Publicidade
SÃO PAULO – A crise de 1987 assustou os norte-americanos. Até aqueles que não investiam na Bolsa de Valores de Nova York (NYSE). A segunda-feira, 19 de outubro, também chamada de “black monday“, registrou a maior queda do índice Dow Jones em apenas um dia, impressionantes 22,6%.
Mas, de lá para cá, o que mudou? Os mercados aprenderam alguma lição? Antes de responder às perguntas, vamos as causas daquele grande tropeço, que chegou a ser duas vezes maior do que a maior desvalorização diária da crise de 1929.
Uma coisa parece certa, crises financeiras não são coisas do passado, como se pensava à época. Depois daquele final de década, outros grandes soluços tiraram o sono dos investidores, como a crise do subprime que, entre agosto e setembro deste ano, trouxe dias e semanas de pânico.
“O fascinante é que vinte anos depois, nós ainda não sabemos muito mais sobre as causas da crise do que sabíamos quando ela aconteceu”, escreveu Matthew Rees em artigo recente na revista The American.
Segunda-feira negra | |
Empresa | Variação (US$) |
General Eletric | 50 para 41 |
AT&T | 30 para 24 |
Exxon | 44 para 33 |
IBM | 134 para 103 |
Eastman Kodak | 89 para 63 |
Fonte: The American Magazine
O porquê
A frase de Rees documenta um sentimento que também é sentido por outros profissionais do mercado, entre eles o ex-chairman do Banco Central norte-americano (Federal Reserve), Alan Greenspan, como revela em seu recente livro de memórias. O economista havia assumido o comando Fed apenas algumas semanas antes.
Duas hipóteses são citadas para explicar o movimento. A primeira é o mercado futuro. “Os contratos futuros no índice S&P 500 eram praticamente novos. Conforme as ações caíam, alguns venderam os seus contratos – e a queda deles levou a uma tombo maior ainda nas ações”, avalia Robert J. Samuelson, colunista da Newsweek e do Washington Post.
Outro fato também é apontado como causador da queda. “O que ocasionou a queda do dia 19 de outubro ninguém sabe ao certo. A causa mais citada é a venda automática acionada por programas de computador”, afirmam os analistas Joachim Klement e Thomas Wacker do banco de investimentos UBS em relatório publicado recentemente.
O banco, contudo, lembra que as quedas também foram verificadas em mercados que não contavam com os referidos programas de computador. “Portanto, os eventos foram causados pela combinação entre program trading, enxugamento da liquidez e pânico”, mostram os analistas.
O que mudou?
Para o CIO (Chief Investment Officer) da Clearbook Financial, uma casa de investimentos nos EUA que administra aproximadamente US$ 10 bilhões, Tom Sowanick, os investidores têm prestado pouca atenção nas mudanças da composição do mercado de ações e a conseqüente alteração da fonte do risco.
“O que chamou a minha atenção quando eu estava olhando a performance dos mercados na última semana, foi que 4 das 10 maiores variações da NYSE eram empresas chinesas”, afirma Sowanick. Há vinte anos atrás, nenhuma ação chinesa era negociada, e apenas 5 ADRs (American Depositary Receipts). Três britânicos e dois japoneses.
Nos últimos cinco anos, 50 ADRs chegaram ao mercado, sendo que onze eram chineses. “O antigo ditado ‘os EUA espirram e o resto do mundo pega um resfriado’ é menos relevante hoje do que era em 1987”, diz o analista. Segundo ele, o que acontece hoje é: “Quando a China espirra, os EUA podem ser um dos que pegarão o resfriado”.
Com o crescimento da participação dos emergentes nos mercados internacionais, especialmente os países que compõem o BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China), “é bem possível que os mercados estrangeiros sejam os causadores de uma nova experiência de outubro de 1987”.