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SÃO PAULO – Colecionar obras de arte é uma de suas paixões. Adquirir companhias em recuperação judicial virou um hábito. Estar entre os bilionários da Forbes é apenas uma consequência. Com US$ 3 bilhões em patrimônio, o americano Wilbur Ross, 77, controlador da companhia brasileira de autopeças Plascar, se converteu em um especialista em recuperar empresas problemáticas. Sua principal referência no mundos negócios é Carl Icahn, outro bilionário septuagenário que construiu fama ao realizar ofertas hostis de compra de grandes empresas americanas. “Carl é um dos empresários que me inspira pois assume riscos bem calculados e tem uma estratégia cuidadosamente planejada, além de ser a pessoa mais competitiva que conheço”, diz Ross em entrevista à Revista InfoMoney.
Controlador da firma de private equity WL Ross & Co, criada por ele em 2000, o bilionário não faz questão nenhuma de esconder sua preferência pela compra de empresas encrencadas. Ele até já desenvolveu um método para esse tipo de transação. De acordo com Ross, o primeiro passo é fazer uma lista de tudo o que está errado na companhia. “E geralmente a lista é grande.” A ação seguinte é estudar uma solução para cada problema da lista. Somente depois que fica claro que todas as deficiências da empresa podem ser resolvidas é que ele se considera pronto para investir.
Após a aquisição, uma das primeiras decisões que costuma tomar é trocar a diretoria por pessoas capazes de construir uma nova cultura corporativa. O gosto pelas empresas em dificuldades está relacionado à possibilidade de pagar barato por um ativo. “Investimos em ações com potencial de crescimento e que são vistas como muito arriscadas, mas que nós não acreditamos que sejam realmente arriscadas”, explica.
Nos últimos anos, o bilionário concentrou seu foco em bancos problemáticos e outras instituições financeiras. Como a maioria dos bancos americanos e europeus que passaram por dificuldades em 2008 já conseguiram limpar seus balanços, a solução foi ir atrás de instituições em dificuldade em países periféricos, como Grécia e Chipre. Foi nesse contexto que ele decidiu investir no EuroBank e no Bank of Cyprus. Antes costumava concentrar os investimentos nos setores de aço, carvão, produtos têxteis e autopeças.
Brasil
A entrada no Brasil aconteceu em 2006, quando Ross comprou o controle das operações brasileiras da fornecedora de componentes para interiores de automóveis Collins & Aikman, que estava em concordata. O passo seguinte aconteceu no mesmo ano e também foi no setor de autopeças. Seu fundo de private equity adquiriu 75,7% da Primali do Brasil – é essa empresa que controla a Plascar, com uma participação acionária de 46,10%. Com sede em Jundiaí (SP), a Plascar fabrica para-choques, peças plásticas de carros, volantes e carpetes, entre outros.
Na Bovespa, entretanto, a Plascar tem apresentado um desempenho sofrível nos últimos anos. As ações ordinárias (PLAS3), que valiam mais de R$ 3 no início desta década, eram negociadas por volta de R$ 0,35 no fechamento desta edição. Os sucessivos anos de prejuízo desanimaram os investidores, o que levou a uma queda significativa no volume de negócios do papel.
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Otimista, Ross vislumbra um cenário mais favorável do que o atual para a economia brasileira e demonstra confiança no potencial de valorização da Plascar. “Nossa atividade básica é o fornecimento de autopeças para o mundo. A indústria está se transformando de altamente fragmentada para relativamente concentrada. Essa mudança estrutural refletirá na melhora das margens de lucro e do retorno sobre o patrimônio”, diz.
Ao InfoMoney, o presidente da Plascar, André Nascimento, afirmou que Ross decidiu investir em autopeças no Brasil porque o país ainda apresenta um número de veículos por habitante abaixo da média mundial – e isso aumenta o potencial de crescimento futuro da companhia. Ele lembra que em 2006, quando a WL Ross comprou a participação na companhia, o faturamento era de apenas R$ 250 milhões. “Hoje estamos na faixa de R$ 1 bilhão. A WL Ross e todos os outros acionistas da Plascar são bastante ativos no desenvolvimento estratégico da companhia”, afirma.
O problema não é vender mais, mas aumentar a rentabilidade. A empresa teve prejuízos recorrentes entre 2002 e 2005, mas registrou um lucro de R$ 45 milhões em 2006, ano da chegada de Ross. Os balanços continuaram bons até 2010, mas, no ano seguinte, houve um prejuízo de R$ 58 milhões e a empresa não conseguiu mais sair do vermelho.
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Os resultados da companhia estão bastante atrelados ao desempenho da economia brasileira e das montadoras instaladas no país. Com a queda nas vendas de automóveis nos últimos dois anos, a Plascar deu início a um processo de reestruturação, que inclui o fechamento de uma fábrica em São Paulo, a venda de uma unidade na Argentina, o desligamento de 1.100 colaboradores e a readequação dos preços dos produtos. Ao retirar o prejuízo na Argentina do balanço, a empresa acredita que poderá apresentar resultados melhores em 2015. “Temos de direcionar investimentos e tomar decisões para manter a rentabilidade do negócio”, diz o CEO da companhia.
Apostas
Ross tem em seu DNA o investimento em companhias em dificuldade porque, antes de criar sua firma de private equity, assessorava outros empresários como executivo do banco de investimentos Rothschild. “Nós atuávamos como conselheiros das empresas que passavam por reestruturação e percebemos que o processo é gratificante tanto financeira quanto intelectualmente. Depois só passamos a investir nessas companhias ao invés de vender nossos conselhos aos outros”, diz.
No final do ano passado, Ross iniciou a captação de um novo fundo, que, segundo a Bloomberg, deve levantar entre US$ 1 bilhão e US$ 2 bilhões. Um de seus principais alvos de investimento para os próximos anos é o transporte marítimo mundial. A tese é que faltam navios e os custos de frete são elevados. “O gás de xisto, por exemplo, está sendo prejudicado pelos baixos preços por causa da elevada oferta. Não há infraestrutura para transportá-lo de maneira adequada para onde há demanda.” O bilionário acredita que mais licenças para a exportação de gás serão concedidas e que as proibições para o comércio internacional de petróleo deverão ser flexibilizadas nos próximos anos. Outra aposta feita por Ross é no segmento de materiais de construção pesada. Depois do estouro da bolha imobiliária nos EUA e na Europa, as empresas recomeçam a ganhar força à medida que a economia se recupera e volta a andar com as próprias pernas, sem estímulos monetários.
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O ponto mais curioso da vida de Ross é que ele considera Carl Icahn sua principal referência e também o protagonista de seu pior momento como investidor. Em 2005, Ross disputou com Icahn a compra de uma participação acionária na fabricante de produtos têxteis WestPoint Stevens ao longo de cinco meses. Cada vez que Ross elevava sua oferta pela empresa, Icahn cobria a proposta. Ao final Ross teve que desistir do negócio porque Icahn já possuía uma participação relevante na empresa. A capacidade de deixar as derrotas do passado de lado não parece ser um problema para o bilionário dono da Plascar.