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A Bolsa chegou ao 12º pregão seguido de perdas superando uma até então antiga marca registrada em fevereiro de 1984, de 11 quedas consecutivas. Neste 2023, a Bolsa caiu após a divulgação da ata da última reunião do Banco Central dos EUA e mediante preocupações com a contaminação da fraqueza da economia da China sobre as empresas brasileiras.
Naquele longínquo fevereiro de 1984, as manchetes dos jornais davam conta das tentativas do governo federal de renegociar e ampliar os prazos da dívida interna, se debatia as Diretas Já e o presidente Figueiredo externava preocupações com a transferência da crise internacional para o país.
Na época, o jejum de ganhos na Bolsa não passou desapercebido pela imprensa. O jornal O Globo, de 9 de fevereiro de 1984, destacou em texto o fechamento do pregão paulista – nos anos 80, eram diversas bolsas espalhadas pelo Brasil, sendo a paulista e a carioca as principais.
Bovespa interrompe quedas – em 1984
“Interrompendo sequência de baixas que já se prolongava por 11 pregões, a Bolsa de Valores de São Paulo fechou com alta de 2,6%”, destacou O Globo. Naquela data, os “papéis de primeira linha” da Bolsa paulista subiram, em média, 1,6%, e os de “segunda linha” avançaram 2,3%.
A Folha de S.Paulo também não deixou de citar, reportando que “muitos investidores puderam respirar aliviados após as tensões” dos últimos pregões. No entanto, reforçou que, para os operadores, “o mercado terá que vencer alguns obstáculos antes de se firmar novamente”.
Além disso, a Folha pontuou que, “quem comprou títulos durante a fase de queda, poderá ser tentado a vender e realizar lucros na primeira oportunidade, já que o mercado tem operado com fraca liquidez, devido à ausência de investidores institucionais”.
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Assim como hoje em dia, eram as “blue chips” Vale e Petrobras que dominavam o mercado. Ainda chamando-se Vale do Rio Doce, a mineradora avançou 4,3% e a petroleira ganhou 2%. Na Bolsa paulista, a Petrobras representou o maior volume do mercado à vista, com fatia de 26%; Vale R Doce teve 2,2%.
Representando as ações de “segunda linha”, puxaram os ganhos as ações de Engesa – empresa que era ligada ao setor petrolífero – com alta de 36%, seguida pela Paranapanema, avançando 20%, após anunciar dados de produção. Hoje a Paranapanema está em recuperação judicial, mas na época tinha contratos com a Vale.
Das 113 ações negociadas no índice Bovespa (sem o ‘I’ na época), 32 subiram, 25 caíram, 28 ficaram estáveis e 17 não foram negociadas, naquela sessão de “recuperação” após onze quedas.
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Entre as altas, destaque para Refripar (+26,2%), Ferro Ligas (+18%), Varig (+16%), Telesp (+16%) e Pirelli (+11%). Nas quedas, Ipiranga cedeu 23%; Siderúrgica Rio Grandense, 17%; Copasa, 9%; Suzano, 5,5%, Duratex, 5,5% e Bradesco, 5,5%.
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Bolsa do Rio
Na Bolsa do Rio, de fevereiro de 1984, assim como na de São Paulo, houve ganhos, de 1,4%, após “vários dias em baixa”. Na sessão o que “aliviou” os operadores foi a “rolagem de contratos a futuro de fevereiro para abril”. Como relatou O Globo, quem tinha “posição em aberto” poderia transferir para abril ou vender no mercado à vista.
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“Como havia 700 milhões de ações da Vale do Rio Doce em aberto, temia-se que boa parte delas fosse desovada à vista, o que acentuaria mais a queda do mercado. Mas isso não ocorreu, com a Vale negociando apenas 40,5 milhões de ações à vista, mas sem vinculação com o mercado futuro, pois o papel mostrou maior recuperação”, escreveu o diário carioca.
A preocupação relatada pelo jornal, entre os operadores, era a de se repetisse o comportamento dos pregões anteriores, “quando especuladores do mercado a termo de São Paulo vinham vender ações à vista no Rio para fazer caixa para cobrir reforços de margem”.
Assim, a Bolsa do Rio fechou com ganhos, tendo Petrobras, Vale do Rio Doce, Banco do Brasil e Acesita entre as mais negociadas.
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As maiores altas ficaram com Banespa (+6,2%), Mesbla (+3,5%), Mannesmann (+1,1%), Telerj (+0,4%) e Lojas Americanas (+0,3%). Maiores baixas foram de Ferro Brasileiro (-27,7%), Petrobras (-17,8%), Ipiranga (-12%) e Samitri (-10,1%).
Quais eram as principais ações negociadas em 1984 na Bolsa?
Tradição nas páginas dos jornais até os primeiros anos deste século, o InfoMoney analisou as páginas de cotações dos impressos para identificar quais papéis se destacam ainda no mercado depois de quase 40 anos.
No grupo das maiores empresas, estão – até hoje – “blue chips” da Bolsa como Vale (VALE3), Petrobras (PETR3;PETR4), Banco do Brasil (BBAS3), Bradesco (BBDC3;BBDC4), Itaú (ITUB3;ITUB4); e Itaúsa (ITSA4).
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Uma das ‘blue chips’ nos anos 80 era a Telebras (TELB4), que chegou a ter participação de 50% no principal índice da Bolsa de São Paulo, mas perdeu relevância durante o processo de privatização do setor de telefonia, nos anos 90, mas segue listada até hoje.
Aliás, as privatizações de telefonia retiraram ações muito negociadas nas décadas passadas, como da Telerj e da Telesp – hoje Telefônica Vivo (VIVT3).
O mesmo ocorreu com bancos, que deixaram o mercado, entre eles Bamerindus, Banerj, Banespa, Banco Nacional e Banco Econômico. No caso do Banespa, ele deu origem às operações no Brasil do Santander (SANB11).
Destacava-se na época e seguem até hoje companhias como Lojas Americanas (AMER3), CSN (CSNA3), Alpargatas (ALPA4), Marcopolo (POMO4), Klabin (KLBN11), Suzano (SUZB3) e Lojas Renner (LREN3).
Outras seguem na Bolsa, mas sem frequentar o Ibovespa, tais como Unipar (UNIP6); Paranapanema (PMAM3); Ferbasa (FESA4); Indústrias Romi (ROMI3); Grazziotin (CGRA4); Iochpe, atual Iochpe-Maxion (MYPK3); Metal Leve, hoje MAHLE-Metal Leve (LEVE3); e Cesp, agora Auren (AURE3).
Fusões e aquisições
Também existiam papéis de empresas relevantes que foram adquiridos, como a Cia Hering, hoje pertencente ao Grupo Soma (SOMA3).
Enquanto isso, outros foram fundidos, tais como no caso da Brahma e da Antártica, que se uniram na Ambev (ABEV3), em uma operação muito polêmica pela concentração no mercado de cervejas, que gerou na época. Outra, nem tão menos ruidosa, foi a da Sadia e da Perdigão, criando a BRF (BRFS3).
Já Ipiranga foi comprada por Petrobras (PETR4), Braskem (BRKM5) e Grupo Ultrapar (UGPA3), com este último controlando atualmente.
Fora da Bolsa ou fechadas
Ao longo deste tempo, outras empresas relevantes também foram saindo da Bolsa, como Acesita, White Martins, Sharp, Samitri e Souza Cruz.
Há também os casos de empresas emblemáticas que foram à bancarrota, como Varig, Transbrasil, Lojas Mesbla, entre muitas outras.
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