De alta de 11% à queda de 7% das ações: como foram os resultados que agitaram a bolsa nesta quarta?

Além de RD, OdontoPrev e Wiz tiveram um forte desempenho positivo na esteira do balanço do quarto trimestre, enquanto SulAmérica é o destaque de queda entre as empresas que divulgaram resultados

Lara Rizério

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SÃO PAULO – A RD (RADL3) roubou a cena na sessão desta quarta-feira (27) em meio à forte alta de até 11% em meio à combinação de resultados acima do esperado (ainda que mostre grandes desafios a serem enfrentados pela companhia farmacêutica) e a aquisição da drogaria Onofre, sendo mais um componente para a companhia intensificar as suas ações no e-commerce (veja a análise clicando aqui). 

Porém, entre a noite de ontem e a manhã desta quarta, diversas outras companhias divulgaram balanços que repercutiram e muito no mercado acionário, tanto para alta quanto para baixa dos ativos. 

Assim como a RD, a OdontoPrev e a Wiz são também grandes destaques de alta na Bolsa, com os papéis chegando a subir 8% na esteira dos balanços. Por outro lado, os ativos do Carrefour Brasil e da SulAmérica registram forte queda com o mercado de olho nas perspectivas das companhias pós-balanço. 

Confira abaixo as ações que foram impactadas pelo balanço do quarto trimestre – tanto para o “bem” quanto para o “mal” -, além daqueles que tiveram uma repercussão morna aos números do período. 

Os balanços que agradaram:

 

Odontoprev (ODPV3)

As ações da Odontoprev registram uma forte disparada após a companhia registrar um lucro líquido de R$ 77,4 milhões no 4º trimestre de 2018, 21% acima do apresentado no mesmo período do ano anterior. O Ebitda ajustado subiu 20,4%, para R$ 112,99 milhões, com expansão de margem de 25,3% para 26,1%.

No acumulado do ano, a empresa teve um lucro líquido de R$ 284,8 milhões e um Ebitda de R$ 415,3 milhões (alta de 18,1%), com margem de 26,1%.

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Na opinião do Itaú BBA, os resultados vieram robustos, suportados por números ‘saudáveis’ da empresa recém-adquirida (Odonto System), aumento de membros no segmento individual e mais um trimestre animador na divisão corporativa. 

Já o Credit Suisse ressaltou que a companhia entregou mais um trimestre sólido, sendo um bom sinal de que ela está no caminho certo, com dados de receita, Ebitda e lucro líquido ficando acima do consenso. 

“A nossa leitura é de que a empresa esta melhorando a sua receita de forma gradativa em um ritmo ainda não muito acelerado. Os planos individuais finalmente começam a aparecer no balanço como um catalisador de crescimento e o segmento corporativo deixou de ser um peso no crescimento combinado”, avaliam os analistas do banco suíço. Eles ressaltam, contudo, que o segmento de pequenas e médias empresas ainda deve demorar um pouco para esboçar reações. Contudo, seguiram com recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos, com preço-alvo de R$ 17 por ação. 

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Wiz (WIZS3)

A Wiz reportou um lucro líquido de R$ 49,6 milhões entre outubro e novembro de 2018 – um aumento de 24,5% em comparação com o mesmo período do ano anterior. A receita líquida foi de R$ 154,2 milhões (+14,8%) e o Ebitda ficou em R$ 84,6 milhões (+37,3%), com margem de 54,9%.

No acumulado do ano, a companhia registrou um lucro líquido de R$ 184,4 milhões (aumento de 12,9%) e receita líquida de R$ 655,8 milhões (aumento de 10,7%).

O Itaú BBA já havia apontado, antes da abertura dos mercados, por uma reação positiva dos papéis, com a receita crescendo aproximadamente 4% a mais do que as estimativas dos analistas. Já a a divisão de seguros de automóveis segue com dificuldade”, destacaram. Além disso, também houve uma reação de forte queda nas despesas gerais e administrativas, com redução de dois dígitos. 

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Porém, vale destacar que um dos grandes fatores para determinar o rumo dos papéis ainda está à espera de definições. “Apesar dos bons resultados operacionais e do sólido crescimento do lucro líquido, o processo de licitação da Caixa Seguros permanece incerto, o que deve continuar pesando no preço da ação. Além disso, o recente adiamento da renovação do contrato do CNP-Caixa Seguros aumenta a incerteza sobre quando acordo será concluído”, destaca o Bradesco BBI. 

AES Tietê (TIET11)

A AES Tietê registrou um lucro líquido de R$ 104,9 milhões no último trimestre de 2018, um avanço de 142% em relação ao mesmo período de 2017. A receita operacional líquida ficou praticamente estável, em R$ 466,7 milhões, e o Ebitda subiu 35,6%, para R$ 269,3 milhões.

No acumulado do ano passado, a companhia teve um lucro líquido de R$ 288 milhões (recuo de 3,5%) e somou uma receita total de R$ 1,92 bilhão.

