De funeral a cápsula em gel: perto do primeiro bi, Unifor faz (e verticaliza) de tudo

Grupo abrange mais de 20 empresas e concilia o negócio de assistência funerária da Ossel com o crescimento de dois dígitos da Sorocaps

Mitchel Diniz Mariana Amaro

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O velho ditado do mundo dos investimentos de que não se pode colocar todos os ovos em um mesmo cesto se aplica perfeitamente à diversificação do Grupo Unifor – que, apesar do nome, nada tem a ver com a Universidade de Fortaleza (do Grupo Edson Queiroz, conglomerado empresarial do Ceará). Mas até o negócio de educação já está na mira dos Marchetti, uma família de empreendedores em série com dezenas de empresas sob gestão. O grupo está em tratativas com o MEC para abrir, ainda este ano, uma escola para a formação de agentes funerários. 

“Não é uma faculdade, é um curso profissionalizante. Geralmente damos cursos para os nossos funcionários, dentro da própria empresa, mas não existe uma formação de fato para o agente funerário”, explicou César Marchetti, CEO do grupo Unifor, ao podcast Do Zero Ao Topo, do InfoMoney.  

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O serviço funerário é a origem da empresa, fundada em Sorocaba (interior de São Paulo), no final da década de 1980, por Arany Marchetti, pai de César. Oriundo de uma família de supermercadistas e afeito a trocadilhos, ele criou a Ossel (lê-se “o céu”)  para oferecer planos de assistência funerária familiar. Diferente do seguro, que costuma somente reembolsar as despesas de um funeral, a assistência assume também a parte burocrática da perda de um parente, como a escolha do caixão, a compra de uma coroa de flores, o traslado do corpo e as tratativas com o cemitério.

Leia mais: Como funciona o seguro funeral? Veja como escolher as melhores opções do mercado

“Meu pai foi o primeiro no país a lançar um plano de assistência em que a pessoa pagava uma mensalidade e não precisava se preocupar com custos e burocracias em um momento difícil”, diz César, que também viveu sua perda recentemente. Arany Marchetti faleceu em 2019, aos 72 anos. “Mesmo trabalhando 30 anos no ramo, fiquei sem saber o que fazer na hora em que recebi a notícia”, admite o CEO do grupo Unifor. 

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Domínio regional

César capitaneou a expansão da Ossel ao levar o serviço de Sorocaba para Santo André e outros municípios da grande São Paulo com uma trabalhosa estratégia de vendas porta a porta. Foi um movimento determinante para que o negócio ganhasse escala e a liderança regional do mercado. Atualmente, a empresa tem clientes em todo o Brasil, incluindo grandes empresas, que oferecem assistência funeral como benefício corporativo. 

“Atendemos de 2% a 2,5% da população brasileira, mas existem 11 mil funerárias e 5.500 cidades no país. Não tem como não ser regional, isso é um serviço que precisa ser local”, explica César. A Ossel faz parte do Consolare, um dos quatro consórcios que fazem a gestão privada dos cemitérios municipais da capital paulista.  

Ao longo das décadas, a empresa foi diversificando e verticalizando o negócio. Os planos funerários passaram a oferecer “benefícios em vida” para seus clientes, como descontos em consultas médicas e, mais recentemente, um serviço de telemedicina com mais de 30 especialidades. “Criamos produtos junto com o plano, para a pessoa esquecer que está pagando pelo funeral”, explica César. 

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O grupo Unifor também montou uma rede de floriculturas e passou a ser a própria fornecedora de insumos para funerais. Lançou ainda a Ossel Pet, oferecendo assistência funerária para animais de estimação nos mesmos moldes do serviço prestado aos donos. Cada novidade era um novo CNPJ que surgia sob o guarda-chuva do grupo, que reúne mais de 20 empresas no total. 

O negócio de cápsulas gelatinosas 

No final dos anos 2000, os Marchetti buscavam um novo negócio para investir, e em um movimento ousado compraram uma máquina de fabricação de cápsulas gelatinosas, comumente usadas em vitaminas e suplementos. Cálcio, ômega 3 e barbatana de tubarão foram os primeiros produtos fabricados em Sorocaba pela nova empresa, batizada de Sorocaps, provando que o seu Arany gostava mesmo de trocadilhos. 

A produção da indústria farmacêutica brasileira é predominantemente de cápsulas duras e os Marchetti perceberam que enfrentariam concorrência pesada se fossem por esse mesmo caminho. Enquanto fabricante de softgel, porém, o grupo se tornou um dos pouquíssimos players desse mercado e encontraram uma alta demanda. Ultrafarma, Cimed, Raia Drogasil e Nestlé são alguns clientes da Sorocaps, que vem crescendo em ritmo de 40% a cada ano.  

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“Se você olhar em uma gôndola que tem softgel, a maioria vai ter escrito lá: produzido por Sorocaps”, diz César. A empresa importa os insumos, produz os suplementos e ainda tem uma fábrica de potes para envase do produto, além de uma gráfica para a impressão de rótulos. Ou seja, assim como no serviço funerário, o Grupo Unifor também verticalizou sua vertente de cápsulas gelatinosas. 

“O cliente só coloca o produto na prateleira e vende”, diz o CEO. Só com a fabricação das cápsulas pela Sorocaps, o grupo deve faturar R$ 400 milhões este ano. Em 2025, as empresas do conglomerado devem gerar, juntas, o primeiro bilhão em receitas.   

Negócios de pai para filho (e filha) 

Entre os outros negócios do Unifor está um restaurante especializado em harmonização com vinhos, o Mont Cristo Wine & Bar. “Tem taça de vinho de R$ 5 e de R$ 5 mil”, conta César. Quem cuida do negócio é o filho, César Marchetti Filho, que também é sócio de uma marca de roupas de streetwear, a Quadro Creations. A filha do empresário, Giullia Marchetti, é uma influenciadora de moda com mais de 400 mil seguidores do instagram e também lançou uma marca de roupas e acessórios, a Leoni per Me. 

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Aqui, a regra da verticalização também vale: a família montou uma confecção para produzir as peças das duas marcas e é de lá que também saem os uniformes para os 1.200 funcionários do grupo. Para os Marchetti, tudo parece ser uma oportunidade de negócio.

Sobre o Do Zero ao Topo

O podcast Do Zero ao Topo entra no seu quinto ano de vida e traz, a cada sexta-feira, a história de mulheres e homens de destaque no mercado brasileiro para contar a sua história, compartilhando os maiores desafios enfrentados ao longo do caminho e as principais estratégias usadas na construção do negócio.

O programa já recebeu nomes como o Fernando Simões, do Grupo Simpar; Stelleo Tolda, um dos fundadores do Mercado Livre; o empresário Abílio DinizRodrigo Galindo, chairman da Cogna; Paulo Nassar, fundador e CEO da Cobasi; Mariane Morelli, cofundadora do Grupo Supley; Luiz Dumoncel, CEO e fundador da 3tentos; José Galló, executivo responsável pela ascensão da Renner; Guilherme Benchimol, fundador da XP Investimentos; e contou dezenas de histórias de sucesso. Confira a lista completa de episódios do podcast neste link.

Mitchel Diniz

Repórter de Mercados