Comprar ou vender Ambev (ABEV3)? Duas visões distintas sobre a ação após o resultado surpreender o mercado

Enquanto Goldman Sachs tem recomendação de venda, Bank of America tem visão positiva e sugere a compra das ações

Vitor Azevedo

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No fim de outubro, o resultado da Ambev (ABEV3) animou os investidores, sendo que as ações subiram mais de 4% no pregão após a publicação do resultado, com especialistas destacando a recuperação de margem e as vendas no Brasil. Após os números serem digeridos, no entanto, dois grandes bancos americanos estão divididos quanto às perspectivas futuras para a companhia.

Do lado negativo, o Goldman Sachs manteve, em relatório publicado nesta terça-feira (7), sua recomendação de venda.

“Apesar de reportar números principais fortes, acreditamos que o terceiro trimestre de 2023 da Ambev pode desencadear apenas revisões leves nas expectativas para 2024-2025”, diz o time do banco, liderado por Thiago Bortoluci.

“O resultado foi positivo, mas de baixa qualidade. Embora reconheçamos a rentabilidade mais forte do que o esperada no Brasil, impulsionada tanto por despesas gerais e administrativas quanto pela margem bruta, também notamos que uma parte significativa do resultado positivo foi impulsionada pela contabilidade da hiperinflação argentina”, contextualizam.

As vendas totais no Brasil ficaram estáveis, com uma leve redução de 0,1% na base anual. Isso ocorreu devido a uma diminuição de 1,1% nas vendas de cerveja, que foi neutralizada pelo aumento de 2,8% nas vendas de bebidas não alcoólicas.

Analistas previam uma redução de aproximadamente 2% nas vendas de cerveja no país, explicada principalmente pelo aumento no preço médio, com a companhia de olho na disciplina de rentabilidade.

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O aumento dos preços, no entanto, levou o resultado do lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês) a superar as expectativas, atingindo R$ 6,6 bilhões, ultrapassando as projeções em 3%.

O Goldman Sachs chegou a aumentar seu preço-alvo de R$ 12,8 para para R$ 13,2, englobando os bons resultados. No entanto, um cenário de crescimento baixo e riscos quanto a mudanças de impostos no Brasil – com o IVA e o possível fim dos juros sobre o capital próprio, ou JCP  – e riscos na Argentina sustentam o ceticismo.

“O ambiente de custos significativamente melhor para a cervejaria brasileira, neste ponto, já foi antecipado pelo mercado (modelamos uma melhoria de 11,0% no ano no custo da mercadoria vendida por hectolitro em 2024, em linha com as curvas futuras). Além disso, sentimos que uma competição mais intensa da Heineken pode ser uma fonte de desvantagem”, pontua o Goldman.

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De olho na competição

A Heineken, de acordo com o banco americano, vem acelerando a competição. No terceiro trimestre, a empresa teria aumentado o volume de produção da Amstel, sua cerveja mais promocional, que compete diretamente com vários nomes da Ambev.

O Bank of America, do outro lado, tem uma visão positiva para a Ambev por conta de a companhia, para os analistas da casa, estar apresentando diferenciais competitivos.

“O jogo de portfólio de cervejas está a todo vapor e a Ambev está vencendo”, afirma o time do BofA, liderado por Isabella Simonato, em relatório também publicado hoje. “A Spaten está liderando o caminho para a Ambev, com 3,5% de participação”.

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O time do banco, segundo uma pesquisa feita com 1.000 consumidores no Brasil e cuja última edição tinha sido realizada em maio, estima que, nos últimos meses, desde maio, a Ambev ganhou 130 pontos-base de preferência. A Heineken, enquanto isso, perdeu 20 pontos-base, e a Petrópolis, 90 pontos.

“A Spaten tem sido a principal impulsionadora com uma participação estimada de 3,5%. Ela foi lançada como uma marca core plus em 2021 (agora posicionada como premium de entrada) e tem ganhado muito destaque. A Beck’s, Budweiser Zero e Brahma Duplo Malte também têm contribuído para o aumento da participação”, explicam.

Fora isso, o BofA, que tem recomendação de compra para a Ambev, destaca que o consumo de cerveja está aumentando, à medida que os consumidores experimentam novas marcas – visão discrepante do Goldman, que enxerga o mercado de forma mais estável.

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“91% dos consumidores disseram que seu consumo de cerveja está estável ou aumentou, versus 78% em 2022, e estável em relação a maio de 2023. Isso mostra que a demanda por cerveja permanece bastante resiliente após uma normalização pós-pandemia. Marca e sabor são os dois atributos mais importantes e, entre aqueles consumidores que estão bebendo mais cerveja, 1/3 mencionou que estão bebendo mais à medida que experimentam outros rótulos”, reforçam.