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Desde junho do ano passado, as perspectivas de consequências do El Niño assombram alguns setores, com promessas desde elevação de preços de alimentos e inflação até sobrecarga de redes elétricas. Para outros, como empresas que se beneficiaram de efeitos negativos em algumas regiões, o fenômeno climático caracterizado por aquecimento das águas no oceano Pacífico trouxe forte desempenho e impulso nas vendas.
Com a diminuição do fenômeno, que costuma ocorrer a cada 4 a 7 anos, a expectativa é que efeitos ainda sigam por algum tempo. Ao mesmo tempo, uma nova questão climática se apresenta no horizonte: o La Niña. A “contraparte” do El Niño é caracterizada justamente pelo efeito de resfriamento das águas de partes central e leste do Pacífico Equatorial, além de mudanças na circulação atmosférica tropical, de acordo com o Instituto Nacional de Meterologia (Inmet). Em março do ano passado, o fenômeno chegou ao fim, conforme informou a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (NOAA).
Em relatório recente publicado pelo Research da XP, os analistas Leonardo Alencar, Pedro Fonseca e Samuel Isaak argumentam que, embora os impactos do La Niña sejam difíceis de prever e não estejam garantidos, seus efeitos poderiam ser consideráveis em companhias presentes na cobertura da casa. A XP destaca que, mesmo sendo cedo para assumir o novo cenário, a alta probabilidade de La Niña no segundo semestre é indicada na previsão de fevereiro (ainda que as previsões demonstrem certa dificuldade em prever o fenômeno nesta época do ano).
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Dentre os modelos utilizados, estão o Australian Bureau of Meteorology, que sequer considera que o La Niña ocorrerá neste ano. No entanto, a maioria dos modelos utilizados para prever o ENOS (El Niño Oscilação Sul, como o fenômeno é chamado), indica que acontecerá o La Niña, mas com início ainda incerto. Os eventos dessa natureza costumam ocorrer entre março a junho, mas um início tardio não está descartado e poderia livrar os EUA de uma estação de plantio seca, conforme considera a XP.
O Morgan Stanley, citando a BWI (Baltimore Washington Institute, especializado em meteorologia nos EUA), apontou a probabilidade de 60% de ocorrência de La Niña no outono ou inverno de 2024 (na América do Norte). De acordo com meteorologistas americanos, o evento El Niño foi incomum, assim como uma série de eventos chamados de “WeatherWeirdos” (climático-estranhos, em tradução livre) como a seca no Mato Grosso, o fraco monção na Índia e ondas de calor históricas, somadas à inundações na costa oeste dos EUA. Isso tudo indicaria a ocorrência do La Niña.
Se a hipótese se confirmar, mostra a história, de acordo com o Morgan, que os preços no açúcar foram otimistas em dois dos três momentos em que isso aconteceu anteriormente. No entanto, em 1998, quando o clima passou para La Niña no verão (dos EUA, equivalente à época de inverno no Brasil), os preços do açúcar caíram e a produção global aumentou.
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Ações que podem ser afetadas pelo La Niña
Na cobertura da XP, a divisão de análise considera que nomes como 3tentos (TTEN3) e Raízen (RAIZ4) poderiam ser negativamente afetados, enquanto BrasilAgro (AGRO3) poderia ser favorecido.
A SLC Agrícola (SLCE3) poderia ser uma das beneficiadas com o evento climático, conforme aponta relatório do Itaú BBA. A análise afirma que as ações da companhia poderiam ser impulsionadas por um vento favorável caso o La Niña se confirme neste ano. O BBA mantém a recomendação de compra para a companhia, com preço-alvo estabelecido em R$ 23,00 para 12 meses.
Com base na previsão observada pelo Morgan Stanley, de 60% de possibilidade de ocorrência do La Niña (que historicamente leva a secas nos EUA), o Bradesco BBI destacou que os preços dos grãos podem se recuperar no segundo semestre de 2023, representando um risco positivo para a SLC. A companhia é classificada pelo BBI como neutra, com preço-alvo em R$ 21,00.