Copom: Quais reações esperar se o BC for mais duro ou leve nesta quarta-feira?

Decisão de hoje vem em meio à uma recente desvalorização do real, aumento do risco fiscal e críticas de Lula a Campos Neto

Vitor Azevedo

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A decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) desta quarta-feira (19), após o fechamento do mercado, tende a ser uma das mais tensas dos últimos tempos. Ela se dá em meio à uma alta do dólar, avanço do risco fiscal e logo após o presidente da república, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), endurecer as criticas a Roberto Campos Neto, presidente da instituição.

O consenso é que os diretores do Banco Central manterão a Selic inalterada em 10,5%, uma vez que a principal tarefa da instituição monetária é proteger o poder de compra dos brasileiros, debilitado pela desvalorização do real e, mais recentemente, pelo avanço do IPCA (que em maio, por exemplo, ficou além do esperado). Investidores, então, estarão de olho nas sinalizações do comitê. 

“Com a deterioração do cenário doméstico, sem sinais de um ajuste sustentável de gastos públicos, as expectativas de inflação desancoraram e o câmbio se desvalorizou. Dessa forma, o principal objetivo desta reunião é restabelecer a credibilidade da condução de política monetária e trazer de volta as expectativas de inflação alinhadas com as metas”, comenta Guilherme Jung, Economista da Alta Vista Research.

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Se o Banco Central atender às expectativas, manter a Selic inalterada e ter um tom mais duro, a visão do mercado será a de que os diretores têm um maior “compromisso com a manutenção dos preços”. Juros mais baixos, vale lembrar, costumam movimentar mais a economia, mas também podem gerar inflaçaõ e diminuir o poder de compra.

Dessa forma, investidores monitorarão o posicionamento dos diretores do BC tentando entender como os recém-chegados, indicados pelo atual governo, lidarão com a inflação no futuro. Parte da diretoria, ligada ao último governo executivo, inclusive Campos Neto, tem o seu mandato acabando no final deste ano.

Copom mais hawkish

A unanimidade do comitê na decisão terá um papel importante para fortalecer a credibilidade, não apenas deste comitê atual, mas também dos diretores que continuarão no cargo em 2025. Essa unanimidade sinalizaria coesão e determinação na condução da política monetária, aspectos fundamentais para a estabilidade econômica a longo prazo”, pontua Jung. 

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Paulo Gala, economista-chefe do Banco Master, explica que se o Banco Central for mais duro, o esperado é que as taxas de juros nas pontas mais curtas da curva subam, refletindo a decisão da instituição. 

No entanto, os DIs, contratos de juros futuros, mais longos podem ver alguma queda durante o pregão de amanhã, com a visão de que se o BC for mais duro agora, a inflação continuará sob controle e haverá mais espaço para baixas no futuro.

Esse cenário, Gala pontua, tende a ser também mais positivo para o câmbio, com o real possivelmente se valorizando frente ao dólar, com a perspectiva de que o diferencial de juros entre o Brasil e os Estados Unidos continuará elevado ganhando força. 

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Já para as companhias listadas na Bolsa a decisão se divide. Empresas mais alavancadas, endividadas, podem se beneficiar da curva longa caindo. A visão passa a ser a de que elas terão menores despesas financeiras com o passar do tempo no longo prazo.

Em uma visão mais de curto prazo, no entanto, algumas companhias devem sofrer, já que juros mais altos implicam em uma economia menos aquecida e, decorrentemente, em menores lucros nos próximos meses e anos.  

E se o BC for mais brando?

Se o BC ceder às pressões políticas e for mais brando, o cenário muda. Sinais de uma postura mais frouxa, ou dovish, seriam, por exemplo, uma discrepância entre os diretores ou mesmo a publicação de um “forward guidance”. Parte do mercado, indo mais longe, enxerga a possibilidade de um corte de 25 pontos-base, com a Selic indo para 10,25%.

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“Com uma atitude mais dovish, seria tudo ao contrário. Provavelmente, se a gente tiver uma mensagem de dúvida, teremos o real enfraquecendo e os juros de longo prazo abrindo, com a leitura de que se o Banco Central vai ser leniente hoje vai ser também lá na frente”, debate Rachel de Sá, chefe de economia da Rico.

Algumas empresas da Bolsa podem se beneficiar da visão de que a economia ficará mais aquecida. Outras, no entanto, devem ser impactadas pela perspectiva de que os juros voltarão a subir mais no longo prazo. 

“Mas eu acho difícil a gente ter uma alta da bolsa amanhã. Há muita incerteza vindo do fiscal e do monetário e não consigo ver um cenário em que uma mensagem de dúvida ou mais branda seja positiva. Ela deve causar mais instabilidade e desequilíbrio no restante da economia”, menciona a economista.