Copasa paga bons dividendos, mas por que BBI e BofA têm visões distintas para ações?

Companhia se destaca pelos dividendos elevados, mas enfrenta incertezas com a universalização e a revisão tarifária de 2025; privatização segue incerta no curto prazo

Murilo Melo

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A Companhia de Saneamento de Minas Gerais, a Copasa, (CSMG3) vem se destacando no mercado financeiro como uma empresa atrativa para investidores que buscam dividendos consistentes, principalmente por sua política de distribuição de lucros. A afirmação é dos analistas do Bradesco BBI, que também avaliam que a empresa tem se posicionado como uma boa opção de investimento no curto prazo, graças ao seu elevado retorno de dividendos, especialmente em um ambiente de altas taxas de juros e crescimento econômico moderado.

A estratégia da Copasa inclui a distribuição de 50% de seu lucro líquido de forma regular, além de dividendos extraordinários, que variam conforme a geração de caixa e as necessidades de capital da companhia.

Para o ano de 2024, o BBI observa que a Copasa superou suas próprias expectativas, entregando um rendimento de dividendos projetado de 11,3%, que supera a média do setor e reforça a imagem da empresa como uma fonte de rendimentos para investidores focados em fluxo de caixa constante. O bom desempenho está relacionado, em grande parte, segundo os analistas, à sua sólida geração de caixa, que, por sua vez, é impulsionada por uma política fiscal eficiente e pela melhoria das operações internas.

Olhando para o futuro, no entanto, o BBI diz que a perspectiva para os próximos anos é mais cautelosa. As estimativas indicam uma redução no dividend yield (dividendo em relação ao valor da ação) da empresa para os anos seguintes, com uma projeção de 7,1% em 2026 e 7,4% em 2027.

Para os estrategistas, o cenário de queda está intimamente ligado ao alto volume de investimentos necessários para a universalização dos serviços de saneamento até 2033, um compromisso que exige grandes desembolsos de capital. Além disso, a revisão tarifária prevista para 2025 pode afetar as receitas da empresa, já que uma atualização nas tarifas regulatórias pode ter um impacto mais limitado do que o esperado sobre os lucros, o que diminuiria o potencial de distribuição de dividendos.

Em 2024, a Copasa teve um crescimento de 15% no preço de suas ações, enquanto o índice Ibovespa apresentou uma queda de 10% e o setor de energia elétrica perdeu 18%. O banco diz que esse desempenho foi uma surpresa para o mercado, o que indicou que, além dos dividendos, a companhia tem mostrado capacidade de crescimento mesmo em um ambiente macroeconômico incerto.

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No entanto, os analistas do BBI mantêm uma recomendação neutra para as ações da Copasa, destacando que, embora a empresa tenha melhorado suas operações, o risco/retorno da ação está equilibrado, com uma Taxa Interna de Retorno (TIR) real de 13,6%. O novo preço-alvo de R$ 25, segundo eles, reflete essas expectativas moderadas, ajustadas com base nas projeções macroeconômicas mais recentes.

O Bank of America (BofA), por outro lado, elevou na semana passada a recomendação da Copasa de neutro para compra, com preço-alvo aumentado de R$ 24 para R$ 28, devido a uma revisão tarifária favorável para 2025, com estimativa de um dividend yield de 13%.

O banco acredita que os retornos regulatórios ainda não estão refletidos nas estimativas de mercado, podendo gerar revisões positivas nas projeções de Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações), que representa o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização. No entanto, a análise não considera a privatização da companhia, que enfrenta dificuldades políticas.

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Privatização

A privatização da Copasa é um dos temas centrais que atraem a atenção dos investidores. O governo de Minas Gerais enviou um projeto de lei à Assembleia Legislativa para permitir a privatização da companhia. Caso esse processo avance, pode haver uma valorização substancial das ações da empresa, que poderiam subir de 55% a 78%, dependendo das condições do mercado e da forma como a privatização será implementada.

No entanto, os analistas do Bradesco BBI acreditam que a privatização é um evento de difícil previsão no curto prazo, já que existem várias etapas políticas e regulatórias a serem cumpridas antes que a privatização seja consumada. Além disso, seria necessário modificar a constituição estadual para permitir a venda da empresa sem a necessidade de referendo popular, o que representa um obstáculo importante para a concretização dessa venda.

A comparação da Copasa com outros players do setor, como a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo, a Sabesp, (SBSP3) e a Companhia Paranaense de Energia, a Copel (CPLE6), que também apresentam rendimentos de dividendos elevados, reforça a análise conservadora do BBI.

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Embora a Copasa tenha mostrado uma boa recuperação em 2024, os analistas consideram que o futuro da empresa é incerto, especialmente em relação à redução no rendimento de dividendos após 2025 e à evolução das tarifas regulatórias, que podem impactar as receitas da companhia.

“Recentemente a Copasa divulgou seu plano de capex plurianual [investimentos], que envolve aumentar a implantação de capex de R$ 2,1 bilhões em 2024 para R$ 3,3 bilhões em 2026 . Isso deve elevar a alavancagem para 1,9x em 2025 e 2,8x ao fim do próximo ano. Embora este seja um nível aceitável de dívida líquida /Ebitda para uma concessionária, olhando para o nível histórico de alavancagem da Copasa, achamos improvável que a alavancagem seja aumentada ainda mais para sustentar o pagamento de dividendos extraordinários em meio a um ciclo de capex para atingir a universalização de serviços”, diz o relatório.

Além disso, o ciclo político, com as eleições para o governo de Minas Gerais em 2026, pode impactar negativamente as perspectivas da Copasa, especialmente se não ocorrer a privatização da companhia. Por conta disso, a Sabesp e a Copel são vistas pelo BBI como boas opções de investimento no momento, com recomendação de compra.