Corte de juros em países desenvolvidos não denota independência do Fed, diz analista

Queda na zona do euro, Suíça e Canadá e sinalização na Inglaterra de redução da taxa são positivas, mas EUA geram cautela dos bancos centrais

Augusto Diniz

Conteúdo XP

Publicidade

Há pouco mais de duas semanas, o Canadá cortou pela primeira vez os juros depois de seis manutenções consecutivas da taxa. No início do mês, o Banco Central Europeu deu início ao processo de flexibilização monetária. Nesta quinta-feira (20), a Suíça anunciou pela segunda vez seguida queda dos juros.

Francisco Nobre, economista da XP, que participou nesta sexta-feira (21) do Morning call da XP, disse que a Inglaterra deve fazer o mesmo em agosto. “Eles optaram (nesta quinta) pela manutenção da taxa de juros em 5,25%, em linha com as expectativas. Lembrando que a política monetária continua bastante restritiva no Reino Unido”, disse.

Baixe uma lista de  10 ações de Small Caps que, na opinião dos especialistas, possuem potencial de crescimento para os próximos meses e anos

Inflação de serviços preocupa

Nobre destacou que assim como em vários outros países, a inflação de serviços tem sido o principal ponto de preocupação do mercado. “Ela continua acima da expectativa do Banco da Inglaterra e preocupa, que é o que gente vê também nos Estados Unidos, no Brasil”, ressalta.

“O motivo que o mercado reagiu de forma positiva foi que o Banco da Inglaterra não se assustou com os dados de serviço mais fortes. Eles explicaram que veio com uma surpresa altista, mas que muito disso se justifica por itens mais voláteis, como passagens aéreas”, destacou.

“Isso trouxe certo alívio para o mercado, que continua esperando corte de juros em breve. O tom do Banco da Inglaterra é que apesar dos números de inflação de serviços ter vindo mais forte, o plano de voo continua e, provavelmente, eles devem cortar a taxa de juros na próxima reunião em agosto”, acrescentou.

Continua depois da publicidade

Ciclo de flexibilização começou no mundo

O economista da XP explicou que o ciclo de flexibilização monetária em vários países está começando agora ou vai iniciar em breve.

“Geralmente, o Fed (Federal Reserve) lidera a política monetária ao redor do mundo. Eles começam a fazer movimento e outros bancos centrais seguem com movimentos parecidos. E nesse ciclo atual, parece que o Fed será o último a ser movimentar”, disse ele, sobre a autoridade monetária dos Estados Unidos.

Ele lembrou que o Banco Central Europeu já começou a cortar juros, assim como na Suíça e no Canadá. “Nos Estados Unidos, a perspectiva é que eles comecem mais tarde, que tem a projeção de primeiro corte em dezembro”, disse.

Continua depois da publicidade

Fed segue influente

“Outros bancos centrais do mundo vão fazer seus movimentos apesar de o Fed continuar em compasso de espera, mas isso não quer dizer que o Fed não possa influenciar a política monetário ao redor do mundo”, comentou.

“No curto prazo, alguns bancos centrais têm espaço para cortar a taxa de juros porque está em nível bastante restritivo e a inflação já cedeu, permitindo que façam pequenos ajustes”, disse.

“Mas se o Fed continuar a segurar a taxa no patamar atual, é provável que outros bancos centrais optem por um ciclo de flexibilização monetária mais cauteloso, desacelerando o ritmo de corte e até pausar se o Fed não cortar os juros adiante. Não é o cenário base. A gente acha que o Banco Central dos EUA vai começar a cortar os juros em dezembro, mas continua sendo um risco para outros bancos centrais”, complementou.

Continua depois da publicidade

México é o mais prejudicado

O Francisco Nobre destacou que na América Latina, embora os países estejam em estágios diferentes de corte de juros e dependentes de questões internas, o México tende a ser a economia mais impactada pelo Estados Unidos e pelas decisões do Fed.

“Eles têm uma economia bastante atrelada aos Estados Unidos em termos de comércio. Quando a gente vê essa perspectiva de juros altos nos Estados Unidos, o Banco Central do México tende a reagir bastante a isso. A gente estava com uma perspectiva melhor de queda de juros no México, mas por causa do Fed estar postergando (o corte dos juros), isso tende a impactar”, disse, complementado que as eleições presidenciais mexicanas criaram também perspectivas menos positivas para o mercado.