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SÃO PAULO – Segundo declarações recentes do presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, a autoridade monetária continua em processo de acumulação de reservas internacionais e disposta a entrar no mercado cambial quando for necessário para que ele tenha condições de funcionar. Prova disso foram os últimos leilões realizados de compra pelo BC tanto no mercado à vista quanto no mercado futuro.
Porém, os investidores já devem ter percebido que a moeda não responde de maneira tão rápida ou intensa às intervenções do BC quanto antes. “O dólar não tem uma reação imediata porque essas ações não têm mais o caráter de novidade, todo mundo já espera. É uma maneira dele enxugar um pouco a liquidez”, diz o economista do Silvio Campos Neto, da Tendências Consultoria.
Assim, analistas ressaltam a importância do investidor avaliar o atual momento da moeda sobre uma perspectiva macroeconômica, que leva em consideração o movimento do câmbio internacional. “O que estamos vendo nas últimas semanas é um movimento global de desvalorização do dólar e, com isso, o real também não está imune”, explica Rafael Bistafa, economista da Rosenberg Consultores Associados.
Vale lembrar que, em janeiro, entraram no país US$ 5,4 bilhões via investimento estrangeiro direto, enquanto que no mesmo mês do ano passado, o saldo positivo foi de US$ 2,9 bilhões. “As tentativas do BC de segurar a desvalorização do dólar em um cenário global de desvalorização do dólar não funciona”, completa Bistafa.
O lado bom
Para Fabiano Rufato, diretor de câmbio da Fitta DTVM, as intervenções do BC via leilões buscam uma linha de conforto que pode ser traduzida no dólar a R$1,70. “Isso mantém uma balança comercial sadia e um patamar razoável de equilíbrio. Esse exercício provoca uma coisa muito importante, pois evita o movimento de especulação. Os especuladores ficam sob atenção”, avalia o executivo.
Segundo Rufato, as intervenções dificultam uma volatilidade exarcebada no câmbio local, que tem impacto direto nos negócios. “[As intervenções] permitem que as empresas se organizem, assim como os mercados. O dólar está hoje em um patamar atrativo para a recomposição de reservas do BC, então o leilão possui também este efeito, além de mexer na cotação”, conclui.
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Que medidas esperar?
Todavia, os analistas também já se preparam caso o efeito de controle do leilão seja perdido, e o Governo decida tomar novas medidas macroprudenciais. “Aumento do IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) até 25% ou estabelecimento de uma quarentena, onde o dinheiro que chegar aqui estará impedido de ser convertido ou de ‘fechar o câmbio’ dentro de um prazo que o BC estipular”, enumera João Medeiros, diretor da Pioneer Corretora de Câmbio.
Todavia, a quarentena seria, para os especialistas, a medida mais radical possível neste momento, e portanto, pouco provável de acontecer. “Eu não duvido da capacidade do Governo em fazer distorções no mercado, mas elas só funcionam no curto prazo, pois passam pouco meses tudo volta. Se o Brasil fizer isso poderá dar murro em ponta de faca. Deve vir algo em função do IOF, que já está previsto”, espera Bistafa, da Rosenberg.
Na mesma linha, está Campos Neto, da Tendências Consultoria. “Do ponto de vista do Governo, o espaço para tomar medidas é pequeno, já que o IOF no ano passado pesou bastante no capital de curto prazo. O que resta, é mexer no capital de longo e nos investimentos diretos”.
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Para o economista, o Governo pode colocar IOF na entrada de recursos, por exemplo, tentando reduzir esses fluxos. Isso seria negativo do ponto de vista dos investimentos que ajudam a completar a nossa poupança interna e investir no potencial de crescimento econômica do país.
Neste caso, o imposto cobrado sobre os investimentos diretos poderia seria devolvido, mas Medeiros não acredita nesta possibilidade. “O Governo devolveria esse dinheiro, mas não se sabe quanddo. O mercado não acredita mais nisso. Poderemos ter um precatório lá na frente, ja que o montante que o Governo pega ele não devolve. É histórico isso”, diz o especialista que ainda dispara. “O único dinheiro que vai ficar isento é para exportaçoes, pois seria o cúmulo e mataria o setor expotador”.
Vai cair mais?
A resposta da maioria dos analistas consultados é de que sim, a moeda pode apontar maiores quedas no longo prazo, caso o BC não tome medidas mais radicais e o front externo siga estável. “Dependerá do cenário externo e de um agravamento, podendo fazer o dólar subir de novo. Ele está mais ligado nisso do que nas tentativas do BC”, diz o economista da Rosenberg Consultores Associados.
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O especialista da Tendências Consultoria complementa dizendo que espera maior liquidez no mercado por conta das intervenções do Fed e do BCE, cenário este que colabora para uma maior valorização da moeda em países emergentes. “O reflexo disso tudo é o BC intensificando suas ações, que vão apenas atenuar seus efeitos. Mas a tendência de queda do dólar no curto prazo é muito grande”, finaliza Campos Neto.