Como o mercado deve reagir ao resultado mais apertado que o previsto no 1º turno da eleição?

Gestores e analistas ouvidos pelo InfoMoney acreditam que, no curto prazo, viés para Bolsa é de neutro a positivo

Mariana Segala Raquel Balarin

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O resultado mais apertado na votação à Presidência da República – em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) passaram ao segundo turno com uma diferença de votação pouco acima de 5 pontos percentuais – e algumas surpresas em Estados importantes devem ter efeitos no mercado acionário a partir desta segunda-feira (3), na avaliação de gestores e analistas ouvidos pelo InfoMoney.

“A primeira grande conclusão que se tira desses números é de que Lula, chegando ao segundo turno com uma margem mais apertada, precisará se direcionar mais ao centro do que imaginava. Lula ainda é o favorito, pois conquistou 48% dos votos, mas precisará suar a camisa”, diz Ivo Chermont, sócio e economista-chefe da gestora Quantitas.

Dois aspectos foram acompanhados de perto pelo mercado ao longo da campanha do primeiro turno, segundo Chermont: de um lado, quanto Bolsonaro estreitava a diferença para Lula nas pesquisas eleitorais; de outro, quanto ao centro o ex-presidente caminharia. “O mercado dá demonstrações claras de que prefere o Bolsonaro, mas topa se o Lula vier para o centro. E o primeiro turno indica as duas coisas, por isso acho que o mercado vai abrir bem nesta segunda-feira”, avalia.

Maurício Valadares, gestor da Nau Capital, ressalta que a tendência à direita na composição do Congresso Nacional também entrará nas contas do mercado. “A probabilidade maior é de o ex-presidente Lula ser eleito. Se isso acontecer, ele terá mais de dificuldade, tanto na Câmara quanto no Senado, para aprovar pautas extremas, o que pode ser bom para os ativos brasileiros”, diz. “Devemos ver negociações que levam as definições da pauta do Brasil para o centro”.

Na visão de Valadares, a margem estreita de votação entre os presidenciáveis e a composição do Legislativo não permitiram “nenhum tipo de radicalização” em um eventual governo Lula, o que deve levar o mercado a operar entre neutro e positivo nas próximas semanas até o segundo turno, especialmente considerando o prêmio de risco já existente nos ativos brasileiros.

Jeferson Bittencourt, economista da ASA Investments, concorda que a percepção de que a pauta econômica do atual governo tem mais chance de prevalecer deve beneficiar os mercados no curtíssimo prazo. “O Congresso também será mais alinhado com essa pauta e, por isso, se Lula se eleger, poderá moderar ímpetos estatistas. Isso tende a gerar um ambiente de mercado mais favorável”,  diz. “Mas se os dois candidatos descambarem para um leilão populista para ganhar a eleição, a leitura poderá ser ruim”.

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De maneira geral, Flávio Conde, analista da Levante Investimentos, acredita que é positiva – para a Bolsa e para o Brasil – a realização de um segundo turno na eleição à Presidência, e o ex-presidente Lula pode se mostrar mais aberto a fazer concessões pró-mercado. “Para conquistar os votos de parte do eleitorado que tem medo dele, a indicação de [Henrique] Meirelles seria sensacional. Se ele indicar que o Meirelles pode ser ministro, o mercado entra em lua de mel”.

Ao mesmo tempo, Conde acredita que o desempenho da Bolsa deve variar entre as ações. Em sua visão, setores que se beneficiaram com a perspectiva de um resultado mais favorável a Lula podem sofrer – caso do setor de educação, que vinha reagindo com a perspectiva de que um eventual governo petista voltasse a fortalecer programas como o ProUni e o Fies.

“Na segunda, com a indicação de que é possível que Bolsonaro reverta o quadro para o segundo turno, empresas como Cogna (COGN3) e Yduqs (YDUQ3), que subiram em setembro, podem sofrer um pouco”, diz.

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Ações de construção voltadas para baixa renda, como MRV (MRVE3) e Direcional (DIRR3), que também vinham reagindo à perspectiva de um resultado mais favorável a Lula, também merecem atenção. “Já Magalu (MGLU3) e empresas de atacado e supermercados, como Grupo Mateus ([GMAT3]), são papéis que reagem ao Auxílio Brasil, que deve ter continuidade com qualquer um dos dois candidatos. Mas nesse setor pesa muito a inflação e alta do juro”, afirmou Conde.

Como ficam as ações de estatais?

Entre as estatais estaduais, por exemplo, a votação expressiva de Tarcísio de Freitas (Republicanos), que vai disputar o segundo turno com Fernando Haddad (PT), deve ter um efeito positivo sobre Sabesp (SBSP3), cujas ações tiveram alta de 6,9% já na sexta-feira (30).

“Tarcísio é um privatizador, gosta de fazer concessões e saiu bem à frente de Haddad. A possibilidade de ele ganhar para o governo de São Paulo é muito boa para a Sabesp”, disse Conde. Na visão de Chermont, da Quantitas, é possível que a empresa de saneamento reflita mais os resultados do primeiro turno do que a própria Petrobras ([ativo=PETR3;PETR4]).

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Segundo Conde, é possível também que as ações de Cemig (CMIG4)e, principalmente, da Copasa (CSMG3), estatais de Minas Gerais, se beneficiem do resultado das eleições, a depender do quadro final da Assembleia Legislativa. “Agora talvez o governador [Romeu] Zema tenha uma bancada que o apoie”. Zema (Novo) foi reeleito em primeiro turno com mais de 56% dos votos.

O caso do Paraná é mais difícil de prever, porque há uma forte resistência popular à privatização das empresas estatais, na avaliação do analista da Levante. No estado, Ratinho Júnior (PSD) foi reeleito com perto de 70% dos votos.

Cobertura especial

Na segunda-feira, a cobertura do InfoMoney começa logo cedo, com uma edição especial do InfoMorning que vai trazer toda a repercussão dos resultados das eleições sob o comando do apresentador Henrique Esteter, que estará acompanhado dos editores de política Marcos Mortari e Anderson Figo, além da editora de investimentos Mariana Segala.

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Das 8h às 11h, a equipe vai entrevistar os principais nomes da política, da economia e dos mercados, trazendo tudo o que você precisa saber sobre o que aconteceu no domingo de eleições, como o mercado vai reagir aos resultados do pleito e quais são as perspectivas para o futuro. Acompanhe as análises.

Mariana Segala

Diretora de Redação do InfoMoney