De Sabesp (SBSP3) à Copasa (CSMG3): quais estatais têm chances reais de serem privatizadas após as eleições?

Estatais estaduais tiveram alta generalizada, ainda que em percentuais bastante distintos, com repercussão dos resultados de domingo

Lara Rizério

Publicidade

Na sequência da disparada generalizada das ações de estatais estaduais na última segunda-feira (3) repercutindo os resultados do primeiro turno das eleições, analistas avaliam quais empresas realmente têm chances de serem privatizadas (grande catalisador para o avanço dos ativos das empresas na véspera) e quais terão um caminho mais difícil para que isso aconteça.

Na véspera, os grandes destaques de alta foram as empresas mineira Copasa (CSMG3) e a paulista Sabesp (SBSP3), ambas de saneamento, com disparadas respectivas de 18,79% e 16,94%. Para o Bradesco BBI, a Sabesp foi o grande destaque no pós-eleição, mas outras casas destacam a Copasa como um case mais atrativo.

Contudo, as ações de outras companhias, como também a mineira de energia Cemig (CMIG4) e as paranaenses Sanepar (SAPR11) e Copel (CPLE6) subiram 10,69%, 7,41% e 3,95% respectivamente, acompanhando a euforia do mercado, mas com analistas e gestores vendo menores chances de privatização. Saindo das utilities (empresas de energia e saneamento) e indo para o setor financeiro, o banco gaúcho Banrisul (BRSR6) teve alta mais tímida na véspera, mas ainda de 3,66%.

Confira os destaques eleitorais para as empresas estaduais e o impacto nas teses de investimento das companhias, segundo analistas e gestores:

São Paulo

Sabesp (SBSP3): chance de privatização aumentou, mas atenção ao valuation

O primeiro turno da corrida para governador em São Paulo não foi definitivo, mas mostrou o candidato Tarcísio de Freitas (Republicanos) bem à frente dos demais, com 42% dos votos.

Esta foi a maior surpresa, já que pesquisas recentes mostraram Tarcísio, em segundo lugar, com apenas 30% dos votos. O segundo turno entre Tarcísio Freitas e Fernando Haddad, em 30 de outubro, determinará o novo governador de São Paulo.

Continua depois da publicidade

Na avaliação do Bradesco BBI,  para a Sabesp, se Tarcisio for eleito, a probabilidade de privatização seria bastante alta. Tarcisio disse que a privatização poderia ser considerada se reduzisse as tarifas imediatamente, além de obviamente ter o benefício de acelerar os investimentos para melhorar os serviços de coleta/tratamento de esgoto.

“A nosso ver, a potencial privatização da Sabesp levaria algum tempo para acontecer (talvez no segundo ano do mandato do próximo governador)”, mas os analistas viram maior ânimo para a companhia uma vez que destacam a empresa como relativamente barata.

Levando em conta o fechamento de sexta-feira, destacaram que SBSP3 negocia a apenas 0,7 vez o múltiplo EV/RAB (EV = enterprise value, ou valor de mercado + dívida líquida”; RAB = base de ativos regulatórios) para 2022, enquanto uma empresa privatizada poderia atingir um valuation de 1,2 vez a 1,3 vez, ou R$ 110 por ação. Para os analistas, a depender da evolução das eleições no 2º turno, SBSP3 poderia primeiro ser reavaliada mais perto de 0,9 vez ou R$ 70 por ação, devido a
especulações sobre a privatização no futuro. A ação fechou a sessão da véspera a R$ 58. A recomendação atual dos ativos pelo BBI é outperform (desempenho acima da média do mercado, ou equivalente à compra).

Continua depois da publicidade

A XP também avalia que, caso haja uma vitória de Tarcísio no segundo turno, haverá um aumento considerável na probabilidade de privatização da estatal. Isso porque o candidato já defendeu abertamente a privatização da companhia, mesmo que, nos últimos meses tenha suavizado seu discurso e evitado comentar sobre essa possibilidade, avalia.

“A alta das ações precifica parcialmente esse aumento da probabilidade de privatização, cenário no qual enxergamos a possibilidade de a Sabesp atingir um múltiplo de 1,3 vez o EV/RAB ou aproximadamente R$ 104 por ação”, aponta, mas também ressaltando que o processo de privatização é complexo e demanda tempo”, aponta.

A Genial Investimentos avalia que é preciso tomar cuidado com o fluxo de notícias e ficar de olho na assimetria de valor na hora de olhar para a Sabesp.

