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Com a recente visão, cada vez mais majoritária no mercado, de que a Selic, a taxa básica de juros brasileira, terminará 2024 ainda na faixa dos dígitos, o ânimo dos investidores com a Bolsa brasileira vem minguando.
Isso tudo começou desde que o Copom anunciou uma redução no ritmo de afrouxamento monetário, ao fazer um corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, para 10,50% ao ano, após seis quedas consecutivas de 0,50 ponto na taxa.
Além disso, também foi abandonada a indicação para passos futuros da política monetária. O que sinaliza que o BC não tem mais compromissos com cortes, assim como vinha ocorrendo nas últimas decisões do comitê.
Por que a Selic deve se manter dois dígitos?
Em grande parte, o que motivou a mudança de posição do BC brasileiro foram as revisões das perspectivas de cortes de juros nos Estados Unidos, após indicadores macroeconômicos mais fortes por lá. No mais, dados mais fortes no Brasil também têm acendido um sinal de alerta nos diretores da instituição.
Na ata da reunião do Copom, foi mostrado que apesar de certa divergência entre os diretores (o que chegou a levantar temores de que o BC, no próximo ano, será menos ortodoxo), há um tom de maior cautela.
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Depois da publicação do documento, entretanto, uma série de gestoras passaram a revisar suas projeções para a Selic no final do ano.
O Santander Asset Management Brasil, por exemplo, mudou sua projeção para a taxa Selic ao final de 2024 de 9,5% para 10,25%.
Enquanto o Itaú também passou a ver a Selic fechando o ano a 10,25%, ante projeção anterior de 9,75%.
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Já o JP Morgan avalia que o ciclo de queda da Selic em 2024 foi encerrado na reunião de semana passada, em 10,5%.
Lado econômico e fluxo
Marcel Andrade, head de fundo de fundos da SulAmérica Investimentos, explica que uma Selic mais alta enfraquece a visão com a Bolsa por conta do menor fluxo para a renda variável.
“A migração de fluxo de recursos dos investidores para ativos de risco possivelmente vai acontecer em um ritmo mais lento. É difícil em um ambiente de taxas de juros reais acima de 6% ao ano observarmos uma maior alocação em ativos de risco por parte dos investidores, mesmo em um ambiente de valuations aparentemente atrativos”, diz.
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Fora isso, ele também menciona que os valuations tendem a ficar menos atraentes por conta dos menores faturamentos, já que crédito mais caro inibe o consumo de forma geral, e maiores custos financeiros, com as dívidas continuando mais caras por conta das taxas maiores.
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Ruy Alves, gestor da Kinea, menciona que já esperava, até mesmo antes da situação virar nos Estados Unidos, uma Selic terminal mais alta do que o mercado. A casa está um tanto cética com a Bolsa brasileira, a despeito de uma mudança mais forte nos juros no Brasil ou no exterior, preferindo tirar parte do capital do país.
Para ele, a mudança das expectativas quanto ao nível da Selic praticamente só acompanhou o que se vê nos Estados Unidos — porém, a visão é de que o juro real no Brasil fica em patamares muito elevados.
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A visão da casa, além do mais, é de que atualmente a economia brasileira está performando bem, o que não justificaria taxas em patamares menos restritivos.
“De qualquer forma, a Bolsa brasileira está muito difícil. Tivemos desalocação de multimercados, que continua. A pessoa física sofreu e também está fora. A Bolsa brasileira está muito à mercê do estrangeiro. O fluxo nacional está pequeno e a Selic mais alta deve manter isso”, contextualiza Alves.
Bolsa até o final do ano
Para o curto prazo, até o final do ano, os especialistas não enxergam o cenário mudando tanto. Se o Fed cortar juros, será apenas um “ajuste fino”, que não deve trazer tanto fluxo de fora do país para o Brasil.
“Vai depender, mais do que a questão do Fed, se o Brasil irá ajudar. Temos o fiscal mal, temos a questão da Petrobras (PETR4), a divisão no Copom. Veremos algumas oportunidades, mas não será um guarda-chuva aberto”.
Essas visões geraram uma série de revisão das projeções para o Ibovespa.
O Santander, por exemplo, vê agora o Ibovespa fechando o ano nos 145 mil pontos, contra 160 mil anteriormente.
Já o Bank of America citou, em relatório recente, uma preferência pelas chamadas “bond proxies”, ou seja, ações que não são tão impactadas por taxas de juros mais altas.