Corte de juros nos EUA ajuda “naturalmente” ações brasileiras, diz estrategista da XP

Fernando Ferreira, estrategista-chefe da XP, diz, no entanto, que aumento da taxa no curto prazo deve impactar o fluxo na Bolsa

Augusto Diniz

Conteúdo XP

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O valuation (avaliação) das empresas listadas na Bolsa ainda destoa dos resultados das companhias nos últimos trimestres, afirma Fernando Ferreira, estrategista-chefe e Head de Research da XP, que destaca fundamentos como geração de caixa, margens saudáveis e dividendos das empresas.

Ele falou sobre o tema em mais uma edição do podcast Stock Pickers. “A gente continua animado com a Bolsa e projeta o Ibovespa a 147 mil pontos no final desse ano”, ressaltou ele ao apresentador Lucas Collazo.

Influências da Selic mais alta

Ferreira, no entanto, teme desdobramentos do cenário macro. “É óbvio que subir juros nunca é bom para a bolsa”, destaca. “Isso pode impactar fluxos para a renda variável”, diz, esclarecendo que o investidor, principalmente o local, pode preferir a renda fixa em um cenário de taxas mais altas.

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“O lado bom dessa história é que esses juros de curto prazo subindo podem dar uma indicação para o mercado de que, de fato, o Banco Central vai perseguir a meta de inflação de 3%”, avalia.

“Isso ajuda a retirar o prêmio de risco na parte longa da curva (de juros). Para precificação de ativos de longo prazo como as ações, o que mais importa no valuation são os juros de longo prazo e não a Selic”, afirma.

Juros longo cedendo

Ferreira argumenta, inclusive, que isso já pode ser visto na curva de juros (do DI), com movimento de alta nos vencimentos curtos e a parte longa da curva cedendo. “A gente vê um fechamento grande dos juros longos no Brasil e é isso que importa para os ativos de risco”, diz.

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Em outra vertente, ele destaca que se o Federal Reserve (Fed) começar a cortar os juros, “naturalmente a atratividade pelos mercados emergentes aumenta”. Além disso, a volatilidade maior do mercado americano – inclusive por conta das eleições – também é outro ponto favorável aos mercados em desenvolvimento como o brasileiro.

Empresas disruptivas

Ferreira chama a atenção para o fato de o investidor estrangeiro olhar muito para as empresas disruptivas. “E isso nosso mercado tem um pouco menos. A bolsa continua focada em setores mais tradicionais da economia, como commodities e banco”, diz ele sobre um ponto negativo para a atração de investidores ao mercado de capitais brasileiro.

“O Brasil não está no top do investidor global porque eles olham muito para o crescimento e tecnologia, que outros mercados emergentes entregam mais do que o Brasil, como a Índia, o México, Taiwan, China, Coreia do Sul”, afirma.

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Ele cita, no entanto, que algumas empresas no continente têm atraído investidores em tecnologia, como é o caso do Mercado Livre, da Argentina, e a brasileira Nubank.

Fluxo estrangeiro forte

“O investidor de longo prazo, fundamentalista, que a gente pensa quando falamos de investidor estrangeiro também olha para governança e gestão da companhia”, complementa.

Sobre os sucessivos ganhos da bolsa, o analista da XP explicou porque muitas empresas listadas não reportaam ganhos mesmo com os avanços fortes do Ibovespa.

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“Quando vimos essa alta da bolsa, muita gente ficou surpresa porque as small caps apareceram tão para trás mesmo com o Ibovespa subindo bastante. Isso acontece porque o primeiro fluxo do estrangeiro vem para os papeis mais líquidos e via ETF”, explica.

“Então, eles acabam comprando as ações de maior peso no índice. Tem papeis domésticos que ficaram completamente descolados da nova realidade de preço”, ressalta.

Juros globais altos

Fernando Ferreira ainda comentou que o aumento recente de juros globais, notadamente nos Estados Unidos, acabou fazendo com que o valor de muitos ativos fosse reavaliado.

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“Na medida em que os bancos centrais sobem suas taxas de juros no mundo todo, isso gera uma correção grande em muitas classes de ativos. Essas bolhas acabaram estourando”, afirma. “O que a gente viu desde 2022, quando essa bolha começou a estourar, é que os papeis tiveram uma correção muito forte”, disse.