Continua depois da publicidade

“Apesar dos resultados animadores, somos mais cautelosos quanto à eventual privatização da empresa. Primeiramente, temos nossa dúvida quanto a prioridade do novo governo estadual em relação a uma eventual privatização da empresa. E por último, observamos o quanto o mercado está apropriando o cenário da privatização nas ações da Sabesp”. Eles avaliam que, no atual nível de preços, a assimetria de risco/retorno não está tão razoável em comparação com a Copasa, por exemplo, cuja tese será destacada no tópico a seguir.

Para os analistas, uma aproximação da avaliação de uma empresa de saneamento privatizada deveria ser de pelo menos 1 vez a sua base de ativos regulatória. Aos atuais níveis de preço, a empresa negocia com pouco desconto em relação a sua base de ativos, avalia.

“Ou seja, caso o fluxo de notícia venha contra o evento (uma mudança de ideia por parte do candidato), o prejuízo seria mais expressivo do que na Copasa. Se considerarmos o nível de preços da Sabesp ao longo do último ano (cerca de R$ 40 a 45 por ação), as perdas poderiam alcançar entre 20 e 30% as cotações atuais”, avalia a Genial.

Continua depois da publicidade

Eles observam ainda que, se partir do princípio que Tarcísio deva se eleger, o congresso eleito seria razoavelmente favorável ao governador, tendo em vista o apoio derivado da coligação do Tarcício/Rodrigo Garcia e pela composição do corte ideológico, que devem ser pontos a serem acompanhando caso existe a submissão de um projeto de privatização.

Minas Gerais

Copasa (CSMG3) com mais chances, cenário mais difícil para Cemig (CMIG4)

A situação de Minas Gerais é um pouco diferente da Sabesp, aponta a XP. O estado teve seu atual governador Romeu Zema (Novo) reeleito no primeiro turno.

No entanto, existe uma maior complexidade para privatizar a Copasa, dado que seriam necessárias mudanças na Constituição Estadual de Minas Gerais para viabilizar tal processo. Atualmente, a alienação de uma empresa estatal no Estado necessita ser aprovada por três quintos dos votos da Assembleia Legislativa e em um referendo popular. A opção de alterar a Constituição do Estado também exigiria uma maioria de três quintos dos votos.

Continua depois da publicidade

O mercado parece mais confiante com a nova composição da casa legislativa e consequente articulação política entre os poderes Executivo e Legislativo no próximo mandato do governador Zema, destaca a equipe de análise.

Em um cenário de privatização, semelhante à Sabesp, a um múltiplo de 1,3 vez o EV/RAB, o preço poderia atingir R$ 37 por ação. Na última sexta-feira CSMG3 encerrou o pregão a R$ 13,20, ou um múltiplo de 0,6 vez EV/RAB, o que a XP também considera descontado. Na véspera, os ativos fecharam a R$ 15,68.

O Bradesco BBI ressalta que, pelo fato da plataforma de Zema ser pró-privatização, é provável que as estatais Cemig e Copasa voltem a ser destaque. O banco ressalta, porém, que em seu primeiro mandato, o Governador Zema não encontrou respaldo no legislativo estadual para levar adiante a agenda de privatizações.

Em seu segundo mandato, o Governador terá que encontrar formas de negociar o avanço da agenda de privatizações com os políticos locais, exigindo uma mudança em sua abordagem em relação ao primeiro mandato.

Independentemente disso, a primeira empresa a ser vendida (depois da Codemig) provavelmente seria a concessionária de água Copasa (não a Cemig), na visão dos analistas. Além disso, a lei de saneamento, que exige a universalização total dos serviços de saneamento até 2033, é uma razão pela qual todos os estados que possuem concessionárias de água devem buscar a privatização dessas empresas, que geralmente são ineficientes.

A Genial, como já destacado acima, apontou estar mais otimista com o case em Copasa em relação ao case de Sabesp, sendo a empresa mineira de saneamento o “cavalo preferido” para expor a um eventual cenário de privatização. “Nossa leitura é baseada no seu nível de avaliação ainda positivamente assimétrico e em um cenário politico mais bem estabelecido em relação ao governo de São Paulo”, aponta.

Os analistas da casa ainda veem o valuation assimétrico apontando que, aos atuais níveis de preço, veem a Copasa negociando a apenas 0,5 vez o EV/RAB.

“Se trabalharmos em um cenário ultra-conservador de que a empresa deveria valer pelo menos 1 vez em caso de privatização (acreditamos em 1,2 vez – 1,5 vez, sob termos mais realistas) nos leva a acreditar em um potencial de valorização de pelo menos 80-190% em relação aos preços atuais. Caso esse o cenário de privatização simplesmente não se materialize, vemos um potencial de perdas entre 15%-25%, se considerarmos os valores que a empresa negociava antes do fluxo de notícias relacionadas à questão eleitoral”, ressalta.

