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Os preços das commodities metálicas e das ações do segmento tiveram uma forte queda ao longo nas últimas semanas, com o sentimento impactado por temores de recessão global e uma perspectiva obscura em relação ao crescimento econômico chinês.
Para o Bradesco BBI, um fluxo de notícias conflitante têm pesado significativamente no sentimento dos investidores, com momentos de maior pessimismo sobre a demanda, enquanto em outros há recuperação com expectativa de estímulos no gigante asiático.
Com tamanha incerteza, no final da semana passada, o minério de ferro negociado na Bolsa de Dalian atingiu patamar abaixo de US$ 100 a tonelada, na mínima desde dezembro de 2021. Com esse cenário, companhias como Vale (VALE3) e siderúrgicas registram forte queda: no acumulado de julho, VALE3 tem perdas de cerca de 10%.
De forma a trazer luz sobre os principais tópicos que impactam o setor, o Bradesco BBI traçou um panorama sobre os últimos acontecimentos da China e as perspectivas para as commodities metálicas.
O banco ressalta que o governo chinês está sob crescente pressão para promover o crescimento econômico e aumentar a confiança da população em sua capacidade de fazê-lo, sem abrir mão de conter os casos de Covid-19.
Dito isso, os analistas do banco reiteraram a visão de que a atividade econômica e a demanda por metais na China devem
melhorar na segunda metade do ano, impulsionado por estímulos em diferentes frentes (infraestrutura, imobiliário, automóveis, disponibilidade geral de crédito), o que deve elevar os preços dos metais em relação aos níveis atuais.
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O Bradesco BBI destacou manter preferência por aço e alumínio versus minério de ferro e cobre, pois avalia que essas commodities terão uma dinâmica de oferta versus demanda mais apertada nos próximos meses. “Notamos, no entanto, que o caminho não deve ser linear, especialmente no curto prazo”, avaliam os analistas, que reiteram a Gerdau (GGBR4) como sua escolha preferida no setor.
Thiago Lofiego, Isabella Vasconcelos e Camilla Barder, analistas que assinam o relatório, não esperam que a China alivie sua política de Covid-zero, pois o foco permanece em evitar um contágio fora de controle.
“Como tal, devemos continuar a ver testes e restrições em massa nos próximos meses, especialmente com a variante BA.5 mais contagiosa ganhando mais relevância na China”, apontam. No entanto, após os picos de casos em março/abril e consequentes bloqueios muito estritos, avaliam que o governo chinês está tentando atingir um melhor equilíbrio para tornar a estratégia menos impactante para a população.
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Além disso, o governo chinês tem que fomentar a confiança. Apesar de todo o estímulo concedido nos últimos meses, a economia chinesa ainda não se recuperou, apontam. Uma das questões-chave é a confiança do consumidor, que permanece em níveis baixos. A pesquisa do segundo trimestre do Banco do Povo da China mostrou as expectativas das famílias chinesas em renda e emprego abaixo dos níveis observados na crise de 2015 e dos níveis observados após a primeira onda de Covid-19 em 2020.
Mais de 58,3% dos domicílios pesquisados estavam mais inclinados a poupar do que gastar ou investir, versus 42,4% no 1T22. “É provável que o governo chinês continue a anunciar estímulo fiscal e monetário na tentativa de fortalecer a economia e gerar empregos, mas uma variável importante a ser observada no curto prazo será a evolução da confiança do consumidor”, reforçam.
Enquanto isso, o setor imobiliário continua sendo uma das principais fontes de preocupação; mas o BBI avalia que o governo ainda tem espaço para estímulos direcionados.
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O setor (que responde por cerca de 35% da demanda chinesa por aço) tem sido uma das principais fontes de preocupação há quase um ano, com muitos dados para o setor seguindo muito fracos, enquanto a confiança dos compradores está abalada (notícias recentes apontaram para alguns compradores deixando de pagar hipotecas em projetos imobiliários inacabados até que os desenvolvedores retomem a construção).
Do lado mais positivo, junho registrou uma recuperação nas vendas de imóveis, uma vez que algumas restrições do Covid-19 foram aliviadas (ainda que acumule queda de 22,2% no acumulado do ano), enquanto a China vem implementando
medidas de estímulo direcionadas ( redução das taxas de hipotecas, governos locais com novos programas de subsídios para compra de casa) e com espaço para medidas adicionais (como redução total das taxas de hipoteca).
“Em suma, apesar de um abrandamento do setor (já consideramos uma queda de cerca de 20% na demanda de aço do setor em 2022), o governo chinês deve continuar a fazer uso das ferramentas disponíveis para evitar um pouso forçado antes de retornar a um caminho de desalavancagem”, avaliam.
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Infraestrutura em alta
Já para infraestrutura, a China tem falado abertamente sobre o fato de que vê os investimentos como uma alavanca para crescimento em 2022, com provável efeito para 2023. Os investimentos em infraestrutura na primeira metade do ano subiram 7,1% na base anual.
