Empresas reduzem dívidas com juros altos, mas incerteza trava planos de investimentos

Preocupação das empresas é sobre onde alocar capital no futuro próximo

Vitor Azevedo

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O cenário de juros elevados – que seguirão em 10,50% ao ano, após a última decisão do Copom – vem obrigando empresas a reduzirem seus níveis de alavancagem (relação entre a dívida líquida e o Ebitda). Esse movimento, que se estendeu pelos últimos anos, agora começa a dar resultados e as empresas estão gerando mais caixa. Apesar de positivo, executivos estão preocupados com o que fazer com o capital diante de um cenário de incertezas.

Esse foi um dos temas de um debate organizado pelo IBEF, Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças, ao qual o InfoMoney participou, em São Paulo, no final da semana passada, que reuniu CFOs de várias grandes companhias brasileiras. Em comum, entre eles, ficou a visão de que a maior preocupação do momento é a forma como as empresas passarão a alocar seu capital no futuro próximo.

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Os juros altos dos últimos anos levaram as empresas a trabalhar para diminuir as suas alavancagens. Com a dívida custando mais, executivos correram para “arrumar” seus balanços, amortizando papéis ou reestruturando os perfis das suas dívidas.

Agora, com o endividamento caindo, os gastos financeiros devem diminuir e o provável é que as empresas passem a anotar gerações de caixa maiores, colhendo frutos dessas medidas. Mas as incertezas tornam difícil apontar como o “dinheiro extra” será gasto. 

Desalavancagem gera oportunidades, mas também “dor de cabeça”

“A gente tá com um processo de desalavancagem muito rápido. E aí mudam as prioridades. Começamos a pensar já em alocação de Capital: o que que a gente vai fazer com excesso de caixa?”, disse Guilherme Cavalcanti, CFO da JBS (JBSS3). 

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No último ano, a alavancagem do frigorífico, medida pela relação entre dívida líquida e Ebitda (Lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização, na sigla em inglês), espécie de “lucro operacional”, saiu de um múltiplo de 3,7 vezes para 3,13 vezes. 

A JBS, no entanto, pontua enxergar a possibilidade de um período positivo para M&As (fusões e aquisições, na sigla em inglês), no futuro próximo. 

“Anos atrás a gente queria vários artigos de M&A, mas não aceitamos pagar determinados valores exercendo uma disciplina de Capital. Os privates equities estavam pagando múltiplos absurdos, já que, por conta dos juros baixos, eles captavam de forma muito barata”, contextualiza Cavalcanti. “Agora estamos vendo um movimento inverso, com os investidores pressionando os privates equities para venderem ativos e levarem investimento para a renda fixa”.

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Rafael Japur, CFO da Gerdau (GGBR4), foi em uma linha parecida, falando sobre questões como os juros altos nos Estados Unidos e a insegurança jurídica vista no Brasil. O último ano da Gerdau também foi marcado por uma redução da dívida, com o número líquido saindo de R$ 6,4 bilhões em março de 2023 para R$ 5,1 bilhões no mesmo mês deste ano.

“A mudança tributária é um aspecto muito relevante da tomada de decisão quando a gente pensa em alocação de capital”, comentou. “A reforma [tributária] é bem-vinda, mas teremos um longo período de transição. Fora isso, queremos saber se quando ela sair, a gente vai seguir tendo novidades todas as semanas ou a gente não vai ter mais nenhuma novidade até 2032? Infelizmente, acho que este não será o caso”.

Insegurança pode levar investimentos para fora do país

Recentemente, alguns setores tiveram surpresas de um dia para o outro. A MP das compensações, instalada pelo governo na tentativa de aumentar sua arrecadação, por exemplo, foi criticada por tentar cortar benefícios que as companhias tinham, com impacto direto sobre os balanços financeiros. A Associação Brasileira das Companhias Abertas (Abrasca) já havia sinalizado que a mudança poderia gerar uma fuga de investimentos do Brasil. 

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A própria Gerdau, apesar de continuar “otimista e construtiva com o Brasil”, de acordo com o executivo, não descarta olhar mais para fora quando o assunto for novos investimentos — principalmente para os Estados Unidos, onde já tem plantas. “Os EUA tinham alíquotas maiores que o Brasil, mas hoje em dia a situação é absolutamente a contrária”, pondera. 

Por fim, o CFO da Cosan, Rodrigo Araújo, também defendeu que a empresa, agora, sofre pelo momento de volatilidade, principalmente no que tange as taxas de juros. 

“Sete meses atrás, a gente estava discutindo uma taxa terminal para a Selic de 8% ou 8,5%. Estávamos discutindo se o câmbio cairia além dos R$ 4,80. Passado sete meses, a discussão sobre o câmbio é se atingirá R$ 5,50 ou se chegará a R$ 6. Se a Selic terminal vai ser de 10,5% ou se ainda sobe para 10,75%”, expôs. 

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No caso da Cosan, com um grupo bastante diversificado, estamos falando de uma agenda de capex de mais de R$ 20 bilhões. Nessa patamar, qualquer 10 ou 20 pontos-base (de juros), para um lado ou para o outro impacta muito”, explicou Araujo.