Criptomoeda Terra (LUNA) despenca mais de 90% em meio à crise com stablecoin; entenda

Mecanismo de emissão da stablecoin UST criou espiral da morte que levou criptos irmãs juntas para o abismo

Paulo Barros Rodrigo Tolotti

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A criptomoeda LUNA, nativa da blockchain Terra, tem chamado atenção do mercado cripto ao perder 97% de seu valor em questão de dias. O movimento teve início em meio a uma crise de paridade da stablecoin Terra USD (UST), que pertence ao mesmo projeto.

A relação entre a Luna e a UST está no centro do problema. Ao contrário de stablecoins mais conhecidas como Tether (USDT) e USD Coin (USDC), que criam paridade com o dólar mediante lastro depositado em banco, a UST obtém estabilidade por meio da queima de Luna: a cada unidade de UST emitida, US$ 1 em Luna é retirado de circulação. A dinâmica é sustentada por market makers (criadores de mercado), que atuam na compra e venda dos ativos, lucrando em troca da tarefa de manter a paridade do UST com o dólar.

O sistema vinha favorecendo a Luna até recentemente, com escassez provocada pelo crescimento da demanda por UST – em 2021, a Luna disparou 13.842%, para US$ 90,55, e em 2022 já chegou a valer quase US$ 120. Diante da crise recente, no entanto, a criptomoeda agora vale menos de US$ 0,10 em algumas exchanges.

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Entenda o caso

Especialistas já alertavam para o perigo do experimento: se investidores se desfizessem de uma quantidade suficiente de UST, muitas unidades de Luna seriam emitidas a ponto de desequilibrar a balança e ocasionar a perda do valor de ambos os criptoativos. A única dúvida ficava por conta do motivo que levaria à onda de resgates dos valores investidos na stablecoin.

Os primeiros sinais começaram a aparecer quando a Tron (TRX) anunciou, na quinta-feira (5), um novo protocolo que oferecia mais de 30% de rendimento anual sobre stablecoins. Imediatamente, investidores viram uma oportunidade de lucrar, e vários deles migraram do protocolo Anchor, que rendia entre 17% e 20% ao ano em UST e é o principal motor de crescimento do ativo.

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Já fragilizado pelo abandono de parte dos investidores, a UST então recebeu seu pior baque quando o Bitcoin caiu 11% e criou a receita perfeita para o desastre: com a UST já brigando para valer US$ 1 e a Luna recuando em sintonia com o mercado, a volatilidade aumentou tanto que os market makers não conseguiram atuar rápido o suficiente para segurar os preços.

A UST havia entrado no que se chama de “espiral da morte”, cenário que envolve uma queda sistemática e retroalimentada de um ativo. Nesse caso, investidores começaram a resgatar valores cada vez maiores em UST com o receio de que a stablecoin valesse cada vez menos que US$ 1.

Com isso, o sistema passou a emitir mais tokens Luna, derrubando ainda mais o preço da criptomoeda e causando mais medo no mercado. Para não ficar no prejuízo, investidores da Luna também começaram a liquidar suas posições, enfraquecendo outra vez o combustível da paridade, criando um ciclo vicioso.

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A tacada final veio quando o criador do projeto decidiu tomar uma medida drástica. Em meio à tentativa de salvar a paridade da UST, o projeto Terra liquidou US$ 850 milhões em Bitcoin de suas reservas para comprar a stablecoin. No entanto, acabou fazendo o BTC cair mais e arrastar a Luna uma terceira vez – quedas do Bitcoin, vale lembrar, costumam afetar o mercado como um todo.

O cenário causou então o que os usuários tanto temiam – e os especialistas já haviam alertado: após a Luna despencar mais de 50%, a UST desabou de US$ 1 para US$ 0,60 na noite de segunda-feira (9).

A instabilidade obrigou a exchange Binance a interromper saques de Luna e UST, em uma espécie de circuit breaker – em certo momento, usuários relataram que os livros de ordens da exchange no par UST/USDT ficaram vazios.

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Desde então, a UST tem passado por forte volatilidade, chegando a recuperar brevemente os US$ 0,90 antes de voltar a cair forte. Mesmo assim, o token ainda não conseguiu retomar sua paridade, o que parece cada vez mais difícil.

Já a LUNA está em uma situação ainda mais crítica valendo poucos centavos, apesar da tentativa de seus criadores de criarem soluções para salvar as duas criptos.

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Paulo Barros

Editor de Investimentos