Decepção com dados de empregos nos EUA aumenta riscos da ”maldição do QE2”

Relatório de Emprego de março mostrou o resultado mais distante de uma expectativa desde 1979, sugerindo um fraco desempenho da economia norte-americana nos próximos trimestres

Lara Rizério

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SÃO PAULO – O Departamento de Trabalho dos Estados Unidos informou nesta sexta-feira (5) que o país criou 88 mil postos de trabalho em março, bem abaixo dos 192 mil projetados pelo mercado, e dos 268 mil vistos no mês passado, segundo dados revisados. Esta foi a menor criação de emprego registrada em nove meses.

O resultado bastante negativo, que já reflete no desempenho nas principais bolsas do mundo neste pregão, tem levado os economistas a rever suas projeções econômicas para a maior economia do mundo. Segundo o fundador da Pimco, Mohamed El-Erian, em entrevista à rede norte-americana Bloomberg, o relatório é bastante preocupante, o que torna uma recuperação constante e sustentável ainda mais difícil.

De acordo com ele, a economia norte-americana não está se focando no desenvolvimento das capacidades dos seus empregados de forma a competir com o mundo globalizado e sim investindo mais nos setores em que não há como haver comercialização entre países, como no caso de serviços), o que diminui a competitivade dos EUA e a sua capacidade de recuperação.

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O modesto número de criação de emprego evidencia que a economia norte-americana está em uma nova temporada de maus resultados, depois de um crescimento relativamente rápido no primeiro trimestre, conforme aponta Paul Ashworth, da Capital Economics. Dessa forma, a economista do BNP Paribas, Julia Coronado, espera que a política monetária do Fed siga em pleno vigor.

”Maldição do QE2”
Contudo, conforme ressalta economista da equipe de análise da XP Investimentos, Daniel Cunha, o Federal Reserve pode ter ocasionado a chamada ”maldição do QE2 (Quantitative Easing)” para a economia dos EUA, com uma alta probabilidade do episódio dos últimos três anos se repetir.

Segundo a “maldição”, após bons números no 4º trimestre de um ano e no 1º trimestre do posterior, ocorreu um retrocesso no 2º e 3º trimestres para a economia norte-americana, contribuindo para elevar as incertezas globais na época, o que deve se repertir novamente.

Segundo aponta Cunha, o forte desvio na divulgação do relatório de emprego, mesmo com algumas ressalvas a serem consideradas – como sazonalização – deverá ganhar mais atenção do mercado do que qualquer análise subjetiva dos dados.

Além disso, outros dados do mercado de trabalho, como os pedidos de auxílio-desemprego e dados da indústria manufatureira decepcionaram, levantando os riscos de confirmação da maldição do QE2 pelo quarto ano.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.