Debate de Kamala e Trump pode mudar ponteiro do mercado em meio à disputa apertada?

Julius Baer ressalta probabilidades de vencedores das eleições em vários cenários, enquanto Morgan aponta o que esperar para debate desta terça

Camille Bocanegra

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A disputa eleitoral nos Estados Unidos se aproxima, com o primeiro debate entre a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump ocorrendo nesta terça-feira (10) à noite.

O banco suíço Julius Baer fez análise sobre o cenário atual e como ele pode impactar o mercado. Atualmente, a instituição destaca chances ligeiramente melhores para Kamala ante Trump (48,1% X 46,2% das intenções de voto). Assim, a corrida está mais competitiva novamente após a desistência de Joe Biden.

“As pesquisas mostram que as chances de qualquer um dos candidatos ganhar a presidência são mais equilibradas. Com Harris liderando por pouco nas pesquisas nacionais”, segundo aponta Mathieu Racheter, chefe de pesquisa de estratégia em ações do Julius Baer.

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Contudo, avalia o estrategista, embora as chances de ganhar a Câmara dos Representantes (equivalente à Câmara dos Deputados do Brasil) permaneçam bastante equilibradas, os democratas precisam defender quase o dobro de assentos no Senado do que os republicanos.

Assim, Racheter atribui uma probabilidade baixa de 10% para um cenário de varredura total para os democratas (ou blue sweep), com vitória nas casas legislativas para os democratas e também de Kamala Harris. Enquanto isso, um cenário de “varredura total” para os republicanos (ou red sweep/Trump, também conhecida como “onda vermelha”) parece mais provável, com chance de 45%.

Já o segundo cenário mais provável é a vitória de Harris com Congresso dividido, avalia, com chance de 35%.

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Faltando apenas dois meses para o pleito, o primeiro debate eleitoral entre os atuais candidatos será realizado na noite desta terça-feira, às 22h (horário de Brasília). No embate anterior, ainda com Joe Biden como cabeça de chapa, o desempenho de Trump foi considerado superior e impactou os números de pesquisas. Após decepcionar no encontro, Biden sofreu pressão do partido Democrata e deixou a disputa. Com isso, a chegada de Kamala Harris pareceu dar mais ânimo e novo fôlego à corrida, como comentou Cliff Young, presidente de polling da Ipsos nos EUA, em painel na Expert 2024.

Para este debate, o Morgan Stanley destacou não ter grandes expectativas de mudança de cenário. “Embora ambos os candidatos tenham falado extensivamente sobre objetivos políticos, ambos também se abstiveram de revelar detalhes importantes sobre como embasariam políticas importantes relacionadas a impostos, comércio, imigração e muito mais. Não esperamos que este debate revele esses detalhes. Em vez disso, é mais comum que os candidatos usem os debates como oportunidades para persuadir os eleitores a apoiá-los, algo que pode ser melhor alcançado por meio de declarações de valores e princípios em vez de detalhes específicos”, aponta.

Quanto a como o debate pode levar a resultados eleitorais diferentes, a história sugere que esses eventos geralmente não conseguem “mover a agulha” das pesquisas, segundo o Morgan. “Isso pode surpreender investidores cuja experiência mais recente no debate presidencial foi o evento de 27 de junho, quando Biden foi julgado pelos mercados de previsão pelo desempenho ruim. Esses mercados então começaram a refletir o ex-presidente Trump como um claro favorito, o que foi posteriormente validado por pesquisas em estados-chave que mostraram mudanças modestas, mas significativas, no apoio a ele. Mas essa experiência é a exceção, não a regra, nos debates presidenciais”, avalia o banco.

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Impactos para economia e mercados

Ao destacar os possíveis impactos do resultado final da eleição, o estrategista do Julius Baer avalia que a vitória total de Trump seria vista como mais significativa para economia. Na hipótese de eleição republicana, cortes de impostos seriam prorrogados, impulsionando o crescimento, a inflação e as taxas de juros.

Há possibilidade, também, de “suavização” do dólar como consequência de perda de força de instituições financeiras e aumento dos riscos fiscais.

Na hipótese de vitória de Kamala, o cenário base que o Julius Baer trabalha é de crescimento moderado e taxas de juros mais baixas nos próximos dois anos.

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O Morgan, por sua vez, ressalta que a campanha de Kamala divulgou recentemente um conjunto de propostas, fortemente focadas em planos econômicos. A plataforma inclui as políticas que ela endossou anteriormente por meio de discursos políticos e que faziam parte da plataforma do governo Biden, além de alguns esforços incrementais de gastos sociais (assistência adicional para compradores de imóveis pela primeira vez, por exemplo).

Saiba mais: Kamala tem propostas socialistas e Trump pode invadir a Venezuela, diz Jakurski

“Notavelmente, a política econômica é uma das principais questões eleitorais em que Trump mantém a liderança sobre Harris entre os eleitores pesquisados, embora dados recentes mostrem que essa lacuna está diminuindo”, avalia o Morgan, citando recente pesquisa em que destaca que a economia continua sendo uma questão importante, embora as preocupações em torno do ambiente político sejam igualmente bem classificadas no ranking de preocupações (em 50%).

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Sobre impacto no mercado, o banco vê que a eleição nos EUA pode ser um potencial catalisador de câmbio, potencialmente levando a ganhos para o dólar. “A votação antecipada começa em breve em alguns estados importantes, e os mercados estão atualmente precificando um resultado eleitoral acirrado. Como nossos estrategistas observam: ‘se o mercado estivesse precificando uma alta probabilidade de uma vitória republicana (e o dólar subisse com ela, por conta das políticas mais protecionistas), haveria riscos assimétricos negativos para a moeda caso as pesquisas mudassem. Mas, com o mercado precificando uma probabilidade de cara ou coroa, há amplo escopo para os mercados adicionarem hedges positivos para o dólar caso haja mudanças.”

Uma potencial administração republicana pode tentar compensar a força do dólar, diz o banco, mas, no curto prazo, espera que o dólar e a probabilidade de uma Casa Branca republicana sejam positivamente correlacionados.