A Genial aponta que, em teoria, com mais experiência administrativa e um novo mandato, vê um maior apoio da câmara legislativa, principalmente se observamos a composição da bancada do legislativo do estado de Minas Gerais.

Olhando para o corte da base parlamentar, observa a eleição de 21 deputados de partidos que faziam parte da coligação do Romeu Zema (PP, Pode, Solidariedade, Patriota, Avante, PMN, Agir, DC, MDB e Novo) versus 27 deputados eleitos da coligação da oposição (PT, PC do B, PV, PSD e PSB). “Fazendo a análise dos partidos por viés ideológico, os os partidos considerados de direta alcançaram 42% da assembleia. Ou seja, as condições de apoio político para um novo mandato estão bem razoáveis e esperamos que os planos de venda de estatais seja finalmente materializada”, avalia.

Sobre a Cemig, a Genial também vê como um case interessante a ser acompanhado. Entretanto, vale lembrar que a empresa é um holding com uma série de braços de negócios e ativos debaixo do “guarda chuva” da empresa (distribuição, geração, transmissão, gás, etc) e os analistas veem com maior ceticismo uma privatização completa em uma única tacada e de “porteira fechada”, como todos os ativos de uma só vez.

“Acreditamos no cenário de venda parcial dos ativos (TAESA, Gasmig, ativos não-estratégicos, etc). Achamos que uma eventual privatização deve ser preterida em relação à da Copasa, que deve ser muito mais simples em relação a Cemig”, conclui.

Paraná 

Sanepar (SAPR11) e Copel (CPLE6): sem visão de curto prazo para privatizações

Os ativos de Sanepar e Copel subiram na véspera, mas analistas de mercado não têm perspectiva de privatização do ativo.
Carlos Massa (conhecido como Ratinho Junior, do PSD) foi reeleito com 69% dos votos e já apontou não ter desestatizações dos ativos no radar.

“Não esperamos nenhum movimento de privatização no curto prazo no Paraná. Talvez depois da privatização bem-sucedida da Eletrobras (ELET3;ELET6), haja espaço para o Paraná cogitar vender a Copel (e a Sanepar), mas essa é uma discussão que ainda não começou, pelo que sabemos”, apontou o BBI, que tem recomendação neutra para Copel e de venda para Sanepar.

Rio Grande do Sul

Banrisul (BRSR6): cenário pouco se altera

O cenário para o Rio Grande do Sul confirmou os nomes que eram mais ventilados pelas pesquisas de intenção de voto, mas com uma surpresa: Onyx Lorenzoni (PL), candidato de Bolsonaro, terminou a votação à frente de Eduardo Leite (PSDB), que recebeu 37,50% contra 26,81% do tucano. Os dois disputarão o segundo turno no dia 30. Edegar Pretto (PT) terminou na terceira colocação da disputa com 26,77%.

Para o gestor Marcos Peixoto, da XP Asset, levando em conta esse cenário, Banrisul (BRSR6) é um ativo privatizável, apesar de haver uma resistência maior à pauta. “Com Onyx, porém, aumenta a probabilidade. O mercado não vai ficar tão de olho, mas é marginalmente positivo”.

Analistas do JPMorgan também apontaram que não veem a eleição como um “game changer” para o banco estatal gaúcho, com as chances de privatização permanecendo baixas.

Os analistas do banco americano avaliam que não há mudanças materiais no cenário, uma vez que: (i) a assembleia estadual continua a ser liderada por partidos de centro e de direita, embora os partidos de esquerda tenham ganhado alguns assentos (três assentos agora, passando para 35% do total); (ii) ambos os candidatos ao segundo turno são percebidos como favoráveis ​​ao mercado e provavelmente favorecerão uma gestão profissional para o Banrisul; e (iii) as chances de privatização permanecem baixas, pois Onyx Lorenzoni tem sido menos vocal sobre o tema, enquanto a mensagem de Eduardo Leite é de que esta é uma discussão da “sociedade e da assembleia”.

O banco aponta que a constituição estadual já foi alterada em 2021, e um plebiscito para a privatização do banco não é mais necessário. Assim, tendem a ver o processo como uma decisão política neste ponto.

“Enfim, nenhuma mudança importante a nosso ver, e continuamos a ver o cenário para as taxas de juros como mais relevantes para o Banrisul— notavelmente os NIMs [margem líquida de juros] do banco estão sob pressão, diminuindo de cerca de 8% no passado para menos de 5% agora.

De qualquer forma, os analistas avaliam que ainda é cedo para ser mais positivo sobre margens da empresa, e permanecem neutros com o papel.

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.