Comunicado inédito deixa ex-diretores do BC perplexos e indica: alta do juro subiu no telhado

Em inédito comunicado pré-Copom, BC sinaliza: alta de juros subiu no telhado, diz Rosenberg; segundo o Estadão, ex-integrantes do BC demonstraram"perplexidade" sobre a nota divulgada por Tombini

Lara Rizério

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SÃO PAULO – Dentre várias instituições que revisaram a recomendação para a decisão do Copom (Comitê de Política Monetária) após o comunicado do Banco Central sobre as projeções revisadas do FMI para o Brasil, a Rosenberg Consultores Associados foi uma das mais enfáticas ao dizer: a alta de juros nesta reunião subiu no telhado, ao projetar manutenção da Selic no cenário-base, e uma chance de 30% de elevação de 0,25%.

De acordo com os economistas da consultoria, o mais relevante não foi a revisão do FMI em si e sim a reação que esta provocou por parte do Banco Central, com a autoridade monetária divulgando nota em que ressaltou que as revisões de projeção de crescimento foram expressivas e que isso será levado em consideração pelo Copom em sua reunião que começa hoje. 

“Ora, para meio entendedor, meia palavra basta: no caso, temos um comentário inteiro sinalizando que o BC vai pensar muito bem antes de elevar os juros. A divulgação do comentário ocorre em meio a pressões de gregos e troianos pela manutenção dos juros e de uma reunião extraordinária com a presidente Dilma, ontem à noite”, afirma a consultoria.

Assim, “levando em conta o conjunto da obra, alteramos nossa expectativa para a reunião de hoje para manutenção da taxa de juros, com 30% de chance de elevação de 0,25 ponto percentual”. Os economistas destacam que a alta de 0,5 ponto já é praticamente carta fora do baralho após o comunicado – não exatamente pelo seu teor, mas pela sua divulgação no primeiro dia de reunião do Copom, interrompendo o período de silêncio que geralmente precede as decisões sobre juros. 

Embora o número do PIB para 2016 trazido pelo FMI seja mais pessimista que a média do mercado, não chega a ser uma grande surpresa, afirma a consultoria. Todavia, ele serve como alerta, haja vista ao fato de que o FMI costuma ser mais conservador em suas projeções. Segundo o FMI, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil deve sofrer retração de 3,5 por cento este ano e ficar estagnada em 2017. 

“É bem verdade que já testemunhamos uma guinada de 180º deste Copom no passado – quando todos esperavam que ele subisse os juros, iniciou uma trajetória de queda. Mas, naquela ocasião, não tínhamos uma inflação na casa dos dois dígitos”, afirmam. 

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Desta forma, os economistas reforçam, a alta de juros nesta reunião subiu no telhado – e, se ocorrer, será de no máximo 25 pontos-base, porém não é o cenário mais provável. “Redução de juros tampouco parece ser possível, dada a inflação esperada acima do teto para este ano. Quanto às nossas perspectivas para juros ao final do ano, colocamos sob revisão, à espera do comunicado a ser divulgado amanhã à noite para então conseguirmos captar quais são os próximos passos da política monetária em discussão pelo Copom”, afirma a Rosenberg. 

Vale ressaltar que o “comunicado pré-Copom” surpreendeu também os ex-diretores do BC. Consultados pelo jornal O Estado de S. Paulo, ex-integrantes do BC demonstraram”perplexidade” sobre a nota divulgada por Tombini. 

Todos os sinais do BC eram mais hawkishes (inclinado ao aperto monetário), apesar da recessão. Não entendemos o motivo de Tombini passar um recado tão dovish (suave) no meio do caminho”, disse uma das fontes consultadas pelo jornal. 

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Outra fonte avaliou que a mudança de Tombini é contraditória com toda a linha apresentada desde o final do ano passado. “Ou o BC não passou os recados certos ou teve de mudar de posição de última hora, o que é muito pior”, afirmou. 

Para outro ex-integrante do BC, a decisão do Copom de amanhã foi praticamente antecipada para hoje. “É claro que se trata de um comentário assinado por Tombini, que é um voto, mas é um voto importante e, mais do que isso, de ‘minerva'”, considerou, levando-se em conta que a decisão poderá ser, mais uma vez, dividida. Na história, vale lembrar, é difícil encontrar um momento em que o presidente do BC está no grupo dos “vencidos” em um placar do Copom.

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Lara Rizério

Editora de mercados do InfoMoney, cobre temas que vão desde o mercado de ações ao ambiente econômico nacional e internacional, além de ficar bem de olho nos desdobramentos políticos e em seus efeitos para os investidores.