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Na opinião da Brasil Plural, os resultados vieram em linha com o esperado, marcados por um cenário hidrológico mais favorável no período. Os analistas afirmam que a AES Tietê está negociando a níveis atrativos, mas destacam que alguns eventos no horizonte podem pressionar a ação como, por exemplo, um aumento de capital para acompanhar sua estratégia de fusões e aquisições.

A equipe de Research da XP Investimentos destaca que os resultados vieram levemente positivos, uma vez que o lucro veio em linha com o estimado por eles e acima do consenso de mercado. “A AES Tietê continua nossa top pick no setor elétrico por negociar a desconto em relação a pares do setor e apresentar eventos que podem destravar valor no futuro, como a eventual aprovação do Projeto de Lei 10985/2018, que endereça os impactos do risco hidrológico”, escreve o analista Gabriel Francisco.

O futuro também aponta para ser promissor, com maiores vendas de energia no mercado livre, boa performance de custos e o aumento da contratação de energia para os próximos anos, conforme apontam os analistas do Credit. Além disso, a empresa anunciou seu novo guidance de capex, totalizando R$ 662 milhões e o pagamento de dividendos complementares no valor de R$ 0,20 por ação. Contudo, os analistas seguem neutro com o papel, com preço-alvo de R$ 10,50 por ativo. 

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Os destaques negativos…

 

SulAmérica (SULA11)

A SulAmérica viu seus papéis caírem até 7% com a combinação de resultados negativos e redução de recomendação pelo JPMorgan logo após a divulgação dos números.

A seguradora registrou um lucro líquido de R$ 393,6 milhões no 4º trimestre de 2018, recuo de 4,6% frente ao apurado no mesmo período de 2017. Segundo a companhia, o motivo é o aumento pontual nos sinistros retidos entre outubro e dezembro.

Em 2018, a companhia registrou receitas totais de R$ 20,5 bilhões (alta de 12,5%), lucro líquido de R$ 905 milhões (+17%) e retorno sobre o patrimônio líquido (ROAE) de 15,2%.

Na opinião da Brasil Plural, o resultado “não foi tão bom” quanto eles esperavam. “Com a economia pronta para se recuperar, o emprego crescendo novamente, uma tendência de consolidação no setor, novas iniciativas para manter sua vantagem e a crescente necessidade de cuidados de saúde no Brasil, acreditamos que uma queda no preço da ação deveria ser um bom ponto de compra. No entanto, como alertado anteriormente, a visibilidade do negócio é bastante baixa, com forte sazonalidade entre os trimestres, tornando a visibilidade de curto prazo ainda mais desafiadora”, escrevem os analistas. 

a recuperar sua expansão de margem no começo de 2020″, escrevem os analistas.Confira a análise completa clicando aqui. 

Carrefour Brasil (CRFB3)

A primeira vista, os resultados do Carrefour Brasil não pareciam tão ruins, mas os ativos tiveram uma forte queda de até 6% na sessão. A varejista de supermercados teve um lucro líquido atribuído aos acionistas e controladores de R$ 636 milhões no 4º trimestre de 2018, uma alta de 6,7% na comparação com o mesmo período de 2017.

Com relação ao Ebitda, este somou R$ 1,3 bilhão, aumento de 18,8% na comparação anual. A receita subiu para R$ 15,2 bilhões e as vendas líquidas subiram 10,1%, para R$ 14,4 bilhões.

Em 2018, a companhia registrou um lucro líquido acumulado de R$ 1,66 bilhão (alta de 3,8%) e uma receita total de R$ 54,3 bilhões (alta de 7,9%).

“Apesar dos resultados fortes e iniciativas de transformação digital da empresa, ainda acreditamos que o Carrefour continua com upside de vendas limitado em comparação com seu principal rival CBD, que está significativamente focado na diferenciação do seu negócio de varejo e possui ainda um parque de lojas ainda em estado de maturação  que pode promover significativo crescimento potencial de vendas nos próximos anos”, comentam os analistas da Brasil Plural.

Conforme destaca o Itaú BBA, no geral, o Carrefour teve um bom quarto trimestre, mas ressalta que houve uma pressão de margens que levou a um Ebitda abaixo do esperado. O Atacadão teve um bom desempenho mas, por outro lado, o segmento de varejo continuou a sofrer, afetado tanto pela crescente participação do comércio eletrônico quanto pelo crescimento ameno das vendas. De qualquer forma, as perspectivas para os papéis seguem positivas, com os analistas mantendo recomendação outperform. 

“Meio-termo” na bolsa

 

Iguatemi (IGTA3)

A Iguatemi apurou um lucro líquido de R$ 76,1 milhões no 4º trimestre do ano passado, um aumento de 14,1% na comparação anual. A receita líquido ficou em R$ 200,5 milhões (alta de 8%) e o Ebitda somou R$ 159 milhões, com margem de 79,3%.

No acumulado de 2018, a administradora de shopping centers registrou um lucro líquido de R$ 260,3 milhões (aumento de 17,6%) e receita líquida de R$ 721,5 milhões.