O governo acelerou a emissão de títulos do governo local para investimentos e deve vender mais 1,5 trilhões de yuans (US$ 220 bilhões) em títulos especiais na segunda metade do ano. Além disso, o principal órgão de planejamento econômico da China estaria pedindo às autoridades locais que agilizem a submissão de projetos e acelerem a construção sempre que possível (mesmo que agendada apenas para 2023).
A produção de escavadeiras começou a aumentar recentemente (alta de 50% em maio na comparação mensal), mas permanece mais fraca em relação a 2021 (queda de 40% ante maio de 2021). “Notamos que investir em nova infraestrutura (especialmente infraestrutura verde) também é de interesse estratégico, à medida que a China avança para cumprir suas metas de descarbonização”, apontam os analistas.
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Para o BBI, a indústria chinesa vem se recuperando em relação às baixas de abril e o banco espera que ela continue a subir. Em junho, a produção industrial cresceu 3,9% na base anual, após crescimento de 0,7% em maio, com melhorias em segmentos-chave.
O mercado automotivo, ressaltam os analistas, têm apresentado uma forte tendência de alta recentemente, com a produção de veículos subindo 30% na base mensal e 28% na anual em junho, para 2,5 milhões de unidades. A demanda também deve ser apoiada por estímulos governamentais (a China já cortou cerca de 7,1 bilhões de renminbis em impostos no primeiro mês de sua nova política de incentivos fiscais para o setor automobilístico).
Por outro lado, a demanda de exportação possivelmente ficará mais fraca com a desaceleração das economias globais, podendo pesar na recuperação.
“A demanda por aço continua fraca por enquanto (também impactada pela sazonalidade), mas esperamos uma melhora ao longo do segundo semestre de 2022 e primeira metade de 2023”, projeta o BBI.
A dinâmica dos preços do aço foi recentemente prejudicada pelo sentimento mais fraco do mercado em relação às perspectivas para o crescimento econômico chinês, uma vez que a demanda não aumentou significativamente em junho, impactada por condições climáticas (os meses de verão costumam levar a uma atividade de construção mais fraca e junho já registrou várias ondas de calor, que continuaram em julho).
Aço: perspectiva de recuperação
Atualmente, as margens do aço permanecem em território negativo, mas o BBI vê espaço para que os preços recuperem nos próximos meses, já que a produção provavelmente permanecerá estável/para baixo, enquanto a demanda se recupera.
Contudo, os riscos permanecem significativos se o crescimento continuar a defasar materialmente. “Se as medidas adotadas pelo governo não conseguirem estimular a confiança e o crescimento econômico nos próximos meses ou se os casos de Covid-19 aumentarem e novos bloqueios generalizados precisarem ser implementados, o sentimento e a demanda ainda mais fracos continuariam a pesar no mercado global preços das commodities e, consequentemente, nas ações do setor”, avaliam.
No entanto, se os dados começarem a melhorar, os analistas do BBI apontam que o sentimento do investidor pode mudar rapidamente, reduzindo os prêmios de risco e impulsionam os papéis.
Os analistas reforçam a Gerdau como a principal escolha no setor de mineração e siderurgia da América Latina, mas também possuem recomendação outperform (OP, desempenho acima da média do mercado, ou equivalente à compra) para outros papéis do setor, conforme quadro abaixo:
Vale em destaque
Pedro Acioli, analista de commodities da gestora Mantaro Capital, apontou para o InfoMoney um cenário cauteloso o minério de ferro.
“As medidas de desalavancagem impostas às imobiliárias pelo governo chinês foram o estopim para uma forte desaceleração do setor, com diversas incorporadoras enfrentando sérios problemas financeiros. As vendas de propriedades na China já caem mais de 20% no acumulado do ano enquanto que o início de obras caiu 30%. Esse cenário traz perspectivas negativas para a demanda por minério de ferro, visto que o setor imobiliário responde por 30% do consumo de aço na China”, avalia.
Esse cenário é relevante para a Vale, principal produtora de minério do Brasil, avalia. No micro da empresa, alguns pontos preocupam, segundo Acioli: a mineradora ainda não conseguiu retomar de forma relevante a sua capacidade produtiva de Minas Gerais pós-Brumadinho e agora também enfrenta problemas de licenciamento e qualidade mineral na operação de Carajás.
A desalavancagem operacional, a inflação generalizada de insumos e o aumento do frete aumentaram significativamente o custo de produção da Vale. Com o minério em alta dos últimos meses, essas ineficiências operacionais não ficaram em evidência nos últimos resultados da companhia, mas devem ir à luz, aponta.
A companhia divulga os seus números operacionais do segundo trimestre de 2022 nesta terça-feira (19), após o fechamento dos mercados.
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