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Até o final do ano passado, as apostas gerais do mercado eram de que um ciclo de cortes dos juros nos EUA poderia vir ainda no primeiro semestre deste ano, o que levou o Ibovespa, por exemplo, a atingir marca recorde de pontos e a taxa de câmbio a se comportar, inclusive com o real se valorizando frente ao dólar.
Mas, com o passar dos primeiros meses de 2024, este cenário mudou – e bastante. A avaliação é de Caio Megale, economista-chefe da XP, que participou nesta manhã do Morning Call da XP.
“As últimas sinalizações de juros elevados ou de menores cortes (pelo Fed) tiveram um impacto na taxa de câmbio aqui, com o real se desvalorizando e voltando a ficar acima de R$ 5 por dólar”, disse ele, no programa.
Efeito na inflação
Megale explicou que isso tem implicação na inflação e na forma com que o Banco Central vai conduzir a política monetária. Mas o economista acha também que acima de R$ 5 está “muito desvalorizado (o real), e ele pode voltar um pouco para baixo, melhorando o horizonte de inflação para frente”.
Para ele, o Comitê de Política Monetária (Copom) “vai reagir a esse ambiente internacional mais conturbado e vai desacelerar o ritmo de corte de juros”. A próxima reunião do Copom acontece na semana que vem.
“Nós achamos que o Copom vai desacelerar o ritmo de cortes de 0,5pp para 0,25pp, para ver o melhor o cenário”, afirmou.
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Com relação à reunião do comitê de política monetária do Fed, que acontece nesta quarta (1), Caio Megale disse que ela será de suma importância ao mercado.
“A taxa de juros nos EUA é considerada a mais livre de risco do mundo. Ela acaba sendo a base de todo valuation, de todo apressamento de ações e de bonds (títulos) de todos os mercados, inclusive no Brasil”, comentou no Morning Call.
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Olho nos juros americanos
“Então, está todo mundo olhando para essa taxa. A gente tem percebido que o banco central americano está chegando à conclusão que pode cortar a taxa de juros em algum momento, mas lá na frente”, acrescentou.
Isso tem impacto no Brasil também. Para Megale, os membros do Copom dizem não ter uma relação mecânica no Brasil com o que acontece nos Estados Unidos. “E isso é verdade”, disse.
Inflação lá nos EUA preocupa
Mas ele aponta preocupação com a inflação nos Estados Unidos, que pode estar voltando a subir. “Se ela voltar a acelerar, pode ser que o Fed não corte (os juros) e talvez tenha até que voltar a subir, como já dizem alguns economistas”, afirmou.
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“Se isso acontecer, vai ter uma nova reprecificação e novo impacto no mercado. O momento é de cautela e de aversão ao risco. A gente sente isso conversando com investidores internacionais”, complementou.
Cenário interno preocupa também
Megale vê com atenção as discussões do governo no Congresso a respeito do programa de desoneração da folha de pagamentos para municípios e empresas, que está judicializado, e o programa de incentivos ao setor de eventos, o Perse.
Tudo isso tem efeito nas contas públicas para o atingimento das metas fiscais. “Isso significa que pode ter algum impacto nas expectativas”, disse.
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“O cenário, de forma geral, ainda é equilibrado, o país está crescendo. O mundo valoriza nossos produtos, os preços das commodities estão em alta. Os Estados Unidos devem cortar os juros, ainda que menos do que o esperado, mas os riscos em torno desse cenário de fato cresceram desde o início do ano”, ressaltou.
Mas ele também não enxerga um cenário de deterioração muito acentuada no Brasil, que poderia levar depreciação da taxa de câmbio muito rápida, até porque ela já está num nível bastante depreciado.
Novo presidente do BC está entre dois diretores
Sobre o possível novo presidente do Banco Central, no lugar de Roberto Campo Neto, que tem mandato até o final do ano, Caio Megale disse que tudo indica que estaria entre dois diretores indicados pelo presidente Lula para a instituição: Gabriel Galípolo (diretor de Política Monetária) e Paulo Pichetti (diretor de Assuntos Internacionais e de Gestão de risco Corporativos).
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“Não apareceu nenhum outro nome em torno dessa discussão. Olhando o perfil deles e a atuação deles no Copom, a transição será técnica focada na manutenção da inflação em torno da meta. Essa é a maior contribuição que o Banco Central pode dar, que é trazer a inflação para perto da meta, dando um horizonte de previsibilidade aos investimentos e as empresas do país”, comentou.
Mas ele vê pressão política na decisão. “Mas pressão política em bancos centrais existem em todo lugar do mundo, em qualquer tempo”, afirmou.