Credibilidade do País está sendo destruída pelo governo, diz Leandro Ruschel

Recentes intervenções do governo e sinalização de que inflação pode ser deixada em segunda plano têm feito os investidores fugirem do mercado brasileiro

Felipe Moreno

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SÃO PAULO – O Ibovespa vai seguindo uma trajetória de queda nas últimas semanas, sem se importar com o movimento altista dos índices norte-americanos, que vão atingindo os patamares mais altos de sua história história. Sem crise sistêmica aparente nos mercados externos, Leandro Ruschel, sócio-fundador da escola de traders Leandro&Stormer, acredita que a culpa de tal movimento recai sobre o governo federal.

“A credibilidade do Brasil está sendo destruída pelo governo perante o investidor estrangeiro”, afirma o trader. Uma política mais intervencionista do governo de Dilma Rousseff faz com que as incertezas jurídicas cresçam: e com isso, aumenta a quantidade de investidores dispostos a sair do País e buscar alternativas, como o próprio Estados Unidos e o México.

Ruschel acha válido lembrar que a situação das principais empresas que compõem o índice não é nada positiva: a Vale (VALE3; VALE5) sofre com a possível desaceleração da economia chinesa; a Petrobras (PETR3; PETR4) com as interferências do governo; já a OGX Petróleo (OGXP3) já caiu mais de 90% desde que anunciou uma produção menor que a esperada no ano passado. “Só a interferência do governo já fez com que a Petrobras saísse do posto de petrolífera mais valiosa do mundo e já vale menos do que a colombiana Ecopetrol”, ressalta.

Para ele, as medidas do governo não caem bem com os investidores estrangeiros e fazem com que o dinheiro migre para fora do País – vide as interferências vistas em 2012 nos setores elétrico e bancário. Além disso, a sinalização de que o Banco Central pode deixar o problema da inflação em segundo plano para não atrapalhar ainda mais o crescimento do País também tem causado mal estar ao mercado.

Não há bonança no exterior
Assim o mercado brasileiro mal consegue esboçar uma reação positiva, continuando a cair ainda mais, por conta do fluxo de capitais. Ruschel também destaca outro ponto que ajuda a queda: se a situação no exterior melhorou, não foi de maneira tão significativa, o que ainda inspira um pouco de cautela nos investidores. “Quando há maior otimismo, o investidor busca mercados emergentes, de maior risco, e quando há percepção clara de risco, ele volta para o mercado dos EUA. É o que estamos vendo hoje”, alerta. 

O cenário melhorou no exterior, sem dúvida, mas ainda não foi reestabelicido um período de bonança – como foi a década passada, por exemplo. Com isso, Ruschel destaca que é difícil saber se a alta dos mercados internacionais é por conta da própria recuperação econômica ou pela política de juros baixos e estímulos dos principais bancos centrais mundiais, como é o caso do Federal Reserve nos EUA e, recentemente, o BoJ (Bank of Japan).

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“Isso não é uma situação muito usual, do ponto de vista histórico, e se o governo estivesse fazendo o dever de casa, estaríamos sendo beneficiados, seríamos um dos portos para receber esse dinheiro”, avalia o trader. Assim, os investidores estrangeiros não teriam medo de usar os dólares recém-injetados no Brasil, que oferece prospectos de crescimento superior às economias desenvolvidas.

Diferença passada pode explicar descolamento atual
Além disso, Ruschel tem mais um motivo para a diferença de rentabilidade entre os dois mercados: eles estavam muito afastados do ponto de vista de sua relação histórica, depois que o mercado brasileiro se recuperou da crise de 2008 com muito mais agilidade do que os Estados Unidos. “Esse foi o auge do descolamento”, avalia.

A situação já havia se intensificado nos últimos anos. A correlação entre o movimento dos dois mercados era, tradicionalmente, 1 para 1. De 2002 até 2008, o Ibovespa apresentou um crescimento de mais de 800% em dólares, enquanto o mercado norte-americano subiu “apenas” 100%. Naquele período, porém, ambas as bolsas apresentaram movimento positivo – mas abriram espaço para que houvesse uma correção histórica nessa proporção.