positivas para os investidores das Bolsas?

Dados mais fracos vinham criando "otimismo" quanto ao início do corte de juros pelo Federal Reserve; mercado, agora, está mais cauteloso

Vitor Azevedo

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Durante um bom tempo de 2024 — e ao longo de 2023 —, o mercado vinha reagindo “positivamente” às publicações de dados macroeconômicos mais “fracos” do que o esperado nos Estados Unidos, com a interpretação de que isso permitiria ao Federal Reserve ser mais rápido em seus cortes de juros.

Ou seja, “notícias ruins” à atividade econômica eram consideradas “positivas” aos investidores da Bolsa. Mas isso aparentemente vem mudando. 

Nas últimas duas semanas, porém, dados mais fracos do que o esperado, sinalizando uma desaceleração da economia norte-americana, vêm derrubando as bolsas de valores ou ao menos não empolgando tanto quanto antes.

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“A gente viu o mercado por muito tempo negociando nessa narrativa de que dados mais fracos significam uma economia desacelerando, o que abriria espaço para o Federal Reserve [o banco central americano] começar o ciclo de corte antes”, explica Jennie Li, estrategista de ações da XP. 

Um corte de juros pelo Federal Reserve usualmente leva fluxo de capital para as Bolsas de valores. Com o Tesouro e a renda fixa pagando menos, é normal que investidores tirem dinheiro desses papéis para levar às ações. 

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Mas além disso, a visão de mais cortes de juros também empolga pela perspectiva de que as empresas lucrarão mais no futuro, com as pessoas tendo maior acesso a crédito, e também com menores despesas financeiras, com o endividamento ficando mais barato. 

O mercado, de olho nesses movimentos, busca se antecipar. Mas agora há a possibilidade de uma desaceleração da economia mais no curto prazo minguar as expectativas.

“Por enquanto, não é o cenário em que trabalhamos, mas vem ganhando força a visão de que a gente pode ver uma desaceleração econômica talvez um pouco mais forte”, diz Li. 

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Com a economia desacelerando, investidores também passam a evitar um pouco mais ativos de risco, de olho nos prazos menores. A perspectiva de que empresas podem ter lucros minguando no curto prazo ganha alguma força. 

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“Por muito tempo, o mercado via que ‘bad news is good news’, onde dados ruins na economia eram bem recebidos pelo mercado, porque tinham efeito de queda de juros. Estamos voltando a um cenário onde bad news na economia são bad news para os mercados”, diz Fernando Ferreira, estrategista-chefe de ações da XP.

Como exemplo desses casos, ele cita a divulgação do JOLTS nesta semana. Apesar de ter vindo consideravelmente aquém do consenso, as bolsas americanas fecharam o dia de sua publicação, na terça, com altas pouco relevantes. Já na segunda o ISM de manufatura abaixo do consenso também não empolgou. 

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“A consequência desses dados mais fracos é óbvia. Juros das Treasuries caindo e o mercado voltando a aumentar apostas que o Fed possa cortar juros mais cedo. Mas o que tem chamado mais atenção é que as Bolsas têm reagido negativamente a esses dados mais fracos, e não positivamente, refletindo os juros mais baixos”, explicou Ferreira. 

Para Fernando, o termo de “hard landing, com o Fed entregando alguma recessão para frear a inflação, voltou a aparecer.

“Ainda está longe de ser um cenário base, mas o mercado volta a se preocupar um pouco com desaceleração, se ela for um pouco mais forte do que o esperado. É por isso que esses dados passaram a pesar na balança”, debate.