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SÃO PAULO – Quando um investidor resolve comprar a ação de uma empresa, parece claro saber o que ele tem em mente: fazer um bom negócio. Mas, afinal, o que significa fazer das ações uma boa alternativa de investimento? E quais são as estratégias mais utilizadas pelas empresas para valorizar o investidor, agregando valor aos seus acionistas?
Ao comprar a ação de uma empresa, o investidor se torna sócio dessa instituição, pode participar das decisões da companhia (caso tenha ações ordinárias, com direito a voto) e obter dividendos. Desse modo, o investidor, ao operar nesse mercado, está diretamente interessado em saber como a companhia está seguindo, qual o desempenho de seu mercado e como ela está atuando nele. Se as suas decisões se mostram bem-sucedidas, o investidor tem muito a ganhar com esse investimento.
Logo, quando se compra as ações de uma companhia, espera-se que ela irá vender mais, obter maiores lucros, que vai ter assim um futuro promissor, gerando um maior retorno sobre o investimento através da venda de seus produtos no mercado. Assim, ao agregar valor aos acionistas, as companhias esperam que o investidor tenha segurança no projeto em que ele está se colocando, obtendo rentabilidade.
Nesse contexto, a empresa pode se beneficiar muito ao obter um bom relacionamento com os seus acionistas, afirma o professor da Trevisan Escola de Negócios, Roberto Gonzalez, comunicando aos seus “sócios” os caminhos que a empresa está seguindo e até possíveis desvios de rota. “A companhia ganha em todos os sentidos, pois ela irá ter maior reputação frente ao mercado. Além disso, quando ela lançar qualquer título no mercado para a captação de recursos, ela obterá uma melhor precificação sobre esse ativo devido ao fato de ela procurar agregar valor aos acionistas ao longo dos anos”, avalia.
Já para o professor de finanças da Fipecafi (Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras ), Marcos Amigo, a apresentação de bons resultados pela companhia é essencial para que ela agregue valor aos acionistas, já que conseguirá assim melhores condições de financiamento, melhorando a sua saúde financeira.
“Do ponto de vista do acionista essa empresa agrega valor e, desse modo, a carteira do investidor ganha valor. Ambos ganham, pois, o interesse para o investidor é que seu investimento cresça. Já para o ponto de vista do management, gerar bons resultados não é só a confirmação de uma proposta de desenvolvimento de trabalho, mas também de desenvolvimento de carreira própria, reconhecimento de mercado e, possivelmente, melhores condições de remuneração”, diz Amigo.
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Para Amigo, ambos os lados saem ganhando deste processo. “É um ciclo meio fechado, cada um tem suas pontas e o benefício é comum. Para o acionista é aumento de patrimônio. Com o aumento na composição do patrimônio da empresa, há a compensação com o aumento da riqueza desse investidor”, avalia.
Melhores estratégias
Um bom planejamento, um Comitê em conformidade com assuntos das empresas e um corpo de executivos bem alinhado ao Conselho de Administração, implementando e realizando as práticas da empresa também são fatores importantes para agregar valor aos acionistas. “Um corpo de executivos em linha com o Conselho de Administração, implementando e realizando as práticas definidas pelo último é fundamental para a agregação de valor”, afirma Gonzalez.
A transparência na divulgação dos dados da companhia e as suas metas de negócio são importantes, pois visam reduzir a chamada assimetria informacional, quando uma das partes envolvidas no negócio detém informações inferiores ao da outra ponta de negociação – o que no caso, seriam os acionistas. Isso é o que afirma o professor da IBMEC, Eduardo Coutinho. “À medida que a informação clara e de qualidade chega, o investidor abre espaço para precificar melhor as decisões da empresa. Isso pode fazer com que as ações se valorizem em função da boa gestão da empresa”, avalia.
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Informações durante a crise aumentam confiança
Como as empresas devem agir num momento como o atual, em que vivemos um processo de crise, quando os investidores se sentem mais inseguros sobre o mercado em geral,e principalmente, sobre as perspectivas para a empresa?
Os especialistas avaliam que omitir informações aos seus investidores nunca é uma boa estratégia, principalmente num momento crítico. Esse deve ser sim um momento de informar aos investidores sobre os novos rumos da empresa, comunicar cancelamentos de projetos. Transparência na informação é fundamental, fidelizando e integrando o investidor ao negócio da companhia, mesmo que essas notícias não sejam positivas. “Esse é o grande momento, pois é o instante em que a empresa não pode se fechar em copas”, afirma Gonzalez.