De acordo com os analistas do Credit Suisse, os resultados vieram negativos, com um nível maior do que o esperado de custos de SG&A (Vendas, Gerais e Administrativas, na sigla em inglês). Eles contam que o nível de performance operacional pareceu bom, mas já estava na conta da maioria dos investidores. “Acreditamos que o resultado do trimestre deve trazer alguma revisão pra baixo dos lucros e nos levaram a adotar uma postura um pouco mais conservadora”, escrevem, mantendo a recomendação ‘neutra’ para os papéis.

Enel Distribuidora (ELPL3)

A Enel (antiga Eletropaulo) reportou um prejuízo líquido de R$ 315,261 milhões em 2018, queda de 64% em relação ao mesmo período de 2017. A receita líquida subiu 10,8%, para R$ 14,489 bilhões, enquanto o Ebitda chegou a R$ 1,1 bilhão – queda de 25,8%.

Por conta da melhora no resultado financeiro, a companhia apurou um prejuízo líquido de R$ 157 milhões no 4º trimestre, redução de 83,9% na comparação anual. O Ebitda também recuou, 38,7%, para R$ 218,3 milhões.

A companhia registrou alta nos custos com pessoal, provisões e encargos setoriais e alavancagem seguiu subindo, apesar do recente aumento de capital. Por outro lado, houve melhora na qualidade operacional, com os indicadores de duração e frequência das interrupções registrando baixa e voltando a ficar dentro do estabelecido pela agência regulatória. 

Aliansce (ALSC3)

A empresa de shopping centers registrou um lucro líquido de R$ 61,3 milhões no 4º trimestre de 2018, recuo de 19,7% em relação ao mesmo período de 2017 e margem de 38,1%.O Ebitda ajustado ficou em R$ 13,4 milhões, com margem de 77,2%.

Também no último trimestre, o Aluguel Mesmas Lojas (SSR) e Aluguel Mesmas Áreas (SAR) cresceram 5,5% e 5%, respectivamente. No período, a taxa de ocupação atingiu 97,8%.

Para o Credit Suisse, os resultados vieram sólidos e reforçaram a visão de que a companhia está no caminho certo. Segundo a equipe de análise, a melhora veio tanto de vendas quanto do crescimento de aluguéis, menor inadimplência, menores custos de ocupação e maior taxa de ocupação.

Acreditamos que os sinais parecem claros de que a empresa deve conseguir crescer o top line e, consequentemente, trazer algumas revisões de lucros. O papel está descontado em relação à media do setor (15% em relação aos outros shoppings) e com um valuation (15x P/FFO 2020) que nos parece atrativo”, escrevem os analistas.

Ourofino (OFSA3)

No 4º trimestre de 2018, a Ourofino, de produtos veterinários, registrou um lucro ajustado de R$ 21,5 milhões, recuo de 6,1% em relação ao mesmo período de 2017. A receita líquida foi de R$ 175,3 milhões (+8,2), com Ebitda ajustado de R$ 36,5 milhões e margem de 20,8%.

Segundo a companhia, 2018 foi o melhor ano da história em receitas e com aumento de rentabilidade. A Ourofino fechou o ano com receita líquida de R$ 589 milhões (+17%), lucro líquido ajustado de R$ 71 milhões (+56%) e Ebitda ajustado de R$ 132 milhões (+27%).

Conforme aponta o Itaú BBA, a empresa poderia ter gerado mais caixa do que os R$ 42,8 milhões reportados no ano de 2018, mas foi prejudicada por estoques mais elevados. Nesse cenário, os analistas do banco mantêm a classificação em market perform na Ourofino, com um preço-alvo de R$ 32 por ação até o fim de 2019. “O preço atual da ação já representa um forte crescimento e nós acreditamos que é muito cedo para pagar as estimativas mais altas para a fase inicial de produção da fábrica de vacinas”, apontam os analistas. 

Enquanto isso, na Nasdaq…

Também entre os resultados, ganha destaque uma companhia que tem uma forte operação no Brasil, mas que não negocia as suas ações por aqui, e sim na Nasdaq. Trata-se do Mercado Livre, que vê seus papéis saltarem 18% nos EUA. 

À primeira vista, o prejuízo 89,5% maior na comparação anual, passando para US$ 6,8 milhões no quarto trimestre deste ano, poderia assustar, mas a alta de 19,5% da receita líquida em dólar, para US$ 428 milhões, e o destaque para o Mercado Pago com aceleração do crescimento da plataforma de pagamentos foram vistos como pontos positivos para a companhia. 

“Isso ajudou a contrabalancear o déficit em GMV (volume de mercadoria bruto, termo usado em varejo online para indicar um valor total em dólares de vendas de mercadorias total no país) em relação às nossas expectativas”, avalia o Credit Suisse. Os analistas reiteraram a recomendação outperform (desempenho acima da média do mercado) para os ativos, elevando o preço-alvo de US$ 398 para US$ 420. 

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.