De BRF (BRFS3) à JBS (JBSS3): primeiros casos de gripe aviária reportados no Brasil devem preocupar investidores?

Analistas do BBA veem o evento como de baixo risco, mas apontam que BRF seria relativamente a mais impactada caso haja escalada

Equipe InfoMoney

Thalasseus_acuflavidus (Foto: Wikimedia Commons)
Thalasseus_acuflavidus (Foto: Wikimedia Commons)

Publicidade

Na última segunda-feira (15), uma má notícia afetou os frigoríficos na Bolsa. O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) confirmou dois casos de Influenza Aviária (H5N1) no estado do Espírito Santo em aves silvestres.

Dois animais são da espécie Thalasseus acuflavidus, conhecida Trinta-réis-bando, e foram resgatados no litoral do Espírito Santo. O terceiro é uma ave migratória da espécie Sula leucogaster (atobá-pardo), que estava no Instituto de Pesquisa e Reabilitação de Animais Marinhos de Cariacica (Ipram), desde janeiro.

Segundo o comunicado, a doença não atingiu nenhuma fazenda de produção de frango até o momento, o que significa que nenhuma restrição sanitária foi imposta, por enquanto. Entretanto, dependendo do desenvolvimento do cenário epidemiológico, novas medidas podem ser adotadas pelos órgãos sanitários para evitar a propagação de novos casos da doença.

Na avaliação do Itaú BBA, “o evento é de baixo risco e de alto impacto para o segmento, por ora”.

De acordo com os analistas, episódios anteriores de gripe aviária tiveram impactos variados na dinâmica de exportação em outros países onde foram registrados, mas esta é a primeira vez que a doença é registrada no Brasil.

A restrição de exportação de frango na Argentina, em março, pode ser usada como um comparativo recente, enquanto a restrição chinesa imposta às exportações de frango dos EUA em 2015 pode ser comparável em um cenário mais pessimista para os exportadores brasileiros.

Continua depois da publicidade

Em meados de fevereiro, o primeiro caso de gripe aviária em uma ave selvagem foi anunciado na Argentina, levando o país a declarar emergência sanitária nos dias seguintes. Em 28 de fevereiro, a Secretaria de Agricultura da Argentina confirmou um caso da doença em uma fazenda de produção, suspendendo imediatamente as exportações de aves até 31 de março, quando a proibição autoimposta foi levantada. No caso dos EUA, o surto durou de dezembro de 2014 a junho de 2015 e levou ao abate de mais de 50 milhões de animais no país. Na ocasião, mais de 20 países proibiram importações dos estados americanos afetados pela doença.

Embora ainda seja cedo para saber se casos novos de contaminação serão confirmados ou não, ou se restrições sanitárias serão impostas às exportações de frango do Brasil, o BBA avalia que os potenciais impactos em um cenário negativo seriam mais relevantes para a BRF (BRFS3) e para a JBS (JBSS3), em menor escala. Além disso, a Marfrig (MRFG3) poderia ser impactada negativamente diante de sua exposição indireta ao mercado de aves por meio da sua participação na BRF.

Por outro lado, esperam efeitos mistos para a Minerva (BEEF3): por um lado, o excesso de oferta doméstica de proteína poderia pressionar os preços da carne bovina brasileira, comprimindo inicialmente. Por outro lado, isso também levaria a preços mais baixos de gado, já que competidores domésticos teriam dificuldades com uma dinâmica de lucratividade desafiadora, potencialmente levando a um ambiente mais benigno para exportadores.

Continua depois da publicidade

Na véspera, logo após a notícia, as ações da BRF chegaram a cair 6,75%, mas fecharam em queda de 1,35%.

“A ocorrência de gripe aviária em animais silvestres, por enquanto, nada muda. Só mudará se identificarem a doença em uma granja comercial, aí nós teríamos o fechamento da unidade e a implementação de um raio sanitário na região, o que seria muito pior” fala Leonardo Alencar, analista da XP Investimentos. “Estamos perto do fim do fluxo de aves migratórias e o risco irá zerar. Mas, pelo ruído, tende a ser negativo”.

“A Argentina recentemente teve casos de gripe aviária. Ficou com suas exportações impedidas por 20 dias e depois voltaram. Argentina, porém, é pouco relevante no mercado mundial. Brasil, se ficar fechado, impactaria consideravelmente mais”, reforça Alencar.