Nos momentos de crise, o alerta deve ser redobrado, afirma Amigo, já que existe uma expectativa maior em ter informações sobre a empresa. “Porém, todos os momentos são importantes para divulgar resultados e tornar transparente a situação da empresa para o acionista”, avalia.
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Recompra de ações pode apontar boa oportunidade
A estratégia de recompra de ações visa sinalizar ao mercado a crença de que o preço dos papéis não reflete os seus fundamentos econômicos. Desse modo, ela opta por adquirir parte dos seus recursos para cancelamento ou para manter as ações em tesouraria. Essa estratégia pode ser benéfica para os investidores, afirmam os especialistas.
Segundo Eduardo Coutinho, a questão da recompra está relacionada à estratégia de financiamento da empresa. O programa de recompra de ações pode ajustar o volume ofertado no mercado e assim gerar impacto sobre o valor da empresa num cenário em que há pouca liquidez nos papéis, em que a oferta está menor do que a demanda.
“A recompra é uma oportunidade à medida em que a empresa pode comprar as ações a um preço menor do que elas foram colocadas anteriormente”, avalia. Porém, Coutinho pondera, um programa de recompra de ações geralmente ocorre em um contexto em que o mercado está em baixa. “É como uma oportunidade de redução da base acionária e capitalização dos acionistas para reduzir a base acionária a um preço menor.”
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Novo Mercado dá maiores garantias aos investidores
A entrada de uma companhia no Novo Mercado da BM&F Bovespa também pode levar a uma agregação maior de valor aos acionistas da empresa, devido às maiores garantias que elas passam a dar para o investidor, afirmam os especialistas.
O Novo Mercado é um sistema de listagem para negociação das ações da companhia que apresentem o compromisso de mostrar maiores práticas de governança corporativa em relação ao que é exigido pela legislação. Nesse sistema, o capital deve ser composto exclusivamente por ações ordinárias. Já no caso de venda do controle, todos os acionistas minoritários podem vender as suas ações com tag along de 100%, ou seja, pelo mesmo preço.
Outras regras incluem a divulgação mais detalhada dos dados financeiros da empresa, assim como uma parcela de 20% de conselheiros independentes em um Conselho de Administração composto por no mínimo cinco membros, além de outras. Segundo Gonzalez, a entrada no Novo Mercado é sem dúvida uma ferramenta importante para aumentar o valor das ações já que o investidor se sente mais seguro ao investidor devido à maior transparência nas relações.
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Já Amigo acredita que o Novo Mercado é um fator a mais. Porém, ele não é crucial. “Uma empresa pode não fazer parte desse sistema de listagem, mas pode ser bem vista pelo mercado e apresentar bons fundamentos, apresentando assim um bom grau de valorização aos acionistas”, afirma.
Proteção ao acionista minoritário
Várias práticas podem ser realizadas pelas companhias para evitar que ocorra um overhang, ou seja, uma diluição do preço das ações devido ao excesso de oferta no mercado. Essa diluição pode ocorrer, por exemplo, quando a companhia anuncia uma grande venda de ações. Assim, os acionistas minoritários acabam sendo prejudicados, pois o excesso de papéis leva a uma diminuição do valor desses no mercado acionário.
Para evitar que os acionistas minoritários percam valor, as empresas podem criar cláusulas dificultando a concentração de capital, impedindo a diluição e gerando mais equidade para todos os investidores, afirma Gonzalez. Outras medidas para aumentar a igualdade entre os acionistas se baseiam em dar mais peso às decisões dos acionistas minoritários, a partir dos votos cumulativos, para que os minoritários concentrem o seu direito de voto. Isso balancearia, assim, o poder dos majoritários, aponta Amigo.
O professor ressalta que, entre as alternativas de proteção ao acionista, incluem-se as medidas de tag-along, de modo a evitar uma preferência de subscrição dos ativos para o acionista majoritário. O tag along estende a todos os acionistas minoritários as mesmas condições obtidas pelos controladores quando da venda do controle. Desse modo, esses investidores teriam condições mais seguras em caso de mudanças e novas operações realizadas pela empresa. “As práticas de proteção significam equalizar o tratamento para os diferentes acionistas”, avalia.