De caso perdido ao renascimento: as lições aprendidas pela OGX para sair da recuperação judicial

Em conferência, o presidente da companhia Paulo Narcélio destacou como foi o processo e mostrou como a companhia teve que mudar para sair da recuperação judicial

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Grandes mudanças. De megalômana com o empresário Eike Batista a caso perdido na Bolsa, a OGX Petróleo (OGXP3) praticamente ressurgiu das cinzas – e do ostracismo no mercado – ao anunciar no início de agosto a saída da recuperação judicial. A companhia entrou no processo em 2013 e, na época, as dívidas da companhia superavam R$ 13,8 bilhões, tornando a recuperação judicial a maior da América Latina na época. 

Em reunião pública com os analistas realizada na tarde da última quinta-feira (24), o presidente da OGX, Paulo Narcélio, destacou as lições aprendidas pela companhia quando estava “no fundo do poço” após anos de glória. 

São elas: i) gestão baseada no caixa; ii) confiar em seu advogado (no caso, Sérgio Bermudes, que deu entrada e participou do processo de recuperação da companhia); iii) agir em consonância com os reguladores e autoridades; iv) evitar concentração excessiva em ativos exploratórios; v) limitação de escopo de certos advisors e vi) transparência com todos os stakeholders (que abrangem os acionistas, dirigentes, credores, entre outros envolvidos no processo. 

Em 2013, a companhia passou por uma tempestade perfeita, apontou Narcélio. Os bondholders (detentores de títulos de dívida da petroleira) ameaçavam falir a empresa, a imagem dela era a pior possível e comentava-se todos os dias que ela poderia ir à falência em decorrência do colapso do grupo EBX. Soma-se a isso uma questão de caixa muito séria, agravada pelo fato do campo de Tubarão Martelo começar a entrar em operação, que é uma fase onde são necessários os maiores dispêndios de recursos. No cenário macroeconômico, as notícias também não eram nada boas, uma vez que havia um grande número de empresas entrando em recuperação judicial, com poucas saindo dela com um “final feliz”.

Porém, para atravessar o mar turbulento desse processo, Narcélio afirmou que a OGX conseguiu transmitir para os credores e acionistas que a melhor alternativa seria não falir a empresa. O grande desafio, superado, seria mostrar que a empresa possui capacidade produtiva para gerar valor aos acionistas, além de permitir a convergência de interesses. Logo após a homologação da recuperação, houve um outro desafio a ser superado: a forte baixa do petróleo, com o brent passando de US$ 110 o barril para US$ 40 e, depois, para US$ 28. 

“Foi necessária toda uma adaptação do plano para a companhia conseguir executar e tornar possível a saída do processo, com a adoção de uma série de medidas como a renegociação de todos os contratos para permitir que a empresa continuasse operando”, aponta Narcélio. 

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Ao ser questionado sobre como foi a sua relação com os credores – que, por sinal, tornaram-se acionistas no processo de recuperação -, Narcélio afirmou que ela não foi amistosa no início. Contudo, ressaltou novamente que a convergência de interesses e a visão de que a falência seria o pior cenário acalmaram as tensões. “Tudo o que foi feito foi o melhor para a companhia e levou em conta o interesse de todos, sem má fé e tratamento desigual”. 

Mudança em seis frentes

Na prática, o que foi feito para que os credores aceitassem o plano de recuperação judicial? Uma mudança de cultura foi muito necessária: ao invés dos diversos investimentos feitos durante a “era de ouro” de Eike Batista, maior foco nos ativos existentes e evitando novos negócios (e, consequentemente, mais investimentos). O foco passou a ser Tubarão Martelo, “o presente e também o futuro” da empresa. 

De um modo geral, seis fatores foram decisivos para o cumprimento do plano: i) a gestão focada em geração de valor por meio da estrutura existente, reduzindo custos, vendendo ativos e renegociando contratos, de modo a manter a capacidade produtiva; ii) centralização da gestão de caixa, com mecanismos para assegurar que pagamentos passassem por um verdadeiro “escrutínio” da diretoria; iii) reformulação do time de gestores, que possui a mentalidade atual de que a questão não é “gastar por gastar”; iv) transformação de uma estrutura verticalizada e rígida por uma estrutura horizontalizada, com a equipe alinhada aos interesses da companhia, além de um “enxugamento” do número de empregados; v) revisão da compensação de colaboradores e diretores e v) por fim, o desinvestimento dos ativos exploratórios. 

Este último ponto foi destacado por Narcélio como bastante importante para a virada da OGX, porque havia vários ativos no pórtfólio cujos investimentos eram custeados pelos acionistas o que, do ponto de vista de uma empresa de petróleo independente, é muito arriscado. “Aprendemos isso a duras penas com a recuperação judicial”, aponta. 

O futuro da OGX

Agora, algumas mudanças devem acontecer, como a incorporação da OGPar à OGX, além das alterações no Conselho de Administração e principalmente, a mudança de nome para Dommo Energia, a ser proposta em assembleia geral em 6 de setembro. 

Narcélio ressalta que a situação da companhia é bem mais confortável, com um caixa de US$ 15 milhões, ainda mais se comparado ao “patamar zero” que ela possuía na época da recuperação judicial. 

No portfólio de ativos da companhia, estão atualmente a Tubarão Martelo, em que a empresa tem 100% de participação, com volume recuperável estimado em 70 milhões barris de óleo equivalente. Além disso, a companhia tem participação de 40% no BS-4 em parceria com a QGEP (QGEP3) e Barra Energia que, no primeiro trimestre de 2018, vai produzir 20 mil barris por dia, além de manter um capital de 6,22% na Eneva, assim como o campo de Lula. 

Outro ponto destacado como diferencial após a recuperação judicial são os créditos fiscais da petroleira em decorrência dos prejuízos em exercícios anteriores. Com créditos tributários, haveria a possibilidade de amortização de lucros futuros em cima dos prejuízos, com o não pagamento de impostos no total de US$ 2,4 bilhões, além de um crédito de PIS/Cofins de US$ 30 milhões. 

Narcélio também destacou as projeções recentes apontando que, com a entrada de operação da BS-4, a OGX vai praticamente dobrar a sua receita, de certa de US$ 124 milhões. Além disso, projeta um crescimento na geração de caixa para US$ 120 milhões com a venda de uma participação relevante no campo de BS-4.

Além da exploração de petróleo, Narcélio também não descartou outros projetos da companhia em energia alternativa como eólica ou solar – mas no futuro. “O estatuto da companhia, talvez por sorte, já permite que a empresa participe de qualquer empreendimento voltado à produção de energia. Podemos buscar investidores tanto de óleo e gás quanto para qualquer outro segmento do setor”, avaliou. 

A passos mais lentos, a OGX conseguiu superar grandes desafios e atravessar a tão turbulenta fase da recuperação judicial. Agora, a empresa tem novas perspectivas após o processos – mas sempre com a cautela como conselheira. 

Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.