Como o balanço da B3 (B3SA3) revela possíveis limitações da Bolsa no curto prazo

Dona da Bolsa reportou números fortes no segundo trimestre, mas negócios com ações à vista trazem preocupação

Leonardo Guimarães

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Os resultados da B3 (B3SA3), dona da Bolsa brasileira, animaram os investidores, levando os papéis da companhia ao seu melhor patamar de preços em cinco meses, ao se valorizar 11,2% entre a véspera do balanço – quinta passada – e o fechamento do pregão desta terça-feira (13), a R$ 12,64.

O desempenho positivo dos resultados da B3 no 2º trimestre foi puxado, sobretudo, pelos negócios com derivativos, entre outras linhas de produtos, que elevaram a receita, mostrando uma diversificação do faturamento da companhia.

Mas um detalhe do balanço chamou atenção: o volume financeiro médio diário negociado (ADTV, na sigla em inglês) em ações caiu 11,2% no 2º trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado.

Segundo o CFO da B3, André Milanez, o crescimento das demais linhas de negócios compensou o cenário “ainda desafiador” que a empresa enxerga para o mercado de ações à vista.

“Vale destacar também que a gente tem visto uma certa estabilidade no ADTV nos últimos seis meses, que vem oscilando ali na casa dos 24, 25 bilhões de reais”, disse ele, a analistas na última sexta-feira.

Em relatório, o Morgan Stanley avaliou que a administração da companhia “não vê catalisadores no curto prazo” que possam suportar volumes mais altos de ADTV, em relação aos níveis observados até agora em 2024.

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O que esperar para o mercado à vista?

Dessa forma, o que os números da B3 e as mensagens da administradora da Bolsa podem sinalizar sobre as perspectivas para o mercado de ações?

Primeiramente, a manutenção do volume tímido de negociações poderia colocar em dúvida a capacidade de performance da Bolsa no segundo semestre.

Afinal, com o volume atual de movimentações, dá para esperar uma alta relevante até o fim do ano? 

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Para Thiago Pedroso, responsável pela área de renda variável da Criteria, poderia sim. Mas há limitações.

Segundo ele, o cenário para o segundo semestre é positivo e “o fluxo não é um fator determinante para a Bolsa andar”.

“Nossos fundos ‘apanharam’ bastante e, se o investidor estrangeiro não sair (da bolsa brasileira) conseguimos segurar crescimento”, completa. 

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Ele lembra que os fundos multimercados e de ações tiveram muita captação no rally do fim de 2023, mas, logo em seguida, criou-se uma “tempestade perfeita”.

“O investidor não estava preparado para a volatilidade, tirou dinheiro dos fundos e aconteceu uma bola de neve, já que o institucional precisou liquidar posições para pagar os resgates”, explica. 

Agora, esses fundos não têm grandes posições em ações, mas uma retomada da confiança pode ajudar a Bolsa a andar, mesmo sem entrada relevante do investidor estrangeiro. 

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Para o gringo, portanto, os mercados mais arriscados, como o brasileiro, se tornam mais atraentes quando os EUA passam a pagar menos.

O Brasil, assim, pode ser o destino desse dinheiro porque tem Bolsa e câmbio baratos, fatores que podem fazer o fluxo aumentar, mas não de maneira tão relevante, explicam especialistas.

E depois de 2024?

De toda forma, o investidor ainda precisa se preocupar com o médio prazo. Conforme analistas, a Bolsa pode seguir barata mesmo batendo recorde.

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Logo, um rally de curto prazo pode ser suficiente apenas para uma correção técnica nos preços considerados baixos demais. 

“É preciso entender que o estrangeiro que investe no Brasil não é fundamentalista, a alocação é puramente técnica, vão aproveitar o preço baixo”, diz Pedroso. 

Fiscal ainda preocupa

O principal fator que faz do Brasil um mercado com fundamentos ruins para o estrangeiro é o risco fiscal, segundo o especialista da Criteria.

“Estamos aumentando os gastos e a dívida, se isso não for resolvido, só vai trazer volatilidade lá na frente; por mais que o cenário de curto prazo seja positivo, os gestores sabem que precisam tomar cuidado nas alocações mais longas”. 

Para Milton Rabelo, analista da VG Research, “a política fiscal expansionista do governo e, consequentemente, a necessidade de manter os juros em um patamar muito elevado tornam o ambiente macroeconômico muito pouco estimulante à negociação dos ativos de renda variável local”.

Victor Bueno, analista da Nord Investimentos, complementa que o cenário-base do mercado não é a resolução dos problemas fiscais no curto prazo, mas que sinalizações do governo na direção de corte de gastos possam ser feitas.

Isso, segundo ele, poderia destravar uma “reação favorável”, fazendo com que os investidores retomem a confiança na Bolsa brasileira, elevando os múltiplos para patamares mais próximos das médias históricas.