CVC (CVCB3): sem CFO e agora sem CEO, cenário se torna ainda mais desafiador; ação fecha em baixa de 4,6%

Anúncio da véspera deixa a empresa sem os principais diretores-chave, em momento de reperfilamento de dívida e com resultados pouco animadores

Equipe InfoMoney

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Um cenário desafiador sempre pode se tornar mais desafiador. Cerca de um mês após a saída do CFO, Marcelo Kopel, a CVC (CVCB3) anunciou a renúncia do seu presidente-executivo, Leonel Andrade, na noite da última quarta-feira (24).

Antes do anúncio, as ações já haviam caído 7,56% na sessão da véspera e analistas já projetavam, antes da abertura do mercado, ainda mais pressão para os papéis com a saída de Andrade na sessão desta quinta-feira (25). O início da sessão foi volátil: após uma abertura em queda, os papéis chegaram a ter leves ganhos, acompanhando a forte alta do Ibovespa. Contudo, os papéis firmaram seu movimento de queda no fim da manhã, que se estendeu por toda a sessão: os ativos fecharam em queda de 4,63%, a R$ 2,68.

Cabe destacar que, no acumulado do ano até a sessão do último dia 24 de maio, os papéis CVCB3 acumulam baixa de 37,4%, a segunda maior baixa do Ibovespa em 2023.

A CVC, que não anunciou um substituto, afirmou que o processo de sucessão foi iniciado. Andrade estava na companhia desde abril de 2020, quando assumiu o comando do grupo. Cabe destacar que a posição de Kopel estava sendo acumulada por Andrade.

A CVC afirmou que, “de forma a assegurar a continuidade das operações da companhia”, o Conselho de Administração da empresa criou um comitê de transição, a ser liderado pelo conselheiro Sandoval Martins, a partir desta quinta-feira.

A saída dos dois principais quadros da CVC dentro do intervalo de um mês ocorre em um momento no qual a companhia busca reestruturar dívidas, após fortes dificuldades enfrentadas nos últimos anos, em especial por causa da pandemia de Covid-19.

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Eliane Silveira Lapa, atual de diretora de governança corporativa e compliance, acumulará a cadeira de relações com
investidores, segundo a CVC.

O JPMorgan aponta que Andrade foi a mente por trás da estratégia de busca de recuperação da empresa, que foi prejudicada pelos desafios de execução em meio ao Covid-19, cenário macroeconômico mais fraco e balanço patrimonial altamente alavancado.

O anúncio um mês após a saída do CF deixa a empresa sem os principais diretores-chave logo após o reperfilamento de sua dívida e com compromissos em torno de outro aumento de capital até o final do ano para reduzir a alavancagem.

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“Além disso, além das questões de balanço, a empresa continua enfrentando desafios operacionais significativos devido à pressão que segue sobre a renda disponível e à baixa demanda por viagens entre seus consumidores-alvo, com os resultados do 1T23 sendo um bom indicador disso”, aponta o JP.

No primeiro trimestre de 2023, a companhia registrou um lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações (Ebitda, na sigla em inglês) de R$ 15,8 milhões (-52,5% na base anual), impactado negativamente pelo aumento das despesas e  levando a uma piora da alavancagem operacional.

“Levando tudo em conta, evitamos CVC”, aponta o JPMorgan, que tem recomendação underweight (exposição abaixo da média do mercado, equivalente à venda) para o ativo.

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O Citi, por sua vez, reiterou recomendação neutra para o papel  e destaca que já existe um plano de sucessão em andamento e os acionistas de referência têm sido mais ativos na empresa (caso do Opportunity, com um assento no Conselho.

A Guide também aponta a notícia como negativa, uma vez que a CVC está em uma situação operacional e financeira difícil. “A saída do CEO sem um plano claro de transição deve dificultar ainda mais a recuperação da empresa e ser mal recebida pelos investidores (mesmo considerando a queda de 7% da CVCB3 ontem)”, apontam.

Heitor Martins, especialista em renda variável na Nexgen Capital, reforça que Andrade renunciou num momento muito ruim para a companhia, uma vez que a CVC passa por um processo de reestruturação, tanto na parte operacional quanto na estrutura de capital.

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“Na operacional, a CVC tentava se adaptar às novas condições do mercado de turismo, principalmente depois da pandemia, sendo importante ressaltar que Andrade entrou justamente nessa época de pandemia (…). Na estrutura de capital, houve renegociação de dívidas e estava em estudo uma proposta de revisões de ações que seriam usados para amortizar dívida. Essa saída vai deixar a CVC com uma brecha na organização. Naturalmente é de se pensar que a empresa vá buscar um novo CEO e um novo CFO com o mesmo perfil, para dar continuidade ao processo de reestruturação de capital e de operações”, avalia.

(com Reuters)