Cortes de despesas pelo governo sairão caros no âmbito político, diz analista

Em meio à tentativa da Fazenda e Planejamento de encontrar saídas para conter gastos, a solução também passa pelo arranjo político

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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As sinalizações mais recentes do governo federal de comprometimento com a meta fiscal soaram positivas ao mercado, mas as medidas práticas ainda precisam ser compreendidas no detalhe. Para Paulo Gama, head de análise política da XP, que participou nesta quinta-feira (4) do Morning Call da XP, o governo caminha na direção de equacionar a questão fiscal, mas “carece de se ver o que é”.

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Corte de gastos: viabilidade das medidas

O analista explicou que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ainda irá conversar com os ministérios antes de anunciar as medidas de ajuste fiscal.

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“O ponto do mercado é a viabilidade disso (do corte de gastos)”, afirmou. “O fato é que tanto para o ano de 2024 como para o de 2025 a gente vai precisar de medidas que sejam efetivadas”, acrescentou.

O head da XP apontou que o crescimento das despesas obrigatórias exige que seja feita recomposição delas, com opção de se reduzir as despesas discricionárias.  

“Ou se fazem medidas na direção que o governo tem falado, de olhar os gastos dessas despesas obrigatórias de forma a preservar uma parte maior das discricionários, porque a gente sabe que politicamente essas despesas (discricionárias), ainda que possam ser cortadas, mas politicamente há uma dificuldade muito grande de se avançar nelas”, ressalta.

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Impacto no PAC

“Parte delas trata de investimentos públicos, como Programa de Aceleração do Crescimento (PAC)”, complementa.

“Ainda que haja espaço formal para fazer cortes nas despesas discricionárias, há uma série de tratativas políticas que precisam ser feitas para conseguir avançar na redução dessas despesas”, avaliou.

Por conta dessa questão política, as medidas que os ministérios da Fazenda e Planejamento têm anunciado são de revisão de parte das despesas obrigatórias ainda em 2024.

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“Mas não há muita margem para se trabalhar isso. Porque também são despesas caras para o governo, como saúde e educação”, comentou. “Tem linhas de gastos de previdência que o governo poderia olhar, mas ensejaria uma série de resistências”, disse.

Revisão de benefícios

No entanto, Paulo Gama vê possibilidades de revisão de concessão de benefícios, na detecção de fraudes. “Isso poderia ser uma linha que o governo poderia caminhar”, afirmou.

“Pode-se esperar que o governo apresente (medidas de ajuste fiscal) nessa direção, ainda que resolver o problema no longo prazo não seja o objetivo, mas sim de contenção dessas despesas”, analisou.

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O analista comentou que o impacto na inflação com aumento do dólar parece ter aberto os olhos do governo. “Pelo lado da Fazenda, não me parece estar em discussão nenhuma medida heterodoxa para conter a alta da moeda americana”, disse.

“Todas essas conversas entre o time econômico e a presidência vão na direção um pouco mais estrutural, de explicar impactos dessa discussão fiscal no comportamento da moeda e tentar conter o descontrole. Há um empenho significativo de Fernando Haddad e seus auxiliares de resolver o problema na causa estrutural”, complementou.